Moradores de cidades da Serra Gaúcha se assustaram na madrugada do dia 13 de maio com estrondos e abalos sísmicos. Especialistas asseguram que fenômenos são normais e que não trazem perigo à população

Desde o final de abril, o Rio Grande do Sul vem enfrentando fortes chuvas que já deixaram 151 pessoas mortas e outras 104 desaparecidas, de acordo com dados da Defesa Civil do estado divulgados na quinta-feira, 16 de maio.

Além das tempestades, a região registra também outros eventos climáticos, como tremores de terra, ondas de frio e até tornado, como o que atingiu a zona rural da cidade de Gentil, no último sábado, 11.

Susto na Serra

Tremores de terra foram registrados nos municípios de Pinto Bandeira, Bento Gonçalves e Caxias do Sul na madrugada da segunda-feira, 13 de maio, com impactos que variam de 2,3 a 2,4 na escala Richter. Estes são considerados eventos de baixa magnitude, e a Defesa Civil descartou riscos à população.

O Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul recebeu mais de 200 ligações entre 3h e 4h da manhã, mas nenhuma interdição foi necessária ou danos estruturais foram constatados, segundo a corporação. O primeiro dos quatro tremores na Serra foi registrado pelos sismógrafos da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade de São Paulo (USP) à 1h48min com magnitude de 2,4 e com epicentro em Bento Gonçalves. O segundo se deu às 2h37min com magnitude de 2,3 em Pinto Bandeira. O terceiro, por sua vez, ocorreu em Caxias do Sul às 2h58min com magnitude de 2,8, seguido por outro abalo com a mesma magnitude cinco minutos depois.

De acordo com Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da USP, é provável que os terremotos sentidos sejam naturais, pois a região em que aconteceram é bastante propícia para ocorrência destes fenômenos. Desde 2014, a Serra Gaúcha registrou cerca de 27 tremores de terra.

Entretanto, abalos sísmicos como esses não são inéditos na região. Os relatos mais antigos datam de 1970, na cidade de Caxias do Sul. Na primeira década dos anos 2000, houve o maior número de ocorrências na área, com aproximadamente 10 episódios relatados em cidades como Nova Prata, Cotiporã, Nova Roma do Sul e Ipê.

A MetSul afirmou que o ocorrido não foi um terremoto convencional. “Trata-se de acomodação do solo pelo excesso de chuva. Quando chove demais, tais abalos de baixa magnitude ocorrem na Serra. Houve dois episódios em 2023”, explica. O excesso de chuva nas últimas semanas pode causar a aceleração dessas acomodações devido à lubrificação causada pela água que penetra pelo solo.

Esses eventos aumentaram a preocupação de que o excesso de umidade no solo pudesse estar desencadeando movimentações tectônicas, embora isso seja raro.

Collaço explica que eventos desse tipo não têm poder de destruição e que os moradores podem ficar tranquilos. “Até agora não detectamos nenhum grande deslizamento de terra nas proximidades de onde foi sentido. De qualquer forma, são necessários estudos aprofundados para afirmar com precisão as causas desses sismos”, esclarece o geólogo. Ele afirma que não há como saber se os terremotos irão diminuir após as chuvas no Rio Grande do Sul, já que fenômenos desse tipo são imprevisíveis.

O professor do Observatório Sismológico da UnB, Lucas Vieira Barros, reforça que o Estado está predisposto a apresentar fenômenos como esse e menciona que em 2022, 2020, 2018 e 2015 houve situações semelhantes em Caxias do Sul. Ele explica que, se está havendo sismos, é porque há falhas geológicas ativas se movendo ao longo dos anos.

Trabalho em equipe

Diante de tantos acontecimentos e tragédias naturais, Bento Gonçalves tomou uma medida proativa para lidar com os desastres naturais. No domingo, 11, foi estabelecido o Núcleo de Riscos Geológicos da cidade, com o objetivo de fornecer uma estrutura organizada para enfrentar eventos climáticos extremos e mitigar seus impactos.

O grupo é composto por profissionais capacitados, incluindo geólogos, engenheiros geotécnicos e representantes de instituições especializadas. Representantes da Geo Rio e Defesa Civil do Rio de Janeiro, bem como do CREA de Minas Gerais, se juntaram ao grupo para oferecer sua experiência e conhecimento técnico.

Conforme as informações repassadas pela prefeitura de Bento Gonçalves, o trabalho do núcleo deve ser direcionado nos próximos dias às análises detalhadas das áreas afetadas e identificando medidas preventivas para evitar futuros desastres. A equipe do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB) também acompanha os trabalhos.

Segundo prefeito municipal, Diogo Segabinazzi Siqueira, a força tarefa de geologia que está aumentando cada vez mais. “Estamos buscando a expertise de todo o Brasil para auxiliar. Teremos um conhecimento gigantesco que vai auxiliar na segurança da nossa população e região”, destaca a autoridade.