Na hora do almoço, os alunos da educação infantil opinam: a comida é muito boa. Os maiores afirmam que gostam muito da escola. Os ambientes são coloridos, com espaços para brinquedos, jogos, livros e até horta para cultivar hortaliças e verduras. Estamos falando de colégios municipais de Pinto Bandeira. Um dos municípios mais jovem do Brasil, com apenas seis anos de emancipação, a cidade vem dando exemplo para todo país em uma das áreas mais clamadas pela população: educação.

A localidade, que tem apenas 2,8 mil habitantes, investiu R$ 19,5 mil por aluno em 2015. Os números geram bastante contraste com as últimos colocadas, cidades do Maranhão, que conseguiram investir apenas R$ 2,9 mil. Os dados são do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2019, feito pela organização não governamental (ONG) Todos Pela Educação, em parceria com a editora Moderna. O estudo foi publicado nessa semana. O resultado divulgado pegou de surpresa o prefeito Hadair Ferrari e a secretária de educação Angelita Pavan Poloni.

Ela conta que ficou sabendo quando recebeu uma ligação avisando que a cidade era notícia nacional. Depois disso, Angelita foi buscar dados no Tribunal de Contas do Estado. Os números dos últimos anos são ainda mais surpreendentes. Em 2017, o investimento por aluno ficou em R$31 mil, em 2018 foi de R$ 23 mil. Os gastos ultrapassam o valor exigido por lei, de 25% do orçamento, chegando a 28,5%. O que faz o prefeito se alegrar e apostar que nos próximos rankings vão se destacar novamente. Para os gestores, o resultado é sinal do trabalho que vem sendo feito na cidade.

Os alunos recebem material escolar, uniforme e transporte gratuito. Além disso, eles também contam com a possibilidade de participar de atividades esportivas e artísticas no contraturno. Nas escolas, não faltam vagas. São três colégios do município: um de educação infantil e dois que atendem os anos iniciais do ensino fundamental. As demais séries são oferecidas na rede estadual. Em 2015, a cidade contava com 75 estudantes, 101 em 2017 e 159 em 2018. O número varia, pois muitas famílias vão morar no local para trabalhar na agricultura e depois acabam se mudando novamente.

Os dados alegram o prefeito, que aposta que vão continuar se destacando, pois em 2019 esses valores vão subir, devido a construção do prédio para a escola de educação infantil, que atende alunos de zero a três anos. A creche hoje funciona no salão da paróquia e possui espaço para 50 crianças. Com isso, também serão ampliadas as ofertas de vagas. “Os números não são altos só por termos poucos alunos, pois a quantidade de estudantes cresceu nos últimos anos e o investimento aumentou”, ressalta Ferrari. A secretária diz que isso é reflexo de uma série de fatores, como o planejamento feito e o número de alunos.

Pensando no futuro

“Acreditamos que investir em educação vai trazer mudanças para o futuro. Sabemos que isso não acontece de uma hora para a outra. A médio e longo prazo, vamos colher os frutos desse investimento”, destaca Angelita. Quando um estudante tem dificuldade de aprendizagem, é feito um trabalho diferenciado, buscando com que o educando possa avançar no conteúdo e construir seu conhecimento de forma significativa. Aluno de inclusão, que possui necessidades especiais, há apenas um em toda a rede, na Educação Infantil.

Para o prefeito, ser destaque nacional é motivo de orgulho e a certeza que estão investindo na base. Ele ainda afirma que esse é o norte da cidade, que futuramente terá bons profissionais e gestores. A secretária de educação enaltece: estamos lançando sementes, no seu tempo, elas vão germinar, essa é a garantia que tem que permear o nosso caminho. Essa segurança no futuro também passa pelo outros profissionais da rede municipal de ensino.

A diretora da Escola Municipal de Educação Infantil de Pinto Bandeira, Silvana Ferrari Detoni, diz que realizou um sonho atuando na creche. Com mais de 31 anos de magistério, ela sempre havia trabalhado com alunos do ensino fundamental. “O educar e o cuidar caminham juntos. Nossa maior preocupação é que as crianças sejam bem assistidas, para que os pais tenham tranquilidade no período que os filhos estão conosco”, ressalta.

Um olhar diferenciado para a educação

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Barão de Mauá, os profissionais carregam no peito o orgulho de fazer parte do município que mais investe em educação. “A educação é a base para a construção do futuro. Aqui não faltam vagas, os professores são bem capacitados e todo material que a gente a precisa, conseguimos por meio do município”, garante a diretora da instituição, Greice Bettoni Tognolo.

Nas duas turmas que funcionam no período da manhã, os alunos escutam atentamente as professoras. Copiando as contas que a docente escreveu no quadro, um aluno reclama: profe, por que não fez contas de mais?. Mas não há tanto tempo desperdiçado chamando atenção de alunos e buscando resolver conflitos, como na maioria das escolas de municípios maiores. A docente do 3º anos, Jovana Paula Bohm, garante que é possível realizar um trabalho diferenciado na cidade.

“Como temos turmas menores, conseguimos aproveitar melhor o tempo, disponibilizar diferentes materiais, trabalhar a parte lúdica. Aqui temos horta e contato com a natureza. A gente tem muito orgulho de fazer parte do município que tem um olhar diferenciado para os alunos e educadores”, afirma Jovana. Ela exalta o trabalho da cidade contando que há atenção para os professores, verificando se estão na função certa, se está conseguindo realizar o trabalho.

Sem avaliações de qualidade

Pelo baixo número de alunos, a cidade não conta com estudos de avaliação da qualidade do ensino, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que avalia o ensino nas escolas. Mas a secretária afirma que estão procurando formas de realizar esse controle dentro do próprio município. “A gente vem pensando em como podemos criar instrumentos a nível de município para verificar o índice dos nossos alunos, para podermos mensurar a qualidade da educação e avaliar as mudanças que precisam ser feitas”, destaca Angelita.

Serra em boa posição no ranking

Mesmo as cidades da Serra com menos investimento estão em uma boa posição no estudo, que traz levantamento dos 5.570 municípios do país. Depois de Pinto Bandeira, Nova Pádua figura em terceiro lugar, com o valor de R$ 16,4 mil. Logo vem Santa Tereza, em 13º. A ONG estima o investimento mínimo por educando para uma boa educação em R$ 4,3 mil, mas 43% das cidades brasileiras gastam menos.