Após o trágico impacto das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, uma onda de solidariedade emerge no município. Com mais de 10 pontos de coleta de doações, a comunidade local se mobiliza para auxiliar aqueles que mais precisam

O mês de maio vai ficar marcado na história do Rio Grande do Sul. Mais de 850 mil pessoas foram atingidas pelas fortes chuvas que assolaram a região, deixando milhões sem casas, possuindo somente a roupa do corpo. Não somente pelas histórias de tragédias, mas sim, das de heróis e heroínas que arriscaram suas vidas para ajudar o próximo.

Ao todo, 397 dos 496 municípios do Rio Grande do Sul foram afetados pelas enchentes. Até a manhã da segunda-feira, 6 de maio, o número de mortos em razão dos temporais era de 83. De acordo com o boletim divulgado pela Defesa Civil são investigadas outras quatro mortes. Além disso, há 111 desaparecidos e 276 pessoas feridas.

Ainda conforme o levantamento da Defesa Civil, há 141,3 mil pessoas fora de casa, sendo 19,3 mil em abrigos e 121,9 mil desalojadas (nas casas de familiares ou amigos).

Devido a grave catástrofe que assolou o estado, o país e o mundo se solidarizaram com o sofrimento gaúcho. Sendo enviadas toneladas de alimento, roupas, colchões e itens de higiene além de milhões de reais arrecadados em vaquinhas. E o povo gaúcho, que mesmo perdendo tudo, tirou do pouco que restou e doou para quem nada tem, seja prestando ajuda comunitária ou através de doações.
Bento Gonçalves foi um dos municípios atingidos pelas fortes chuvas, trazendo inundações e deslizamentos de terra. Mas os bento-gonçalvenses se uniram e estão fazendo o seu melhor para ajudar o próximo.

A cidade conta com mais de 10 pontos de coleta de doação, com a principal sendo na sede do IFRS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul) onde alunos e voluntários recolhem materiais e destinam a quem mais precisa. As doações são recebidas das 12h às 19h quase todos os dias. Os itens necessários variam conforme a urgência.

A Prefeitura de Bento Gonçalves solicitou na manhã da terça-feira, 7 de maio, a doação de remédios pediátricos para as crianças vítimas das enchentes. As doações devem ser realizadas no Campus da Universidade de Caxias do Sul, localizado na Alameda João Dal Sasso, 800, bairro Universitário.
Segundo a farmacêutica Ana Paula Fontoura, as doações podem ser realizadas tanto por pessoas físicas quanto jurídicas e são destinadas à prefeituras da região, conforme demandas. “Estamos em uma equipe composta basicamente só por farmacêuticos realizando a triagem dos medicamentos que chegam. Também pedimos às pessoas que não venham pedir doação. As doações estão sendo enviadas diretamente para as prefeituras”, conta.

Encerramento das doações para Bento

Na segunda-feira, 6 de maio, após um expressivo apoio comunitário, a Prefeitura de Bento Gonçalves anunciou, que está temporariamente suspendendo o recebimento de doações de suprimentos para as vítimas das recentes adversidades climáticas que assolaram o município. Mas entidades ainda continuam a arrecadação para outras cidades afetadas.

O grande volume de doações, incluindo alimentos, roupas e outros itens essenciais, levou as equipes municipais a solicitar o encerramento momentâneo das contribuições.

A secretária de Finanças, Elisiane Schenatto, expressou sua gratidão pela solidariedade da população, destacando a imensa generosidade de todos que contribuíram. “Agradecemos profundamente a todos que se mobilizaram para ajudar. No momento, pedimos que as doações sejam encerradas, pois já recebemos uma quantidade significativa de itens. Estamos também recebendo doações de outros estados, que serão direcionadas para as áreas mais necessitadas. Continuaremos atualizando a população conforme necessário”, afirma.

Todos os suprimentos doados até o momento foram encaminhados para o Salão da Comunidade de Faria Lemos, onde estão sendo distribuídos para as famílias afetadas pela tragédia. O local tem servido como centro de acolhimento e assistência às vítimas, proporcionando ajuda humanitária em meio à crise.
Todos os suprimentos passam por uma minuciosa triagem. As roupas, são selecionadas por categorias de tamanho e sexo; com os alimentos são feitas cestas básicas; os produtos de higiene são embalados em caixas e os calçados são separados por tamanho. Colchões, utensílios do lar, e água são direcionados para quem necessita.

Rodrigo Monteiro e Jonatas Martins coordenam o centro de doações

O coordenador de toda a força tarefa no IFRS, Rodrigo Monteiro, ficou muito satisfeito com o engajamento da população em auxiliar as vítimas das enchentes. “O engajamento da população nos surpreendeu muito, temos bastante voluntários auxiliando, mais de 100 pessoas já nos ajudaram. Só peço para continuar assim, para as pessoas terem fôlego para o restante da semana, pois vai ter muito trabalho. Quero agradecer, a toda a nossa comunidade aqui do Instituto Federal, a população em geral, que tem respondido bastante para atender estas pessoas que estão desabrigadas”, revela.

