Doença viral pode causar diversas sequelas e até levar a óbito. Nesta época de temperaturas baixas, é importante tomar cuidados especiais com os cães, principalmente os filhotes

Bento Gonçalves está passando por mais um surto de cinomose, doença que afeta principalmente cães e que pode causar diversas sequelas e sintomas físicos e neurológicos, podendo levar a óbito. Durante o inverno, com a queda das temperaturas e oscilações da umidade relativa do ar, os animais ficam mais propensos a contraírem a enfermidade, já que o vírus da cinomose se mantém presente no ambiente por meses, sendo mais sensível a temperaturas mais elevadas.

A doença não é transmitida para seres humanos. Ela afeta somente os cães entre os animais domésticos, não sendo transmitida para gatos, aves e roedores. Na natureza, também pode afetar outros animais, como raposas e guaxinins.

A perda de um companheiro

A comerciante Amanda Vanessa Lamb perdeu seu cãozinho Scooby para cinomose recentemente. “Scooby era um dos filhotes da cadelinha da nossa família, que deu cria há nove anos atrás. Ele acompanhou o crescimento de meu filho, era um companheiro. Não foi fácil perdê-lo e continua não sendo. Mas ele estava sofrendo, então foi melhor descansar”, lamenta.

Ela conta como percebeu os primeiros sinais de que a saúde de Scooby não estava muito boa. “Morávamos na região da Ponte do Rio das Antas, que sofreu muito com as chuvas e deslizamentos deste ano. O Scooby foi resgatado e levado para uma ONG, que o acolheu muito bem. Assim que conseguimos voltar para casa, também o levamos de volta conosco. Depois de uns dias, percebi que ele tinha alguns sintomas semelhantes a um resfriado. Levei ao veterinário, fizemos exames e ele foi medicado. Também ficou internado por alguns dias em uma clínica. Quando seu estado de saúde estabilizou, ele foi liberado para ir para casa”, relembra.


Amanda comenta que cerca de sete dias após seu retorno para casa, Scooby começou a ficar mais debilitado e apresentou outros sintomas como diarreia e falta de apetite. “No começo, ele continuava bem ativo. Após uns dias, já tinha dificuldades para caminhar, ficava ofegante. Ele não era vacinado. Fomos tratando conforme os sintomas foram aparecendo, mas um dia ele simplesmente desceu do meu colo, deu uma caminhada no pátio de casa, suspirou e deitou. Foi assim que ele faleceu”, sente a tutora.

A cinomose

Segundo a Médica Veterinária Renata Benini, o cachorro pode ser contaminado pelo vírus de diversas formas, entre elas o contato com secreções, urina e fezes infectadas pelos animais doentes. Além disso, casinha, cobertores e alimentos dos animais infectados também são fontes de infecção. “O vírus se replica nas células sanguíneas e no sistema nervoso central dos cães. Nos estágios iniciais da doença, um sintoma bastante comum é a diarreia. Em um estágio um pouco mais avançado da cinomose canina, o sistema respiratório é acometido, sendo observadas secreções normalmente amareladas e densas saindo pelo nariz e região dos olhos. Na fase mais tardia da doença, o sistema nervoso central do pet é afetado. Quando isso acontece, o cachorro passa a andar desorientado e a ter tremores musculares que podem evoluir para crises de convulsões”, esclarece.

A enfermidade não tem cura. O tratamento se baseia em tratar os sintomas causados nos diferentes sistemas acometidos e fortalecer o organismo do cachorro para ajudá-lo a combater a infecção e sobreviver à doença. Filhotes e idosos são mais susceptíveis às doenças infecto-contagiosas por terem o sistema imunológico um pouco menos ativo. Locais limpos, arejados, aquecidos, com bastante luz solar, que sejam desinfetados com regularidade são ideais para o seu cão, ajudando a prevenir uma série de patologias.

Conforme Renata, a vacinação anual é a forma mais eficaz de prevenir essas e outras doenças. O imunizante para cinomose está dentro do pacote oferecido pelas vacinas V8, V10 e V11. No caso de filhotes, devem receber três a quatro doses a partir de 45 dias de vida, com intervalo de 21 a 30 dias entre as aplicações. Apenas depois da última dose seu sistema imunológico estará apto a combater o vírus caso haja contato com ele, sendo liberados os passeios na coleira. “O tutor precisa procurar um veterinário de confiança para aplicar as doses certas nos períodos exatos e fazer um acompanhamento regular do pet, para que o profissional identifique qualquer problema a tempo de tratar. Podem ocorrer falhas vacinais, nas quais mesmo os animais vacinados se contaminam com o vírus, sendo as causas mais comuns: problemas na aplicação e refrigeração da vacina e ou versões de baixa qualidade, por isso, somente médicos veterinários são aptos a fazer a vacinação dos animais”, finaliza.


Em Bento Gonçalves, o poder público não disponibiliza a vacina gratuita. Porém, todos os animais que estão sob a tutela do Município e disponíveis para adoção são vacinados contra a doença.
Não há medicamento específico para a cinomose canina, e nenhum tratamento específico que possa curar a doença, tornando-a, portanto, incurável. Contudo, ao ser diagnosticada e tratada precocemente, é possível iniciar uma série de terapias destinadas a fortalecer o sistema imunológico do cão, visando combater vírus e infecções.

Infelizmente, cães com cinomose canina, especialmente em estágio neurológico, dificilmente conseguem alcançar a cura. Em muitos casos é fatal, e nos casos em que o pet sobrevive, as sequelas podem ser significativas.

Além da prevenção através da vacinação, a higienização do ambiente em que o animal fica também é de extrema importância, uma vez que o vírus pode permanecer por até 90 dias no local. Por isso, ambientes em que animais com cinomose estiveram devem ser higienizados e isolados por esse período de tempo, antes de estarem aptos para receber outros cães, além da necessidade de isolar o cachorro doente.