Já pensou, prezadíssimo leitor e estimadíssima leitora, se todos dissessem:
– Não, isso não é comigo.
– Não sei e não faço nenhuma questão de saber.
– Não vem que não tem.
– Não conte comigo.
– Não me pergunte nada que eu não respondo.
– Não me procure que eu me escondo.
– Não vi e não gostei.
– Não me peça que não empresto.
– Não me convide que não vou de jeito nenhum.
Se todos cruzarmos os braços, o nosso futuro e o das próximas gerações vai se desmanchando até se tornar um futuro praticamente irreconhecível.
Pessoas mudas nada mudam.
O melhor do futuro está dentro de nós mesmos.
Todos temos talento para fazer acontecer. O talento é como uma estrela que se não for lustrado com uma certa frequência perde o brilho. Ninguém pode dizer que não tem talento sequer para amarrar a chuteria do Pedrinho ou para apontar o lápis do Luis Fernando Veríssimo.
Não podemos esperar que a água do mar ferva para comer peixe frito. Não podemos assistir a tanta sem-vergonhice contra nossos direitos de cidadãos, com bocejos dignos de um hipopótamo entediado. Não podemos ficar esperando para ver como é que fica.
É claro que não podemos ser como aqueles pianistas de filme de caubói nos salões de faroeste, tocando para ninguém, ouvindo conversa fiada, vendo revólveres e confusão de tempos em tempos, pedindo: nos deixem em paz que não temos nada a ver com isso.
Não podemos deixar que se instale em algum lugar do nosso cérebro aquele sentido de conformidade diante da TV com tela de 40 e tantas polegadas, torcendo pelo bandido e achar que os heróis são indestrutíveis.
Não podemos esperar que o mundo nos dê oportunidades se corremos até dos menores riscos.
Não podemos aceitar tudo com expressões do tipo: “Isso é assim mesmo”.
A musiquinha do Fantástico que prenuncia desumanamente a segunda-feira não deve servir de desculpa para anestesiar nossa vontade de mudar as coisas que vão mal.
O nome do diabo é alienação. O outro nome é acomodação.
Por incrível que pareça, fazer acontecer é mais importante para a felicidade do que saber o porquê das coisas. Agir é o que faz a vida valer a pena de ser vivida
É preciso aplaudir e apoiar as iniciativas que busquem mais transparência, menos desigualdade e mais justiça, porém, também é preciso fechar os punhos e romper em palavras de ordem contra as grandes mazelas, indiferença, corrupção e arrogância de nossos representantes políticos em todas as esferas.
Mesmo que soe pedante, não custa repetir que ética é o que fazemos quando outras pessoas estão olhando e caratér é o que fazemos quando ninguém está olhando.
Espero que entenda quando digo que se aceitarmos tudo sem pestanejar, o futuro poderá quebrar na emenda.
Enfrentar os problemas de frente e encará-las pelo que realmente são é o grande segredo da vida.
Apesar de como um velho chavão, é preciso ter em mente que não é possível protestarmos para sempre, mas devemos protestar sempre que possível e necessário.