Lidando diariamente com o pó da estrada que invade suas casas, moradores da Rua São Paulo, no bairro Borgo, clamam por pavimentação
Poeira. Pela garganta e narinas; infiltrando-se nas frestas das casas, criando camadas sobre os móveis; cobrindo os carros estacionados, os deixando tão empoeirados como que se estivessem abandonados no deserto. Esse é o cenário de parte da Rua São Paulo, onde o pó da estrada de terra batida se ergue em nuvens a cada caminhão que passa rumo às empresas e que, na época de vindima, se multiplicam também para escoar a produção, tornando a simples tarefa dos moradores de manterem seus lares limpos e arejados, em uma batalha incessante. Sérgio Fin, 52 anos, passou pano na casa ontem. Hoje, do piso às venezianas, precisará refazer seu trabalho. Duas residências acima, a decoradora, Letícia Fin, 23 anos, passa pela mesma situação. Nos fins de semana lava a casa com esmero, para que um dia depois tudo esteja sujo novamente. Mãe de Sérgio, Aurora Fin, de 85 anos, recentemente voltou do hospital. A poeira tem dificultado sua respiração.
Artéria central do Borgo, a Rua São Paulo corta o bairro de sul a norte, indo do Buratti ao colégio Marista, já no centro do município. No total são aproximadamente 12 km, seis de asfalto, um pequeno trecho de 200 m de calçamento, e 5,5 km não pavimentados. Parte dela, — inclusa entre as 47 pavimentações do “Programa Desenvolve Bento”, pacote de mais de 100 obras prometidas pelo Governo Municipal em dezembro de 2018 — foi recentemente asfaltada com investimento de R$ 155 mil. Mais ao sul, onde vive a família Fin e vizinhos, a situação segue longe do ideal. O cascalho espalhado para facilitar o escoamento da safra e os postes de concreto que, pouco a pouco, substituem os de madeira, dão a entender que não se trata de uma área esquecida, mas a principal reivindicação nunca foi atendida.
Um dos moradores mais antigos do local, há quarenta anos convivendo com o problema, Sérgio é um dos que reclama da situação. “Jogam brita, mas não resolve. Já vieram roçar as plantas para dizer que iam fazer o asfalto, mas nada. Toda hora passa caminhão das firmas aqui para baixo e as vans das escolas. A casa acaba sempre cheia de pó. Agora com a safra é ainda pior”, se queixa. Segundo ele, os moradores já se reuniram para fazer um abaixo-assinado e, inclusive, já teriam a promessa da Prefeitura de que a pavimentação seria feita.
“Todos sofremos com o pó aqui. A minha mãe foi no médico ontem, não conseguia nem respirar por causa do pó. Hoje, já está com falta de ar outra vez”, Sérgio Fin
Letícia endossa o protesto. Conta que há dois anos se mudou para outro bairro e que, ao retornar a casa antiga no Borgo, o cenário que encontrou era o mesmo de quando havia partido. “Sai e voltei, e tudo seguiu igual. Nos dias de sol, a poeira suja a casa; nos de chuva, o barro. Eles até vem com a patrola, mas só piora. Já fizemos reuniões com os vizinhos, falamos com vereadores, mas dizem que não podem fazer nada. Enquanto não tem calçamento, dissemos que até um quebra-molas ajudaria, mas por ser descida nos falaram que não poderiam fazer”, lamenta.
Além da condição da rua, a moradora atenta também para o muro de uma antiga britadora abandonada, localizada próxima a sua casa, que, segundo ela, dá sinais de que pode desabar. “Faz anos que está assim e ninguém toma iniciativa para tirar ele ou reforçar. Algumas pedras já caíram. É perigoso. Pode atingir um carro ou um pedestre. Quando passo ali, aperto o passo”, conta.
Esclarecimentos da Prefeitura
Segundo a diretora adjunta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb) de Bento Gonçalves, Melissa Bertoletti, que confirma as conversas junto aos moradores, a Prefeitura busca captação de recursos federais para poder executar a estrada, a qual assinala, é um trecho de suma importância para o Município. “Sempre deixamos claro (aos moradores) que é uma obra complexa, pois envolve alargamento de via e muros de contenções. Existe um projeto e um custo estimado para obra e, em virtude do valor ser bem significativo, ainda não fomos contemplados”, assinala.
Melissa destaca, ainda, que além das cargas de brita e troca de iluminação, o Município tem trabalhado, com cuidado, com o alargamento da via, para não comprometer os trechos que envolvem taludamentos e/ou muros de contenção. “Aos poucos, vamos deixando a estrada compatível com a importância que ela realmente merece, obedecendo sempre o projeto técnico”, pontua. Já quanto ao muro da britadora, declara que a Prefeitura já executou a contenção para conter as pedras e que ele está em constante fiscalização.