Calma, eu gosto dos detalhes, em geral – e tenho astigmatismo também. Então o que eu decido e consigo observar pode não ser nada muito padrão.
Queria ter uma vida estilo cinematográfica às vezes (às vezes foi sutil). Nos filmes ninguém pega trânsito e fica passando 86 músicas do pen drive para escutar as mesmas 8 de sempre. Não queria estar chegando em casa, apertada para ir ao banheiro e ter que abrir dois portões, estacionar, pegar as sacolas, chamar o elevador, conseguir abrir a porta com as mãos ocupadas e segurar o impulso de jogar tudo no chão antes de poder, finalmente, fazer xixi.


Na vida cinematográfica ninguém come, o icônico café da manhã americano deve cheirar tão bem, mas é só sentar na cadeira que todo o mundo decide que está atrasado. O jantar cheio de aspargos, cortes nobres de carnes nobres e torta de blueberry é esquecida quando o assunto indelicado chega à mesa. Leva o guardanapo à boca para limpar absolutamente nada, joga-o em cima da mesa e corre para o quarto.

  • Perdi a fome.
    Não sofro disso.

Queria não precisa estudar, só ir à escola às vezes para resolver os assuntos da turma mesmo. Alunos de 17 anos calçando Louboutins às 9 da manhã, espionando e correndo atrás de serial killer que nem a polícia consegue prender. Mais alguém nota que em alguns filmes as personagens acordam e em 2 minutos estão indo jantar? Não tem trânsito. Estacionamento é abundante. Não precisa malhar, nem dormir. Escovar os dentes na frente do espelho é normalmente para refletir sobre algo ou para levar um susto clichê em filmes de suspense.


A vida seria mais prática sem esses detalhes. Não precisaria gastar dinheiro no mercado, nem gangrenar os braços carregando as compras escada acima. Duas viagens? Nunca!


Nem guardar, nem cozinhar, nem lavar a louça. Aliás, a louça só se fosse como nos filmes também, pode ser QUALQUER cardápio, só tem 3 pratos grandes e ainda sempre tem um galã que ajuda a secar. Não precisa esfregar fogão. Não precisa ir ao dentista. Em época de crise as famílias só pensam que podem perder a casa. Aquelas mansões de 3 quartos e 4 banheiros, em bairros nobres e seguros, 100% hipotecadas. A gente fica com medo de perder a casa, o carro, luz, internet, cartão de crédito e até o celular que foi parcelado no carnê em 24 vezes. E financiamento? Só com 30% de entrada.


Os cabelos das mocinhas estão sempre impecáveis, pode estar chovendo horrores que ninguém se molha. Serão só 2 ou 3 pingos no casaco, que logo é retirado, porque dentro das casas nos filmes ( e em outros países, admito) NÃO É FRIO.


Não tem fila nem ansiedade. As cenas tensas duram apenas alguns segundos. E eu aqui sonhando, estrelar um longa metragem qualquer, usando o botão avançar para ser poupada dos detalhes. Um ansiolítico, por favor.