O verde vindo das parreiras e da plantação de hortaliças, encontrado por todos os lados, revela que a comunidade de São Miguel é baseada na agricultura. A maioria dos moradores são idosos e moram por lá há muito tempo. Em comum, todos dizem gostar da tranquilidade que o local oferece.

O agricultor Leocir Osmarin, 64 anos, nasceu, cresceu e construiu a vida em São Miguel. Prova viva do desenvolvimento da região, ele conta que o turismo do Caminhos de Pedra ajuda na evolução, pois ainda que não em grande quantidade, leva alguns turistas para lá.

Entretanto, Osmarin afirma que as estradas da comunidade estão deixando a desejar. “A prefeitura teria que melhorar elas, fazer o asfalto até a divisa com Farroupilha, que prometeram e até agora não fizeram nada”, comenta.

Outra preocupação do agricultor é com relação a água. Osmarin aponta que só existe um poço artesiano para abastecer toda comunidade. “Começaram a vir bastante famílias para morar aqui e o poço é o mesmo para todos, então teria que ver isso. Até agora tem água suficiente, mas vai saber daqui um pouco”, alerta.

O agricultor Leocir Osmarin está preocupado com o abastecimento de água na comunidade

Agricultura

Osmarin trabalha com o cultivo de hortaliças, que são entregues nos restaurantes de Bento Gonçalves, mas também tem parreiras. O agricultor destaca que está melhor de trabalhar com as verduras. “Porque é curto o tempo do cultivo. Já com as parreiras é um trabalho de um ano inteiro” compara.

Sentindo que a categoria não é tão valorizada quanto deveria, Osmarin lamenta o aumento de apenas dois centavos no preço mínimo da uva. “É muito pouco. Os insumos, os adubos aumentaram mais de 30%”, aponta.

Entretanto, mesmo acreditando não receber tanto apoio do poder público municipal, ele não perde as esperanças de melhorias para o futuro. “Vamos ver se com o novo prefeito, a situação melhora ou vai continuar na mesma”, afirma.

Mais moradores na comunidade

O casal de agricultores, Luiz Sanchet, 74 anos e Neiva Sanchet, 67 anos, também nasceram e fixaram as raízes em São Miguel. Juntos, criaram três filhos, que já são adultos e continuam morando na comunidade.

Neiva diz gostar do lugar que passa a vida. “É um lugar bom”, resume. Porém, se antigamente todos os moradores se conheciam, hoje, a realidade está, aos poucos, começando a mudar. “Já tem muita gente nova aqui. Vieram vários vizinhos diferentes, porque os primeiros donos venderam os terrenos, então a gente não conhece todos mais”, afirma.

Neiva Sanchet afirma que já não conhece todos os moradores da comunidade

Diferente da grande maioria, a servidora pública, Marlise Dobner, 53 anos, não nasceu na comunidade. Mudou-se de Carlos Barbosa para São Miguel há sete anos, para morar com o marido e também para ficar mais perto de Bento, município em que trabalha há mais de 15 anos.

Ela afirma que morar no interior está sendo tranquilo e mais prático para ela, devido ao deslocamento diário. “Para mim, facilita estar morando aqui, se torna mais perto. E aqui a comunidade é muito tranquila”, define.

A servidora pública, Marlise Dobner, mudou-se de Carlos Barbosa para São Miguel

Embora não esteja morando há tanto tempo no local, Marlise já observa o aumento de moradores na localidade. “Tem um condomínio aqui, então tem mais gente morando e vários outros terrenos que foram vendidos, o pessoal está vindo morar para cá”, relata.

Festa de São Miguel

Esse ano, Osmarin e a esposa Mercedes Robeti Osmarini, tornaram-se fabriqueiros da Festa de São Miguel. Entretanto, a pandemia do coronavírus impediu que os planejamentos para o ano pudessem sair do papel. “É um trabalho bom, mas não fizemos nada, porque desde março fechou tudo”, afirma Osmarini.

Entre as ações que seriam feitas na comunidade, estava prevista a festa do padroeiro São Miguel, que seria realizada em setembro e foi suspensa. “Em novembro, tínhamos um jantar dançante, mas também não saiu. Agora, na véspera do Natal, teríamos a confraternização das famílias, mas foi suspensa. É uma pena”, lamenta.

Quem também está sentindo falta das festas da comunidade é a moradora Neiva, que ajudava na preparação dos alimentos. “A gente se reunia entre várias mulheres e além de trabalhar, se divertia. Eu gostava muito de fazer isso”, finaliza.