Renê Tonello, Celito César Bortoli e Ivan Marini assumem a diretoria do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora por dois anos

Os viticultores Renê Tonello e Celito César Bortoli foram reeleitos para a presidência e vice-presidência do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora. No pleito realizado na última semana, e que contou com o número recorde de 820 associados votantes, o também viticultor associado Ivan Marini foi conduzido ao posto de secretário para a gestão 2022-2024. O trio representará as 1,1 mil famílias associadas e mais de 600 funcionários que compõem o quadro cooperativo e empresarial da Vinícola Aurora. O executivo Hermínio Ficagna permanece como diretor superintendente da maior cooperativa vinícola brasileira.

Desafios na primeira gestão

Renê Tonello: Nosso primeiro desafio foi com a questão de abrir as portas para o associado, pois sentimos que ele estava um pouco afastado da cooperativa. Outro foi a pandemia. Quando assumimos, em 2020, reconduzimos nosso diretor superintendente ao cargo e nos inteiramos dos assuntos. Passamos a trabalhar da seguinte forma: que todas as decisões fossem tomadas em conjunto. Por isso, mensalmente reunimos todos os gestores, gerentes e encarregados de setor para fazermos um resumo do mês, ver o que deu certo e o que não deu. Então, analisando os desafios que tivemos, fomos elegendo prioridades.

Conquistas e prioridades

Uma delas foi criar espaços para colocar a safra de nosso associado, pois no final de 2020 e início de 2021, estávamos diante da maior safra da cooperativa e não tínhamos onde estocar o produto. Fechamos parcerias com algumas vinícolas para atender a demanda e injetamos mais R$ 10 milhões na unidade 3, no Vale dos Vinhedos. Outra proposta que já estava encaminhada era a rotatória, na mesma unidade, que já foi concretizada, para facilitar o trabalho e escoamento da produção. Mais um objetivo, de forma a melhorar não só a questão do barulho dentro da empresa, mas também para a vizinhança além do cuidado com o meio ambiente, foi a substituição das caldeiras a óleo pelas à gás, que hoje estão sendo implantadas e praticamente prontas para serem operadas, tanto na unidade 3 como na matriz.
Além disso, adquirimos duas carretas, um cavalo mecânico, e esse ano mais um truck, pois estávamos pagando muito pelo aluguel dos veículos de grande porte para atender nossa logística interna. Também fizemos a aquisição de autoclaves para envasar espumantes. Estamos elaborando um planejamento estratégico, pois temos uma linha de pensamento em torno do que queremos para o centenário. Por isso, estamos atrás da prospecção de uma empresa nova, talvez desativarmos a unidade 2 e passarmos para a 3. A ideia é concentrar mais nossos trabalhos na unidade 3, para receber a produção do associado e aumentar a capacidade de estocagem. No que tange o planejamento estratégico, pretendemos colocar, ainda neste ano, uma maquete com as propostas para que o associado conheça esse projeto, pois não será feito de uma hora para outra. Serão eleitas prioridades, será feito por etapas. Temos que andar com os pés no chão para não dar o passo maior que a perna. Nossa consciência está bem tranquila em relação a isso e vamos crescer conforme a necessidade, mas também de acordo com a possibilidade que temos. Em paralelo a isso, foi criado um regimento interno e em parte ele já está praticamente pronto, entretanto, temos mais projetos para avançar.
Celito Bortoli: Algo que também é muito importante destacar é a questão da destinação dos bagaços e engaços de uva. Hoje é tudo reaproveitado, vai para alimento de gado, confinamento de gado, entre outros aspectos, e o resto para adubo. Onde tínhamos uma despesa para nos desfazermos do bagaço, hoje não temos mais. Reduzir o custo significa mais lucro.
Renê: Foi um ano e meio de muito trabalho. Nós tínhamos horário para chegar aqui de manhã, mas não para sair.

Rumo ao centenário

Para o centenário, pela pesquisa que fizemos com o setor agrícola, a produção dos nossos associados está crescendo em torno de três milhões de quilos de uva por ano. Por isso, o objetivo é preparar a cooperativa, não apenas com estoques, mas também mercado, pois temos que vender esses produtos. É um grande desafio. Também foi feito um trabalho com os jovens e vemos que ele está respondendo, está voltando para a propriedade. Hoje o jovem não enxerga mais a propriedade do pai como um lugar de trabalho, mas como uma empresa, uma oportunidade de crescimento, e está dando resultado.

Orgulho do trabalho já desenvolvido

Uma coisa que vejo é que viemos com a proposta de fazer diferente e, acho que o associado aceitou muito bem e assimilou a diferença que fizemos neste tempo. Sentimos um orgulho muito grande, por termos a confiança do associado para que a gente continue na condução dessa grande empresa, porque a cooperativa hoje é uma referência não só no país, mas também fora dele.
Ivan Marini: Além de tudo, temos um compromisso com o associado, com o funcionário, com todas as famílias que estão envolvidas direta e indiretamente com a cooperativa. É uma responsabilidade grande, afinal, é uma porcentagem considerável da população de Bento Gonçalves que atingimos.
Celito: O associado confiou em nós, e o respaldo que temos hoje com eles é muito importante. Para fazer um bom trabalho, temos que ter essa confiança e esperamos retribuir à altura.

