A sociedade de Bento Gonçalves é formada por ícones que se destacam não somente de forma local, mas também regional e, por que não dizer, estadual. Um destes ícones, sem sombra de dúvidas, é a professora Marlove Santana dos Santos. Nascida em Passo Fundo, Marlove chegou em Bento Gonçalves aos sete anos. Filha de militar do Exército, cresceu no entorno do quartel, uma vez que a família mudou-se para a cidade, pois o pai foi transferido para trabalhar no antigo Batalhão Ferroviário. Mas foi na área central que Marlove se encontrou, já que sempre gostou de festas e badalações. Aqui fez grandes amigos, constituiu família, vivenciou todas as etapas de sua vida profissional, das quais recorda com muito orgulho e afirma: “Se passei por decepções, nem percebi!”.

A Vila Militar

Morar na Vila Militar era como se fosse uma família só. Todos se conheciam e se comunicavam. Eram muito mais do que amigos. O apoio e o auxílio eram mútuos. Era tempo de ver o cartaz para saber qual filme iria passar no cinema naquele fim de semana. Era época de assistir ao jogo de futebol no Campo do Serrano, único iluminado na cidade. Nem o do Esportivo tinha iluminação. Era tempo dos bailes e reuniões dançantes na quadra de futebol de salão. Outra coisa que jamais deixávamos de fazer era assistir aos desfiles e formaturas militares.

Tempos de juventude

Minha juventude foi vivida no entorno do Batalhão, mas já com um bom entrosamento com os jovens da área central, uma vez que eram meus colegas de aula. Na época, participava muito de reuniões dançantes, cinema, desfiles cívicos com Concurso de Bandas. Sempre gostei muito de dançar. Tudo era muito lindo e animador. Época dos piqueniques. Tínhamos muitas opções sociais. Estávamos sempre em movimento, sempre badalando e curtindo a vida com tranquilidade e segurança.

Os jovens hoje

A juventude atualmente é diferenciada – e diferente. Nasceram na época da informática, da tecnologia, e nós, no meu caso, nascemos na época da bolinha de gude e de pular corda. São tempos extremamente diversos. Nós tínhamos o contato com pessoas reais. Hoje o contato é virtual. Se é melhor ou pior, não posso julgar, mas creio que a falta da convivência real possa ocasionar reflexos a longo prazo. Me refiro às gerações futuras.

Beleza estonteante

Na minha época não víamos a beleza pela estética como é vista hoje, mas sempre nos arrumávamos e nos cuidávamos para ter uma boa aparência. Desconhecíamos recursos como silicone, botox, cirurgias plásticas. Nossa beleza era pura (risos). Eu, particularmente, lidava com isso com naturalidade, assim como creio que faziam as demais jovens do meu círculo de amizades.

A vida no magistério

Minha trajetória sempre foi desafiadora. Comecei no chão da escola, como se diz, com as séries iniciais, e cheguei à direção das escolas com realidades diferentes: estadual e municipal. Quando estava quase chegando ao término do ciclo educacional, recebi um convite para ministrar aulas de língua portuguesa na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Esse foi o meu maior desafio na carreira, mas enfrentei e obtive muito sucesso. Uma grande realização profissional! Nesse período concluí meu doutorado em Línguas Modernas, realizado na Universidade El Salvador, em Buenos Aires.
Como sempre mantive vínculo com o social, com pessoas ligadas à cultura, cursei Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Na época, já tinha uma coluna social voltada para os destaques desta área em nossa cidade, em vários jornais, inclusive, fiz o meu estágio de jornalismo neste tradicional e muito especial “Jornal Semanário”. Nota-se, portanto, que minha trajetória profissional foi recheada de satisfação. Decepções, não tive, ou nem percebi.

Entre suas realizações como presidente do aristocrático Aliança, ela cita a reformulação do evento de abertura da temporada de piscinas

Ontem e hoje – o melhor e o pior socialmente

Antigamente, a vida social era mais intensa, era mais vivida. Hoje, parece mais interesseira, mais egoísta. Cada qual por si. Um exemplo disso é o carnaval dos clubes, que não existe mais. Como sou, até hoje, apaixonada por carnaval, carrego muita tristeza pelo término dos tradicionais bailes nos clubes sociais de nossa cidade. Eram festas lindas, ordeiras. Não víamos a hora de exibir nossas fantasias, de participar dos concursos. As marchinhas eram fantásticas, tanto que até hoje, mesmo com a inexistência dos bailes, não foram esquecidas e, na época específica, são entoadas por todos aqueles que tiveram o privilégio de vivenciar estes tempos áureos, intensos e maravilhosos.

Presidência do Aliança

O convite para presidir o aristocrático Clube Aliança foi uma surpresa e um grande desafio, me levando a uma nova expectativa de trabalho, com outros horizontes. Sempre tive minha vida social voltada para a comunidade, procurando destacar pessoas que faziam a diferença na sociedade bento-gonçalvense. Estive sempre envolvida como jurada dos desfiles, como apresentadora, e em outros eventos. O fechamento foi “presidente do Clube Aliança”.

Realizações e decepções na presidência

Como presidente de um dos maiores clubes da cidade, me sinto realizada junto com todas as diretorias que compus. Com muito orgulho, cito as principais realizações. De início, surpreendentemente, fomos incumbidos de implantar o Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI) nos quatro pisos do prédio. Além disso, efetuamos a reforma total dos banheiros masculino e feminino, tanto no clube quanto na área das piscinas. Implantamos o elevador social. Repaginamos o hall de entrada. Reformamos a boate e os corredores do subsolo e, por fim, a maior realização foi a construção do ginásio de esportes. Outro ponto que merece destaque é a reformulação da Sala de Honra, com painéis das rainhas do clube, dos ex-presidentes com suas respectivas diretorias executivas e dos conselhos deliberativos. Também inovamos o formato do evento de abertura da temporada, tudo pensado pelo melhor para os associados e frequentadores do clube.

“O convite para presidir o aristocrático Clube Aliança foi uma surpresa e um grande desafio”, diz

O que ainda gostaria de fazer

Gostaria de continuar conectada socialmente, participando de grandes eventos e dando minha contribuição, sempre que possível, na realização dos mesmos.

Em que Brasil acredita

Acredito na empatia do povo brasileiro. Acredito na diversidade de culturas, de trabalho. O brasileiro é empreendedor, todo mundo literalmente se vira. O povo é hospitaleiro, um ajuda o outro. Acredito na resiliência do enfrentamento às dificuldades.

Definição da mulher de hoje

A mulher de hoje é dinâmica e competitiva. Está cada vez mais autônoma. Ela não depende de ninguém para viver, ou sobreviver. Tem habilidades para gerenciar sua vida pessoal e profissional. Certamente, este deve ser motivo de orgulho: prover seu próprio sustento.