Pediatra aconselha que as crianças possam ter acesso às telas por, no máximo, duas horas ao dia

Sem dúvidas, a internet e as tecnologias estão sendo aliadas dos pais na correria do dia a dia, para manter os filhos entretidos. No Dia das Crianças, um dos presentes mais procurados são aparelhos eletrônicos. Contudo, até que ponto vale a pena utilizar desses meios e o quanto computadores, videogames, celulares e tablets podem influenciar na educação dos pequenos?

Segundo a pediatra Ângela Rech Cagol, é aconselhável que uma criança possa ter acesso às telas por, no máximo, duas horas ao dia. “Primeiro porque esses aparelhos têm uma lâmpada de LED, que vai prejudicando a visão ao longo do tempo. Isso pode acarretar miopia, um astigmatismo, problemas que podem resultar em uma diminuição da acuidade visual. Além disso, essas crianças deixam de interagir com outras e entram no mundo delas com o celular, tablet, televisão e muitas vezes isso vai provocar um autismo social, quando os pequenos acabam se isolando para viver no seu próprio mundo”, explica.

Além disso, as crianças que tem o hábito de ficar muito tempo em contato com as tecnologias tendem a desenvolver distúrbios que afetam a saúde física. “Podem ter problemas sérios de obesidade, aumento de colesterol e triglicerídeos, porque elas ficam extremamente ansiosas, buscam essa diminuição da ansiedade na comida, acabam comendo fora de hora, ingerindo guloseimas e coisas que engordam”, afirma a médica.

Os exercícios físicos que as crianças faziam antigamente eram os das brincadeiras fora de casa. Hoje, segundo Ângela, eles preferem jogar em um tablet, videogame ou celular, do que se exercitar. “Sem dúvida, o uso da tecnologia faz com que nossas crianças e adolescentes se tornem cada vez mais sedentários. Se uma vez a gente tinha problema de trazer a criança para dentro, porque ela preferia ficar na rua até altas horas, andando de bicicleta e brincando com os seus amiguinhos, nos tempos atuais e com toda a violência que nos circunda, a gente acabou trazendo esse jovem para dentro de nossos apartamentos e casas, em uma intenção inicial de proteção. Só que isso acabou acarretando um sedentarismo que hoje está muito difícil de corrigir” destaca.

A psicóloga Janice Meza Casa Cavalini destaca que além dos problemas físicos, mexer em aparelhos eletrônicos pode causar danos psicológicos. “Muitos pediatras recomendam que só se use o celular depois dos quatro anos, pela questão do desenvolvimento do cérebro. O uso dos smartphones faz com que a criança não durma direito, o que pode causar um transtorno de ansiedade e até mesmo um pouco de agressividade”, aponta.

Qual a melhor idade para permitir o uso das tecnologias?

Para a pediatra Ângela, quanto mais os pais puderem retardar o uso, melhor. “A gente vê crianças entre um e dois anos já envolvidas na magia do celular, dos joguinhos, dos vídeos. Acho que isso tudo já cria uma certa dependência.

Para os jogos, Janice explica que é necessário observar a classificação etária para que a criança ou o adolescente tenha discernimento do que está acontecendo. “Se é uma criança que tem bons exemplos em casa, uma família que senta e conversa com ela, se tem um mínimo e máximo de tempo para jogar, isso é a coisa mais importante”, analisa.

Apesar de não poder definir a idade exata para começar a permitir o acesso à internet e redes sociais, a psicóloga admite que o acesso está acontecendo cada vez mais cedo. “É preciso ter um olhar atento da família em cima do que está acontecendo, do que ela está assistindo, ter alguém que explique o que está havendo. Muitas vezes as crianças veem, reproduzem alguma coisa e não sabem o que estão fazendo”, observa Janice.

De acordo com Ângela, é essencial que os pais tenham consciência de que o uso das tecnologias pode causar uma dependência muito grande. “Algumas coisas podem ser feitas para evitar que isso vire um vício. Primeiramente, estabelecer horários, fazer combinados. Liberar as telas por no máximo uma hora de manhã e uma de tarde. Sempre cobrar que as tarefas escolares sejam feitas e cumpridas para que essa troca seja feita”, orienta.

O incentivo para que ocorram atividades lúdicas também é necessário, segundo a pediatra. “Promover passeios, esportes, chamar amigos para brincar em casa, incentivar que essa criança tenha acesso ao livro, que possa assistir a um filme”, conclui.

Alimentação saudável na infância é indispensável

Manter uma boa alimentação também é essencial na infância. Mesmo diante da pressa que o trabalho e outros compromissos demandam dos pais, descuidar da qualidade dos alimentos ingeridos não é uma alternativa viável. Segundo a nutricionista Franciele Valduga, falta de tempo não deveria ser motivo para se descuidar. “O que precisa ser feito é organizar as rotinas dos pais e dos filhos. Hoje, há inúmeras opções saudáveis de consumo ou preparo rápido, como marmitas prontas, restaurantes e até mesmo alguns industrializados. Que tal separar duas horas da semana para preparar alimentos, cozinhar e congelar?”, indaga.

Para evitar a obesidade infantil causada pelo sedentarismo, também é necessário controlar os alimentos que entram em casa. “A criança come aquilo que vê, o que seus responsáveis ofertam. Envolver os filhos na compra de alimentos, na ida à feira, no preparo de receitas simples, ou até mesmo contar histórias sobre de onde os alimentos nascem. Na alimentação infantil o exemplo é o maior ensinamento e a ludicidade (trabalhar com as múltiplas cores dos alimentos, texturas, aromas), constância, dinâmica e paciência são essenciais também”, instrui Franciele.

A nutricionista ainda aponta que dados do Vigitel (2018) mostram que 12,9% das crianças têm obesidade e 7% dos adolescentes. Por isso, o acompanhamento nutricional nessa fase é essencial para a saúde integral da criança.

A reorganização da rotina devido à pandemia, de acordo com Franciele, possivelmente ocasionou um aumento de peso na população, em especial nas crianças. “Elas ficaram mais restritas, em casa, o que provocou o aumento de sedentarismo e, consequentemente, o consumo alimentar”, conclui.