A menina rica que habita em mim e enche os carrinhos de websites e deixa expirar saúda a menina idosa que só pensa nas águas termais do final de semana que habita em você.


É maluco pensar que dentro da gente, existem muitos de nós. O eu calculista, o esportista, o blogueiro, o estranho. Quando está prestes a consumar uma mania sua, escondido das pessoas, não sente que quem está fazendo aquilo é um alienígena troglodita sem consciência, e não você? Não importa se não é o local ou o momento adequado, você dá um jeito. Como quando vai roer a unha e tem gente por perto, rapidamente coloca a mão na boca, tenta fazer rápido o bastante para não dar tempo de olharem, mas também devagar o bastante para sentir prazer; tudo isso olhando sorrateiramente, de baixo para cima, para saber se está sendo vigiado. E quando percebe que sim, tira a mão da boca, limpa a saliva entre os dedos e engata um assunto qualquer, tentando sem sucesso retirar a atenção daquele momento desnecessário.


A paciência é uma ferramenta poderosíssima e ajuda a criar os seres que habitam em nós. Como quando você precisa ter paciência com pessoas que não passaram na fila da noção quando nasceram. Garanto que nesse momento, Fragmentado passa vergonha. Enquanto você precisa exercitar sua empatia e isso precisa estar estampado na sua cara, dentro de você acordaram o psicopata, o assassino, o torturador, o quebrador de coisas e o atirador de elite. Às vezes, em menos de 15 minutos você mata e esconde o corpo da pessoa de várias formas diferentes. Mas uma dica valiosa: isso dá rugas e gastrite, então, melhor trabalhar para que esses seres procurem outro lugar para morar.


Esses seres vivem todos aqui dentro. É um pouco psicopata falar isso, mas é como em um filme, onde o mocinho faz algo muito ruim e vira o vilão. Mas o que as pessoas não entendem, é que não somos bons ou maus. Somos (deveríamos) essencialmente bons, mas fazemos coisas por motivos totalmente particulares, que – para os olhos alheios, podem ser más. Fazemos coisas que é totalmente compreensível para algumas pessoas, enquanto outras repudiariam. Ou ainda, a ação foi resultado de um momento de tensão, onde não temos controle nenhum sobre nossa reação, e que pode simplesmente não ter nada a ver com nosso caráter, porque somos seres humanos. Não estou defendendo nenhuma brutalidade, mas você nunca se pegou fazendo algo que você achava que nunca faria, e não sentiu um pingo de remorso?


A filosofia do taoismo prega que não existe nenhuma verdade absoluta, e sim, dualidade de tudo que existe no Universo. Por isso, aconselho a fazer as pazes com os seres que habitam em vocês. Assumam eles. Assim, quem sabe, os que não deveriam estar ali, sigam seu caminho.