Dentro de mim correm muitos rios e em você quantos correm?
Tem rios profundos, outros rasos. Rios extensos, outros curtinhos. Rios calmos, outros traiçoeiros.
O rio mais límpido é o da simplicidade. Suas águas transparentes correm com um sorriso nos lábios.
Tem um rio que talvez também corra dentro de você também. É um rio com águas profundas e turvas que é o da melancolia. Aqui e acolá, dança em tristes redemoinhos.
Tem um rio que segue o curso da história da minha vida e corre em mim desde sempre. Chamo a esse rio de esperança. Ele nunca seca, ainda que castigado por estiagens severas. Não importa, o rio da esperança persiste, insiste e nunca desiste, mesmo estando por um fio.
Existem muitos outros rios no meu existir.
Tem o rio da liberdade que não esconde suas fontes e é a minha verdade absoluta.
Tem um rio que no início era indomável como um cavalo selvagem. Descia em louca disparada pelos grandes vales da juventude, esperneando e saltando as pedras. Aos poucos, foi perdendo aquele ímpeto inicial e, agora, quase não salta e nem brande o chicote. Esse rio é o do desejo.
Não sei se corre em você também, mas tem um um rio que tem o mau costume de entrar com botas e tudo na minha casa quando muito chove. Refiro-me a ele como o rio da ousadia.
O rio mais extenso é o rio do amor em cujo fundo há tesouros escondidos que somente o amor permite descobrir.
Nasce não sei aonde, atravessa desertos, cerrados, matas densas e deságua na palma da minha mão.
Tem um rio que é um dos mais importantes de todos os rios e atende por tolerância. Tolera sacos e garrafas plásticas, agressões e ataques de toda a ordem.
Todos os rios que correm dentro de mim tem um nome.
Todos surgem de pequenas nascentes e crescem recolhendo filetes de água.
Tem um rio que abraça todos os outros rios é que se chama amizade. Muitas vezes, esse rio se desvia do próprio curso para visitar os amigos próximos e até mesmo os distantes.
Tem um rio que está praticamente seco e expõe seus doze pares de costelas da caixa toráxica. É o rio da raiva. Ele é capaz de causar naufrágios aos menos avisados.
Tem um rio que serpenteia um monte de vales. É o rio da inquietude. Ele percorre seu caminho de cobra em busca de respostas para as minhas dúvidas existenciais.
E tem um rio cujas águas fluem tão calmas que parecem paradas no movimento. Chamo a esse rio de Paz.
De todos os rios, tem um que não tem como apagar ou afogar, pois é o rio da memória. Suas águas quentes e de cor do ouro envelhecido, insistem em carregar lembranças pelo presente adentro. Muitas vezes, o rio da memória enche meus olhos de água salgada.
Tem um rio que é o espelho da minha alma e me escreve. Refiro-me ao rio da criatividade que se precipita por um leito de pedras polidas e enormes como as luas de saturno.
Tem um rio dentro de mim cujo curso é quase todo vertical. O nome desse rio é ansiedade e costuma gritar espremido por mãos de pedra.
E, é claro, existem rios clandestinos que correm sem a minha permissão. O rio da inveja, da ansiedade, da angústia, do desprezo, do pessimismo e outros.
De todos os rios, o mais importante é um rio de águas vivas é que se chama fé.
Todos os rios desaguam no grande oceano da vida.
Quem pode parar os rios que correm dentro de mim e de você?