Todos os mantimentos que chegaram no campus, além de serem destinados para atender a população da região são enviados para outras localidades como: Santa Tereza; Muçum; Roca Sales; Estrela; Bom Retiro e Cruzeiro, podendo atender outras conforme a necessidade do município. “A gente está buscando atender os municípios vizinhos que nos procuram. Como está acontecendo muitas doações, não conseguimos fazer um controle de quanto entrou e quanto saiu, mas acredito que arrecadamos milhares de donativos. Inclusive a destinação dos suprimentos em sua maioria feita por voluntários, que com caminhonetes, carros 4×4, caminhões, estão vindo fazer a coleta e levam para lá”, conta Monteiro.

No meio da destruição boas pessoas surgem para ajudar

Os materiais arrecadados foi destinados ao almoxarifado central da Prefeitura para o armazenamento, enquanto os trabalhos continuam no campus. O ginásio é dividido em vários setores com diversas pessoas encarregadas do seu objetivo. Cada um assume a responsabilidade de fazer a separação de diversos produtos.

Marina Cardoso, de 27 anos, estudou no IFRS e agora voltou à entidade para coordenar as atividades dos voluntários. “Uma das maiores motivações para vir aqui ajudar, é porque sei que não podemos auxiliar todo mundo, mas sempre podemos amparar alguém. Então, o meu trabalho vai ser essencial para levar um pouquinho de conforto a essas pessoas que tiveram grandes perdas”, destaca.

Lorenza Anderle, de 16 anos, está ajudando ativamente a causa, ela realiza o processo de triagem junto com outros voluntários, separando os sapatos por tamanho e sexo. “É muito importante a doação de calçados, muitos esquecem e priorizam roupas e alimentos, que também têm sua importância. Por isso, se conseguirem doar sapatos de diversos tamanhos e idades é de grande ajuda. Pois mesmo não salvando uma vida conseguimos ajudar muitos com as doações”, diz

Vitor Goulart, é barbeiro e tem somente a segunda-feira de folga e vendo todo o sofrimento ao seu redor, decidiu que seu dia de descanso ia ser destinado para ajudar quem precisa. “Estou atuando no descarregamento e carregamento dos donativos nos caminhões, como sou alto me colocaram nesta função. Fico muito feliz em poder ajudar, pois o pouco que faço pode impactar na vida de muitas pessoas”, expressa.

Thais Mota, de 39 anos, é uma das responsáveis pela parte da montagem das cestas básicas que serão entregues aos necessitados. “Brincamos que estamos montando cestas não tão básicas, pois contam com muitos alimentos bons como doces e achocolatados. Isso é muito bom, pois podemos dar um pouco de conforto”, relata.

Raquel Meneguzzo Sanseverino, de 62 anos, é enfermeira aposentada e se disponibilizou para atuar na linha de frente no amparo aos feridos e necessitados. Enquanto a convocação não chega, ela resolveu ajudar, trabalhando na triagem das doações. “Estou aqui cortando roupas que não servem, que estão estragadas, para fazer panos de prato e chão. Pois infelizmente, existem muitas pessoas que não têm noção e acabam doando roupas que não são de uso, que estão muito rasgadas, mas serão reaproveitadas de alguma forma”, expõe.

Fernando Ávila, cedeu seu restaurante para a preparação de marmitas

Fernando Ávila, é dono de uma hamburgueria de Bento Gonçalves. O empreendedor quer pela influência do seu estabelecimento, ajudar a incentivar as pessoas a se voluntariam. “A gente, por ser uma hamburgueria com grande influência, queremos inspirar mais pessoas também a estar participando aqui, engrandecendo todo este trabalho”. Ávila também disponibilizou seu estabelecimento para que fosse m preparadas marmitas. “Estamos cedendo a nossa cozinha para voluntários que quiserem ir lá fazer comida, marmita, sanduíche. Não estamos cobrando nada por isso, tanto os insumos quanto todo o processo operacional é por conta nossa”, conclui.

Famosos ajudam a causa

Além de pontos de doações de suprimentos, existem diversos PIX abertos para que quem não consegue doar insumos, possa doar alguma quantia.
Um dos nomes que mais destaca-se e o humorista Eduardo Gustavo Christ, conhecido como Badin, o Colono, que lidera o evento intitulado “A Maior Campanha Solidária do RS“, uma iniciativa que já acumulou mais de R$ 44,2 milhões em doações até a terça-feira, 7 de maio.
Por meio de suas redes sociais, Badin tem compartilhado informações sobre as ações realizadas com o dinheiro arrecadado, prestando contas transparentes sobre as compras efetuadas e mostrando o trabalho voluntário realizado no interior do estado. Seus vídeos e postagens têm inspirado milhares de pessoas a se engajar nessa causa humanitária, promovendo uma corrente de solidariedade e esperança em meio à adversidade.