Presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves, Dr. Rodrigo Casagrande Tramontini, explica quais fatores influenciam na baixa oferta de profissionais

Já vem sendo recorrente nas últimas semanas, a reclamação de diversas pessoas pela falta de profissionais para atendimento do público infantil na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h de Bento Gonçalves e consequentemente da demora na espera.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o motivo seria o aumento no fluxo de pacientes que estão procurando o serviço médico, que estaria ligado às mudanças na temperatura e o retorno das aulas. De acordo com informações divulgadas pela Prefeitura, em abril de 2021, foram realizados 1.125 atendimentos pediátricos na UPA. O dado no mesmo período, em 2022, é 149% maior, chegando a 3.031.

Na tentativa de conseguir profissionais para suprir a demanda, a Administração Municipal abriu o processo seletivo 10/2022 que visava a contratação de 14 médicos plantonistas pediátricos. No entanto, apenas duas inscrições para o cargo foram efetivadas.

Em entrevista ao Jornal Semanário, o presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves (Ameb), Dr. Rodrigo Casagrande Tramontini, ressaltou que a questão salarial está relacionada com a baixa procura por inscrições. “O médico, como qualquer cidadão, tem suas necessidades financeiras e, principalmente, custos para manter seu trabalho, que necessita de estudo e atualização constantes. Para se manter como bom profissional, ele precisa frequentar congressos e cursos, assinar periódicos e estudar muito. Isto exige tempo e recursos que não são financiados pelo poder público e precisam ser arcados pelo próprio profissional. Na maioria das prefeituras não há um plano de carreira que dê estabilidade e que premie pelos anos de trabalho; ademais, as empresas terceirizadas geralmente contratam por horas de serviço, sem reconhecer o tempo de trabalho e a experiência do médico. Contando todos esses fatores, para nós é evidente que a oferta salarial dos editais é incompatível com o grau de responsabilidade exigido, com os custos de treinamento e aperfeiçoamento e com as condições de trabalho oferecidas ao médico que pleiteia o cargo”, salienta.

Segundo ele, outra dificuldade é a escassez de pediatras no mercado. “Esta é uma das especialidades mais essenciais e desafiadoras da medicina. Tratar crianças exige coragem e muita dedicação, o risco profissional é grande e o reconhecimento costuma ser pequeno. Como em qualquer profissão, os estudantes de medicina buscam especialidades que remuneram adequadamente, oferecem riscos aceitáveis comparado com os ganhos e dão satisfação. Qualquer pessoa busca isso e na medicina não é diferente; assim sendo, já existe sim uma carência de profissionais especializados na área. Quando você leva seu filho para uma consulta com pediatra, você espera um profissional humano, atualizado, disponível e confiável e isso exige uma boa e longa formação”, explica Tramontini.

O doutor também ressalta a falta de suporte das prefeituras na hora da contratação. “A população precisa saber do desafio imposto ao médico pediatra e da falta de reconhecimento, de remuneração, de proteção e de estímulo à busca de aperfeiçoamento a que eles são submetidos pelo poder público que os contrata”, finaliza.

Ações para ampliar atendimentos

Na segunda-feira, 25, a SMS divulgou ações que estão sendo executadas para agilizar o atendimento pediátrico e desafogar o fluxo na UPA. Entre as medidas, está à abertura da Unidade Zona Sul, como unidade sentinela, das 17h às 21h. O espaço ao lado da UPA, no bairro Botafogo, está recebendo os pacientes considerados como casos leves (fichas verde e azul). Os casos graves ou emergências permanecem sendo atendidos na Unidade de Pronto Atendimento.

Outra ação, foi a ampliação do número de consultas oferecidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), passando de dez para 12, e dois encaixes de emergência, possibilitando assim que os casos mais leves sejam atendidos no próprio bairro.