No coração das águas turvas, onde as margens se misturam com os sonhos e as esperanças de um povo resiliente, ergue-se Muçum. Terra de origens profundas, onde as raízes se entrelaçam com as águas revoltas que, por vezes, tentam submergir os alicerces de nossos lares. É aqui, entre as águas e as lembranças, que cada um de nós encontra sua história entrelaçada com a bravura de uma cidade que teima em não se render.

Em cada olhar marcado pelo horizonte, em cada ruga esculpida pela dor das enchentes, reside a determinação de um povo que se nega a desistir. Recentemente, por quatro vezes fomos desafiados pelas águas vorazes do Taquari que, como sentinelas implacáveis, ceifaram vidas e deixaram cicatrizes profundas em nossas almas. Mas, mesmo assim, erguemo-nos, ainda que com as pernas trêmulas e os corações apertados.

É fácil perder-se no lamento, na descrença que insiste em ecoar pelos vales de Muçum. Mas onde há vida, há esperança. E é essa esperança que nos guia, que nos impele a permanecer, a resistir, a reconstruir. É hora de nos darmos as mãos, de deixarmos de lado as diferenças que nos separam e nos unirmos na certeza de que juntos somos mais fortes.

Não importa se apoiamos ou não a prefeitura. Não importa se somos amigos, inimigos ou simplesmente estranhos. O que importa é que somos todos filhos de Muçum, e é aqui, neste solo sagrado, que encontramos nossa força e nossa resiliência.

Lembramos das noites de setembro e novembro do ano passado, das lágrimas derramadas, dos sonhos dilacerados. Lembramos das águas implacáveis que nos fizeram questionar o próprio sentido da vida. Mas também lembramos da solidariedade que brotou do barro, do calor humano que nos aqueceu nas noites mais frias.

E agora, em maio deste ano, enfrentamos mais uma provação. Mais uma vez somos testados, mais uma vez somos desafiados. Mas olhamos para o horizonte e enxergamos além das águas revoltas. Enxergamos a possibilidade de um novo começo, de uma nova Princesa das Pontes, erguida com suor, lágrimas e esperança.

Eu, Ranieri, filho desta terra, que precisei partir em busca de sustento, carrego Muçum no peito como uma chama que nunca se apaga. Jamais abandonarei a cidade que me viu crescer, que me moldou e me ensinou o verdadeiro significado da resiliência. Com todos os meus defeitos, com todas as minhas falhas, sinto um orgulho imenso em dizer que sou de Muçum.

Que cada um de nós carregue no peito o fogo sagrado da esperança. Que cada um de nós se lembre, nos momentos mais sombrios, que somos feitos da mesma matéria das estrelas, e que, como elas, somos capazes de brilhar mesmo nas noites mais escuras. Acreditemos em Muçum. Acreditemos na força de seu povo. Acreditemos na capacidade de recomeçar, quantas vezes for necessário. Pois, no final das contas, é isso que nos faz verdadeiramente humanos.