Campanha global busca alertar a população mundial sobre o câncer infantil e apoiar crianças e adolescentes com a doença, além de seus familiares. Segundo o Inca, esta é a principal causa de morte na faixa etária entre um e 19 anos

O Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil, lembrado na quarta-feira, 15, faz um alerta sobre sinais e sintomas da doença. A data foi criada com o intuito de conscientizar sobre o câncer infantil e expressar apoio às crianças, adolescentes e suas famílias. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são registrados cerca de oito mil novos casos anuais da doença, sendo a principal causa de morte na faixa etária entre um e 19 anos.
Para a oncologista e pediatra Ângela Rech Cagol essa data é extremamente importante, entretanto, ela afirma a luta contra o câncer infantojuvenil tem que ser constante e as pessoas devem estar cada vez mais engajadas. “Esse dia nos remete justamente à preocupação que a gente tem que ter com o diagnóstico. Na medida que ele for mais precoce possível, a gente consegue, muitas vezes, minimizar o tratamento e elevar as taxas de cura”, enfatiza.
Ela ressalta a importância de os pais ficarem atentos a qualquer anormalidade. “Prestar atenção no comportamento, em sinais atípicos que aparecem e que demoram a melhorar, além, é claro, de estar sempre em dia com as consultas pediátricas, não deixar para levar seu filho somente em caso de doença. É importante ter em mente que, para se fazer uma prevenção, a gente precisa estar em dia com a carteira de vacinação, com o uso de vitaminas, entre outros aspectos. Tudo isso faz parte desse cuidado”, pondera.
Ângela também aponta que, quanto mais cedo a doença for descoberta, maior é a possibilidade de cura. “A gente sabe que diminuem muito as chances de cura para aqueles que têm o diagnóstico tardio. Muitas vezes, vão ser crianças que serão submetidas a tratamentos mais tóxicos e com mais riscos. Portanto, se o diagnóstico é precoce a doença estará em estágios iniciais e, em alguns casos, nem quimioterapia é necessária, ou se for, ela vem em formato mais leve, com menos riscos e efeitos adversos”, aborda.
No caso de tratamentos, ele é iniciado assim que a descoberta é feita. “Hoje o Brasil está muito avançado em termos de protocolo para crianças. Temos estratégias desenhadas para a população, o que eleva muito mais a chance de cura, pois ele é feito de acordo com a epidemiologia dos nossos cânceres infantojuvenis. Nesse sentido, a gente amplia essa chance de cura e adapta a nossa realidade a esses procedimentos”, destaca.
A oncologista aponta que é imprescindível sempre estar atento e abordar esse assunto. “Quanto mais falamos, mais a gente lembra que existe e mesmo que seja dolorido, é aí que a gente vai poder pensar e diagnosticar mais precocemente”, enaltece.

Um alerta

Conforme a presidente da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, Maria Lucia Gava Severa, a data reforça a importância de se atentar aos possíveis sinais que possam levar a um diagnóstico de câncer em crianças e adolescentes. “É uma forma de alertarmos os pais e responsáveis sobre o quão significativa é a detecção precoce e a adoção de hábitos saudáveis desde cedo.
É importante ter em mente que os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias, os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas”, revela.
Para ela, o impacto de um diagnóstico destes afeta não somente quem está com a doença, mas toda a família. “Sabemos que a realidade imaginada para qualquer criança durante o período de crescimento é na escola, entre amigos ou brincando de forma saudável. Porém, nem sempre esse cenário pode ser vivenciado pelos pequenos. Muitas famílias acabam sendo pegas de surpresa com o diagnóstico e, com isso, precisam interromper o curso natural de uma das fases mais importantes da vida”, salienta.
Por isso, todo o apoio neste momento se torna primordial. “O impacto da descoberta exige muito amparo psicológico e social. Por ser um tratamento difícil e desgastante, geralmente pelo menos um dos pais deixa de trabalhar para se dedicar ao paciente. Também é comum que as famílias não tenham a estrutura necessária para essa nova dinâmica familiar – e, nesse contexto, entidades de apoio, a exemplo da Liga de Combate ao Câncer, são fundamentais. Essa corrente de apoio tem papel crucial durante o período”, esclarece.

Papel da Liga

Para que toda essa rede de apoio seja possível, algumas questões são primordiais. “A entidade fortalece os serviços oferecidos às crianças e adolescentes acometidos pela doença para amenizar o impacto do tratamento e de suas consequências na vida dessas famílias.
Ela opera no sentido de orientar, nas empresas e na comunidade, sobre os sinais de alerta para os pais, conscientizar acerca da necessidade de visitas periódicas ao médico e acompanhar, disponibilizar e facilitar o tratamento. Além disso, atua no auxílio com medicações, deslocamentos para os centros de tratamento infantojuvenil em Caxias do Sul e Porto Alegre, acomodação (tanto na Casa de Apoio em Bento Gonçalves quanto em locações próprias da Liga ou hotéis em Porto Alegre) e apoio psicológico”, realça.
O trabalho desenvolvido pela entidade envolve todo o contexto familiar do paciente e até mesmo os locais em que os pais ou responsáveis atuam. “Buscamos alcançar alimentação para a família, doação de brinquedos e ajuda em geral – visto que muitas mães acabam interrompendo o trabalho para cuidar dos filhos, necessitando de suporte para suprir as necessidades. A Liga enaltece, também, a compreensão de muitas empresas que entendem a situação, liberando os pais para que possam dar apoio e acompanhar os filhos. O pós-tratamento é outro tópico visto com atenção, com apoio no regresso e incentivo à recolocação no convívio social – até mesmo com indicações de cursos profissionalizantes”, considera.
Apoiar, cuidar de todos os aspectos e, principalmente, abraçar a causa é essencial para o sucesso do tratamento. “A Liga oferece um olhar amplo sobre o momento vivido pelo paciente e família, especialmente quando há irmãos mais novos, pois a atenção que acaba direcionada à criança ou jovem em tratamento interfere na relação familiar. Por isso, buscamos abrandar o contexto, ajudando pais, avós ou demais responsáveis a passar por essa situação de uma forma mais amena, tranquilizando e ofertando suporte à família como um todo”, conclui.

Sintomas

Ângela explica que os principais sintomas têm relação direta com a funcionalidade da criança. “Aquela que era ativa e começa a ficar prostrada, a apresentar sinais de perda de apetite, sonolência excessiva, cansaço a pequenos esforços, alterações de comportamento na escola, sangramento gengival, hematomas pelo corpo, dores de cabeça, dor abdominal intensa e crescente, ínguas aumentadas no pescoço, dores nos membros inferiores, bem como aumento de volume de determinadas partes do corpo, entre outros, são sinais importantes que devem ser fonte de atenção destes pais, pois os pequenos podem estar sinalizando que algo não está bem e que devem ser levados à sério. Obviamente que é o pediatra de primeira linha que vai investigar”, frisa