Doença têm alto impacto na vida da pessoa e de seus familiares, trazendo significativo comprometimento nos aspectos sociais, ocupacionais e em outras áreas de funcionamento. Auxílio da família e dos amigos é de suma importância no suporte ao portador

O transtorno bipolar, segundo a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo e os sintomas aparecem quase sempre antes dos 30 anos, principalmente entre 18 e 25 anos de idade. Por isso, uma data como forma de aumentar a conscientização e a aceitação da doença, eliminar o estigma social, bem como promover a excelência no seu atendimento clínico e o financiamento de pesquisas foi criada. O Dia Mundial do Transtorno Bipolar, lembrado na última quinta-feira, 30 de março, coincide com a data de nascimento do pintor holandês Vincent Van Gogh, postumamente diagnosticado como provável portador do transtorno bipolar.

Conforme o psiquiatra do Hospital Tacchini, Fabrício Grasselli, essa doença é caracterizada por mudanças de humor duradouras, que oscilam entre períodos de horas, dias ou meses de mania, hipomania e depressão. Além disso, também tem algumas classificações. “O TB é classificado em tipo I; tipo II; ciclotimia; outros TBs relacionados. O TBI caracteriza-se pela presença de, ao menos, um episódio de mania (momento de grave de perda da autocrítica, caracterizado por humor expansivo e/ou irritável e aumento da energia ou atividade, além de outros sintomas) ao longo da vida (independentemente de períodos de hipomania).

Já o TBII caracteriza-se pela presença de, pelo menos, uma ocorrência de hipomania, na ausência de episódios de mania. Neste caso, o paciente apresenta menor gravidade e prejuízo funcional do que os episódios de mania, e nunca são psicóticos ou requerem internação”, explica.

O profissional esclarece que a condição pode ser diagnosticada por meio de uma Avaliação Psicológica (AP), mas que somente um sintoma apenas, não faz o diagnóstico. “As pessoas podem ter dias em que se sentem felizes, tristes ou ainda terem ações impulsivas, como comprar. É necessário levar em conta os seguintes aspectos: comportamentais, biológicos e afetivos”, salienta.

Sintomas

Ainda não há exames específicos para detectar o transtorno, embora existam estudos e pesquisas em andamento. Portanto, é imprescindível procurar um profissional de saúde para uma investigação ao notar mudanças no comportamento e no humor da pessoa. Além disso, alguns sintomas, conforme Grasselli, podem ficar mais evidentes. “Dependendo do estágio, o paciente pode se tornar provocativo; apresentar libido elevado, que pode se manifestar de diversas formas; ter um aumento de atividade dirigida a objetivos (o portador do transtorno traz, em forma de relato positivo, esse aumento em seu foco para determinada atividade, confundindo o sintoma como uma melhora abrupta em seu rendimento, envolvimento excessivo em atividades de alto potencial para consequências dolorosas, como, por exemplo, envolver-se em surtos descontrolados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos), ainda, otimismo exagerado, sensação de inteligência, superioridade, poder, vaidade, importância e maior segurança”, elenca.

As manifestações não são iguais para todas as pessoas. “O paciente em mania perde a capacidade de hierarquização, organização e planejamento, mas possui uma sensação subjetiva de grande eficiência. Tem frequente agitação psicomotora a ponto de não conseguir parar para ler, conversar ou assistir a um filme por exemplo. O indivíduo pode tornar-se desconfiado e até mesmo psicótico, quando os pensamentos grandiosos assumem um caráter delirante e persecutório. São comuns, fanatização; radicalização; aumento de religiosidade/esoterismo; sensação de conexão com o mundo ou maior espiritualidade; não consegue mais prestar atenção nos outros e distorce a realidade”, complementa.

Tratamento

Infelizmente, a doença não tem cura, mas pode ser controlada. A adesão ao tratamento pode trazer importantes resultados. “Por meio de acompanhamento médico especializado e uso de medicamentos prescritos pelo mesmo, aliado a psicoterapia ao apoio familiar e a mudança do estilo de vida. Ao procurar manter uma rotina estruturada, a pessoa será capaz de minimizar imprevistos e problemas que possam piorar o quadro”, aponta.

Grasseli enfatiza que a alguns hábitos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da pessoa diagnosticada com o transtorno. “A rotina pode trazer a redução de sintomas e emoções como a ansiedade, a raiva, estresse, dores e impaciência. Incluir nela, portanto, uma boa noite de sono, organização do horário das consultas, bem como da utilização de medicamentos, planejar os compromissos com antecedência, separar um tempo para realização de atividades físicas, evitar consumir alimentos e substâncias que alterem o humor (bebidas alcoólicas, café em excesso e antigripais, antialérgicos ou analgésicos sem indicação médica). Além disso, é importante separar tempo para lazer, trabalho, família, alimentação e descanso. Ainda, é ideal manter um acompanhamento do humor para facilitar o controle se a estrutura de rotina está adequada”, considera.

Auxílio é imprescindível

O transtorno bipolar têm alto impacto na vida da pessoa e de seus familiares, trazendo significativo comprometimento nos aspectos sociais, ocupacionais e em outras áreas de funcionamento. Sendo assim, o auxílio da família e dos amigos é de suma importância no suporte à pessoa com transtorno. “Levar ao médico e ao terapeuta, colaborar com o tratamento prescrito, procurar reconhecer gatilhos e abraçar em momentos difíceis, buscar informações, apoiar e promover força de vontade ao paciente, colaborar com o tratamento e ajudar com horários de medicação, acompanhar em consultas médicas e, assim, entender melhor a condição. Além de reconhecer sintomas de alerta para a ocorrência de novos episódios e compartilhar dificuldades para tornar a caminhada mais leve”, esclarece Grasselli.

Ele também indica uma página na internet que pode auxiliar nesse trajeto: a da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivo (Abrata). “Um espaço seguro para compartilhar experiências, conhecer outras pessoas que passam pelo mesmo e obter informações sobre os transtornos. Este grupo foi criado para atender o público jovem, na faixa etária de 14 a 24 anos, com crises de humor (depressão e transtorno bipolar), amigos e familiares na mesma faixa etária”, salienta.

No espaço, podem ser localizadas dicas, materiais de apoio, entre outros assuntos. “O grupo de apoio auxilia na terapia e na compreensão acerca dos transtornos, oferece palestras gratuitas para a população sobre os mais variados temas e assuntos relacionados aos transtornos afetivos, ministradas por médicos psiquiatras e por psicólogos, para esclarecer acerca dos sintomas, diagnóstico e tratamentos do transtorno bipolar e depressão, entre outros temas relacionados”, conclui.