Qualidade garantida desde o plantio até a prateleira do supermercado. É com este objetivo que se estão desenvolvendo e aperfeiçoando alternativas para produção de uvas, sucos, vinhos e espumantes. Além de obedecer a uma série de normativas exigidas por lei, vinícolas, produtores e entidades trabalham em conjunto para oferecer técnicas, ferramentas e programas de gestão que garantam produtos mais seguros para o consumidor, bem como melhores resultados quantitativos e qualitativos em todas as fases da produção.

Uma prova dessa nova momento da vitivinicultura pôde ser observada na terça-feira, 4 de dezembro, na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, durante o “1º Seminário do PAS – Uva para Processamento”, quando 171 produtores rurais e representantes de dez vinícolas gaúchas receberam o certificado de capacitação do Programa Alimentos Seguros (PAS), além de assistir palestras e trocar experiências experiência sobre tópicos como rastreabilidade, legislação e normas de produção integrada. Para a assessora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Viviane Zanella, essa é uma prova de o quanto os produtores locais estão preocupados em se atualizar e entregar produtos de maior qualidade.

Capacitação e as boas práticas no campo

Desenvolvido pelo Ibravin e Sebrae com apoio do Senai – RS, Embrapa Uva e Vinho e com execução do Senar – RS, o PAS, como explica a gestora de projetos de agronegócios do Sebrae, Angélica Louvani Inácio Brandalise, é um programa de capacitação para produção de alimentos que atendam demandas exigidas por legislação, e que reduzam os riscos de contaminação do produtor, do trabalhador e do meio ambiente, garantindo também a elaboração de alimentos e bebidas mais saudáveis para o consumidor final. “Ele visa qualificar a cadeia da vitivinicultura desde o produtor até a vinícola, trabalhando princípios de manejos de boas práticas agrícolas no vinhedo e enológicas para a elaboração dos produtos, garantindo, por fim, segurança ao consumidor”, assinala.

Produtores rurais gaúchos recebem certificado de capacitação (Foto: Embrapa, Divulgação)

Conforme a assessora do Ibravin, Camila Ruzzarin, o programa auxilia na compreensão e aplicação das exigências da legislação, qualificando o produtor. “Por lei há exigências que vão de encontro às boas práticas no campo, e na elaboração é preciso atender uma série de exigências para vender o produto. Isso possibilita que o consumidor compre produtos com menos riscos, menos contaminações de pragas e defensivos agrícolas. É um atestado de que o produto é seguro”, assinala.

Os participantes que receberam o certificado no Seminário foram capacitados nos módulos de Boas Práticas Agrícolas (BPA), com duração de 52 horas, e da Elaboração (BPE), com 72 horas, no ciclo 2017-2018. As empresas participantes também recebem orientações e acompanhamento para aplicação da normativa nº5 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que determina boas práticas na elaboração de bebidas e vinagres e derivados da uva e do vinho.

Desde a implantação das primeiras turmas, em 2014, mais de 800 viticultores e 100 empresas foram capacitadas no Rio Grande do Sul. Atualmente, no ciclo 2018-2019, mais de 200 viticultores gaúchos estão participando do programa. Além das capacitações, também são feitas reauditorias e atualizações para que àqueles que participaram de edições mais antigas possam se atualizara quanto às novas exigências da legislação e novidades do mercado.

A tecnologia como aliada dos produtores rurais

Unir a tecnologia às atividades do campo é uma tendência iminente. Após uma pesquisa realizada com mais de 4.000 produtores em todo o Brasil, o Sebrae detectou que os gaúchos são os que mais utilizam o aparelho para lazer (98,5%), no entanto, os que menos utilizam as ferramentas digitais para a gestão dos próprios negócios (17%). Os números e a complexidade da rastreabilidade exigida por lei levaram ao desenvolvimento de um projeto piloto, que desde junho deste ano, conta com a participação de 25 produtores e cinco vinícolas gaúchas. Nomeado “Programa de Aperfeiçoamento Tecnológico e Rastreabilidade Digital na Vitivinicultura”, ele auxilia no monitoramento e na gestão de todas as ações da produção de uvas e vinhos.

Programa piloto do Sebrae auxilia no processo de rastreabilidade (Foto: Fábio Becker)

De acordo com o assessor do Sebrae, Jerônimo Silvello, a ferramenta funciona basicamente como um caderno de anotações digital que armazena os dados diários, além de apresentar alternativas precisas para aprimorar o processo produtivo. “O foco é que o produtor consiga, a partir do programa e do aplicativo do celular, fazer um monitoramento para aperfeiçoar recursos, saber a hora certa de colocar o adubo, de fazer a colheita, entre outros”, avalia.

Para ele, além de minimizar erros e agilizar processos, os resultados positivos já podem ser observados também nos custos produtivos. “O desperdício de material é evidente. Entre outras coisas, o aplicativo incorpora dados de climatologia e vai fazendo cálculos e a partir disso e do acompanhamento de engenheiro agrônomo, vai se tornado mais preciso, indicando o momento certo de iniciar cada fase da produção”, explica.

Enólogo de uma das vinícolas que aderiram ao programa piloto, Daniel de Paris, opina que a ferramenta fornece resultados positivos não só para os produtores e para as vinícolas, mas também ao consumidor. “Para nossa vinícola o aplicativo possibilita um melhor controle da gestão de produção, aos consumidores isso gera uma segurança alimentar, pois se sabe que o produto obedeceu a uma série de parâmetros de qualidade”, finaliza.

 

 CNA lança o seu “Caderno digital de campo”

Se a rastreabilidade, feita no papel ou de modo online, de uvas para processamento já era estabelecida por lei, a Instrução Normativa 2/2018, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, publicada em fevereiro, tornou obrigatório a identificação de cada lote de hortifruti que sai das propriedades aos mercados para consumo in natura. Desta forma, o varejista poderá rever todo o caminho do produto que vai consumir, tendo acesso de todas as etapas que interligam o carrinho de compras à lavoura.

Foi pensando em facilitar esse processo para o produtor que ainda precisa se adaptar a nova normativa que, em paralelo à palestra que ministrou no “1º Seminário do PAS” na Embrapa, José Eduardo Brandão Costa, diretor da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), anunciou o lançamento do aplicativo Agritrance. “Já fizemos toda a fase piloto, e hoje (dia 4 de dezembro) lançamos no site da CNA para cadastramento. Com o aplicativo o produtor poderá fazer todo o registro de campo de forma rápida e online. Ao final, será gerada uma etiqueta de código de barras, identificando o produto e todos os processos que ele passou desde a produção, além do nome do produtor, o endereço da propriedade e tudo o mais que garanta a segurança do consumidor e a qualidade do produto par ao varejista”, explica.

Para Costa a rastreabilidade vem atender um novo momento de consciência mundial, onde os consumidores estão mais atentos à segurança e qualidade do que consomem. “A partir da normativa tornando obrigatória a rastreabilidade, e sabendo que a fiscalização já está acontecendo desde agosto, os pequenos produtores passaram a entender a importância de fazer esse registro, e isso vai ”, pontua.

Carlos Frederico Dias de Alencar Ribeiro, um dos desenvolvedores do Agritrance, explica que os produtores interessados já podem fazer o cadastramento, mas que o aplicativo só deve ser em janeiro. “Em um primeiro momento a adesão será gratuita. O produtor terá 30 dias grátis para ver se o software se adequa as suas necessidades, depois disso vai ser cobrado uma mensalidade de R$20 por mês”, finaliza.