A técnica, considerada também uma das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), auxilia no tratamento de diversos tipos de dores

Reconhecida em 1990 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a auriculoterapia funciona como terapia de microssistema para promoção e manutenção da saúde no tratamento de diversas enfermidades. A técnica utiliza o pavilhão auricular para restabelecer o equilíbrio energético e promover saúde e qualidade de vida. Considerada como parte integrante da medicina tradicional chinesa, é útil também para diagnosticar e tratar disfunções de origem orgânica, nervosa ou somática pautadas em diferentes racionalidades em saúde.

De acordo com a enfermeira, coordenadora do Núcleo Municipal de Educação em Saúde Coletiva, da Secretaria de Saúde de Bento Gonçalves (NUMESC-BG), docente e coordenadora do curso de Bacharelado em Enfermagem do Uniftec BG, Núbia Beche Lopes, ao ser aplicada, é necessário ter um diálogo entre profissional e paciente com o objetivo de ajudá-lo a lembrar de situações e fatos que podem estar relacionados a sua doença. “Após, realiza-se a inspeção e palpação, para posteriormente utilizar as esferas que podem ser sementes, cristais, ouro, prata ou agulhas, onde o especialista analisa os pontos que irá utilizar para cada sessão. De modo geral, quando algum meridiano é obstruído e a circulação do sangue e da energia perde seu fluxo, aparecem pontos dolorosos na orelha, como uma reação reflexa do local”, afirma.

Para aplicar a auriculoterapia não é necessário ser profissional de saúde, mas é um diferencial, pois a categoria possui conhecimento prévio em anatomia. “Pessoas capacitadas e certificadas com cursos podem exercer a técnica. Eu, por exemplo, estudo intensivamente desde 2018, tenho mais de oito cursos, incluindo Pós Graduação em Auriculoterapia e Acupuntura. Participo de diversos grupos de estudos, diariamente, e a cada dia descubro novidades nesta área de grande expansão”, revela a enfermeira.

A técnica, considerada também uma das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), é benéfica para várias situações e auxilia no tratamento de dores em qualquer lugar do corpo, seja antiga ou recente. “Para enxaqueca temos resultados maravilhosos, reduzindo falta ao trabalho e atestados. Muitas pesquisas demonstram benefícios físicos e emocionais em condições crônicas como dores osteoarticulares, ansiedade, estresse, tabagismo, tensão pré-menstrual, insônia, constipação, enxaqueca, fibromialgia, entre outras”, lista.

Segundo Núbia, embora muitas PICS sejam técnicas milenares, só recentemente elas ganharam expressividade no Brasil, depois da implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. “São recursos aliados no cuidado integral à saúde e podem estar inseridos na atenção básica e especializada, nas escolas e creches, instituições sociais, empresas e nas comunidades em geral”, completa.

Especialização

O desejo de Núbia por aprender e aplicar a técnica começou em 2018, quando o Ministério de Saúde ofertou um curso em Auriculoterapia, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aos profissionais que trabalhavam no Sistema Único de Saúde (SUS). “Na época, meu marido estava internado e não consegui ir fazer as quatro horas práticas em Santa Maria, então mergulhei em cursos online intensivos naqueles 28 dias que fiquei com ele no hospital, desde então nunca mais parei de estudar e aplicar. Tenho casos que acompanho em domicilio com resultados excelentes em Bento Gonçalves e Porto Alegre”, conta.

Conforme a profissional, os desafios da enfermagem frente à especialidade são grandes. “Hoje, como coordenadora e docente de uma universidade, pretendemos iniciar a oferta de cursos de formação em Auriculoterapia, pois junto aos alunos, já estamos oferecendo muito esse serviço a comunidade e não conseguimos dar conta de tantos pedidos dos municípios vizinhos”, frisa.

Além disso, ela destaca que os enfermeiros são a categoria que mais tem profissionais capacitados e realizando a técnica. “Logo, é uma área com grande expansão e oportunidades para o enfermeiro montar seu consultório, sua clínica e realizar essa prática. Vejo meus colegas de profissão com um futuro maravilhoso utilizando essa terapia ou outras PICS para ampliar sua função principal, que é o cuidar do paciente, amenizando muitos sofrimentos físicos e mentais”, completa.

Destaque

Em 2018, Núbia e sua colega Priscila Bisognin, montaram o Projeto do Ambulatório da Auriculoterapia e levaram para aprovação no Conselho Municipal de Saúde (CMS). Com isso, atendiam dois turnos por semana, onde 50% era para funcionários da saúde e 50% para pacientes do município. “Ficou fechado durante pandemia e com o tempo estimulamos mais profissionais a se capacitarem para ampliar a oferta de técnica e outras PICs pelo SUS. Em 2022 ficamos em segundo lugar de todas as cidades gaúchas no quesito número de sessões aplicadas na rede pública e no 50º lugar do país, o que nos orgulha muito”, valoriza.

Paciente satisfeita

Em sua terceira sessão de Auriculoterapia na Unidade Básica de Saúde (UBS) no Maria Goretti, Alycia Milani, 42 anos, já vê ótimos resultados. “Para mim está sendo ótimo, pois eu tinha muita dor na perna esquerda e agora ela aliviou. Outro aspecto que consegui superar foi a ânsia por comer, principalmente doce, conseguindo eliminar 3,5kg esta semana”, afirma.

Simpósio da Serra Gaúcha em PICs

Tema: Atualização em Prática Integrativa Complementar
Local: Auditório do Uniftec Unidade 2 (rua Travessa Santo Antonio, 179, bairro Cidade Alta)
Quando: 27 e 28 de abril

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Fotos: Divulgação