Estrutura e novidades

Renê: Tanto a nossa estrutura física quanto a de vendas está crescendo. O objetivo para chegar a R$ 1 bilhão, projetado para 2025, daqui há três anos, está relacionado com o crescimento na produção de nosso associado e na ampliação do mercado. Pretendemos aumentar a exportação, ampliar a venda no próprio país, tentando fazer com que o brasileiro consuma mais o nosso produto. Hoje o vinho consumido no Brasil é 85% importado. O suco ainda é 100% nosso, pois não existe importação dele, então é uma crescente dentro da cooperativa. Mais de 40% do faturamento da Aurora é suco, em volume também. Além disso, pretendemos lançar novas marcas.

Envolvimento dos associados, jovens e mulheres

Renê: Ficamos mais ou menos um mês e meio em busca de uma assistente social, e acho que fizemos uma boa aquisição, a Jéssica Bolzan, que estava na Fecovinho, com um conhecimento grande em cooperativa. O intuito é dar continuidade na questão do Jovem Aprendiz, já tem grupos formados para esse ano, e muitos já estão interessados para o próximo. Quem já participou, inclusive meninas, que estavam aqui na cidade e voltaram para a propriedade do pai. Pretendemos ampliar e incentivar cada vez mais esses jovens a permanecerem na vitivinicultura.
Além disso, temos o projeto com as mulheres também, o qual queremos dar continuidade. Além deste, queremos voltar com a proposta do Comitê Educativo. Tivemos há alguns anos, mas ele era mais informativo, onde jovens e mulheres participavam. Agora, pretendemos fazer esse comitê para todos os associados, para que ele conheça mais, saiba como funciona a cooperativa, e que esteja minimamente preparado para um dia assumir a direção também. Mas não só isso, queremos que ele conheça a empresa dele, que possa cobrar quando algo não está certo. Quando tu conhece, erra menos.

A Aurora e o turismo

A Aurora está avançando bem nesse segmento. Para podermos atender melhor o nosso turista, já tem um projeto de ampliação da loja na matriz, além de todo o trajeto que ele faz dentro da cooperativa, com a degustação gratuita. A ampliação da loja vai fazer com que ele se sinta mais à vontade. Atualmente, temos 220 produtos e o espaço está pequeno para a exposição e comercialização dos itens. Já temos uma sala de degustação hoje, mas pretendemos ter mais duas, onde vamos poder atender os diversos perfis de turistas. Já na unidade 3, temos uma loja provisória, que está dentro da parte nova, mas não é o ideal. Nossa intenção é construir um espaço novo, em frente à atual construção no Vale. Além de construir a parte industrial do recebimento da uva, queremos colocar um espaço para atender melhor o turista que faz aquele trajeto. Além disso, está se criando uma rota turística dentro da empresa, porque quem vem de fora não quer só comprar, ele quer conhecer. Mas isso deve ser cuidadosamente estudado, por conta de toda a questão de segurança. Outra coisa que vamos fazer esse ano é transferir a linha de sucos da matriz para a unidade 3, de forma a melhorar o fluxo da logística.
No nosso espaço em Pinto Bandeira, já foi aberta uma visitação, mas vamos ampliar e melhorar, pois existe uma demanda grande e nossa estrutura lá é pequena. Futuramente, está em estudo, instalar uma pequena vinícola nesse local. Como o município tem denominação de origem, o que se produz lá se pretende vinificar lá, para que tenha a D.O. de Pinto Bandeira. São projetos, estamos planejando e em breve devem sair do papel.

Bento Gonçalves

Vejo Bento Gonçalves como uma cidade que cresce. O que mais destacamos é que a própria comunidade participa e vem muito na cooperativa, além de consumir nossos produtos. A Aurora é um ponto de referência no município e o pessoal se sente pertencente à ela. Na questão da administração municipal, percebo que o atual prefeito está valorizando muito o interior, claro, sem deixar de lado a cidade. Vemos projetos de asfaltamento, de melhorias nas localidades, o monitoramento que está sendo feito. A administração se preocupa com o todo. Vejo isso com bons olhos, pois está dando uma atenção especial.

Brasil e estado

Na questão nacional e estadual, a nossa política está um pouco confusa. Temos muitas incertezas. Nós aqui, como cooperativa, estamos preocupados com o que vai acontecer no país. Uma que temos essa guerra que nos atrapalha. Exportamos para a Rússia e estamos com dificuldade no momento neste quesito. E a questão política, não sabemos o que vai acontecer. Estamos em ano político e o cenário não é bom. Com todos esses aumentos, a população vai perdendo o poder aquisitivo: sobe combustível e como consequência aumenta tudo. Para nós, na agricultura, tem o diesel, deu uma disparada muito grande. O que acontece é que aumenta o valor dos insumos e não se consegue acompanhar.

Fenavinho

A ascensão de Bento Gonçalves foi por meio da Fenavinho. Fomos conhecidos no país e fora dele através dela. Com certeza, a festividade traz muitos benefícios, principalmente para o setor vinícola. Fomos parceiros do vinho encanado, na Via Del Vino, colocamos suco, vinho e tivemos um respaldo muito bom. Até sugerimos para o prefeito fazer a Fenavinho nos mesmos moldes de antigamente, na rua e com o vinho de graça. É algo para se estudar.

Mensagem final

Celito: De muito otimismo, força, produção e Bento Gonçalves se destacando via Vinícola Aurora.
Renê: Que o jovem continue acreditando na cooperativa e na importância da propriedade da família. Que nossos associados e comunidade em geral tragam sugestões ou demandas necessárias. Queremos ouvir e estamos de portas abertas para receber o associado, a família, e a comunidade também está convidada a conhecer a vinícola.