Então, por algum motivo qualquer maximizado pelo abismo entre gerações, o homem perde a compostura à moda antiga, e o carinha fica puto da vida, do jeito bem atual. O conflito verbal ganha proporções temerárias, com a linguagem de cada um marcando as fronteiras.

         -Deixa de ser paspalho, guri! Só um mentecapto é capaz de seguir um calhorda que dissemina asneiras por trás de um computador.

         -Qual é a treta de hoje, “vovô”? Tá pegando no pé do youtuber de novo? Sai da minha aba, véi!   

         -No alto dos meus… da minha experiência, vejo um purgantezinho irreverente  e narcisista que fica o tempo todo alienado no celular. 

         -Arrrrg… Tu pediu pra nascer chato e a natureza exagerou. Na boa, vacilão, vira essa metralhadora de bosta pra outro lado.

         -Meu Santo Cristo! Que linguajar é esse? Você é obtuso mesmo. Nem os pronomes consegue usar corretamente. Por que não aproveita o tempo com uma boa leitura? Conhece “Iracema”, a “Virgem dos Lábios de Mel”?

         -kkk! As gata de hoje são descoladas, mano!

         -Estou falando do livro de José de Alencar, babaca…

         -Sério?! Tu tá sugerindo “livro”? De papel e tudo? Que coisa mais antiga, parça! Eu leio mensagem o dia todo e pesquiso no Google. Até encaro textão de uma tela inteira… se a coisa interessa…

         -E qual é o seu interesse, misólogo?

         -Bom, não sei dizer assim de cabeça… tenho que pensar… tipo… tipo música… Isso! Música me interessa.

         -E que gênero de música você aprecia?  

         -Eu curto Rap, Trap, Real Trap, No Melody… e pop, tipo a Anitta. Sabia que ela é top do Spotify?

         -Misericórdia! Onde foi parar nossa última Flor do Lácio?

-Tá falando do Pablo Vittar?

-Olavo Bilac se reviraria no túmulo se ouvisse tamanho disparate… Estou falando da Língua Portuguesa, a última filha do Latim.

-Tô nem aí pra filha do Latino! O cara é um tremendo mané! Deve estar ainda fazendo festa no apê.

         -Bom, nisso tenho de concordar com você…

         -Uau!

         -Inclusive acho que fui muito duro. Ultrapassei os limites da boa educação. Devo-lhe desculpas.

         -Tá…

         -Só isso? Você virou monossilábico?   

         -Quê?

         -Acabou seu vocabulário? Não tem mais nada para dizer? Você é um neandertal da era moderna?

         -Na boa! Tô ligado aqui numa mina. Não corta meu barato…

         -Por que você não vai até lá, pega nos cabelos dela e a puxa para a sua caverna?

         -Não viaja, maluco! Isso daria cadeia. Ufa! O pé-no-saco zarpou.  “Hashtag bundão”.