Vou começar pelo meio, assim como faço ao apertar o tubo de pasta de dentes, ou ao estender a roupa no varal. Dizem que a psicologia explica…

         Então, após horas no ar, eis que chegamos ao chão. Uma aterrissagem impactante, com a aeronave furiosa rangendo os dentes e arranhando o concreto, só parando depois de muito resfolegar e lamber toda a pista. Enfim, máquina e homens suspiraram de alívio.

         Em solo europeu, é necessário se adaptar às normas da casa, e a língua é a primeira a fazer suas exigências. Na Itália, havia sido tranquilo, porque bem ou mal, carregamos o DNA do idioma, com nosso engraçado Talian. Mas em Londres, a graça cai no primeiro tropeço, que se repete a toda abordagem. Na verdade, inglês escrito a gente até manja, já falado soa a mandarim. Penso até que o Reino Unido faz questão de se manter numa posição diferenciada, com seu sotaque tipicamente britânico, com o volante dos seus carros à direita, com sua cultura destacada, com sua aparente frieza… A aprovação do Brexit conduzido pelo loiro descabelado parece que reforçou essa autossuficiência, apesar de a economia girar significativamente em torno do turismo.

         Diante desse contexto, me abstive de fazer os contatos de primeiro e segundo graus, especialmente no setor de imigração, só usando a linguagem universal do sorriso. Aos “universitários” coube o trabalho pesado de entenderem e se fazerem entender. Mas, na saída, enquanto minha turma se afastava – eu, sempre na lanterninha –, surgiu ocasião perfeita de ensaiar meu inglesinho básico junto à entrevistadora, que vim saber depois tratar-se de policial federal. Sem o mínimo de reverência à sua figura hierárquica, lancei um elogio, embora meio travado “You are very beautiful!”, tomando-a de surpresa. Não consegui ouvir de perto a interjeição que ela usou porque fui puxada pelos membros de minha gangue. Essa foi a primeira lição: “Não brinque com autoridades”.  

         No hotel, agi feito poliglota. Cumprimentava em francês, agradecia em inglês e pedia informações com mímica. Até que, ao ser recebida gentilmente por uma camareira do hotel, vi a oportunidade de manter breve interação social.

         -Hello! – disse ela.

         -Hello! How are you? – avancei na escala musical – de “dó” ao “mi”.

         -I’m good, and you? – respondeu ela em alto e bom tom, com um sorriso aberto.

         -I’m good too – respondi eu.

         Aquilo me animou. Estava “crazy” pra continuar, mas aí só me veio à mente “The pen is on the table”. 

         Teacher Daniela, help me, please!