Economistas avaliam propostas para minimizar os déficits do país e do estado

Se os especialistas são concordantes ao afirmar que as campanhas de Bolsonaro, a nível Federal, e de Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, se deram mais no campo moral e imagético do que necessariamente no âmbito das ideias e dos propostas, características como a juventude do novo governador gaúcho, e o conservadorismo do presidente eleito, pelo menos a princípio, devem ser temas de menor importância, diante dos problemas que os esperam a partir do 1º de janeiro.

Eleito com 55,1% dos votos válidos, o candidato do PSL vai encontrar um Brasil com 13 milhões de desempregados e um déficit nominal na casa dos R$ 159 bilhões. O trabalho do tucano, que venceu com 53,62%, não deve ser menos árduo diante da complicada situação financeira do Estado, que acumula uma previsão de déficit de R$ 7,4 bilhões para 2019.

O cenário econômico para Bolsonaro

Mesmo que os números referentes ao déficit e ao desemprego possam assustar, os especialistas, no entanto, enxergam com algum otimismo as propostas de Bolsonaro. Para Jacqueline Maria Corá, coordenadora do curso de Ciências Econômicas da UCS, o cenário tende a ser favorável ao presidente. “Com o Congresso renovado, ele deverá ter apoio de grande parte dos parlamentares e também da sociedade que está desejosa por mudanças”, afirma. Já o economista Pedro Henrique de Morais Campetti, professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRS), destaca que estamos num processo lento de recuperação pós-crise, mas que o momento é de progresso. “Se o Bolsonaro saber administrar e se portar bem nesse momento de transição, conseguindo implementar algumas politicas, eu vejo que estaremos numa trajetória ascendente na economia”, avalia.

Diminuição da máquina pública

Seguindo a agenda liberal proposta por Paulo Guedes, o presidente deve apostar na diminuição da máquina pública, com propostas como a venda de estatais e a redução dos ministérios, de 29 para 15. Campetti vê a medida com bons olhos. “O Estado brasileiro é muito grande e gasta muito. Considerando nossas características o Estado pesa muito, ele ocupa quase 40% da economia. Eu acho que ele tem que estar mais ativo no que importa pra situação, educação saúde e segurança”.

Jacqueline corrobora com a opinião, atenta, porém, que é preciso haver um cuidado maior, afinal algumas propostas como a fusão do Ministério do Meio Ambiente e o da Agricultura soam arriscadas. “Subordinar o Meio Ambiente ao setor agrícola, em que as questões econômicas e interesses de grupos específicos podem deturpar as propostas legítimas em relação às questões tão importantes ligadas ao contexto ambiental, pode ser muito perigoso”, alerta.

Reforma da previdência

Em sua primeira entrevista à imprensa após a eleição, na TV Record, na segunda-feira, 29, Bolsonaro afirmou que já na próxima semana deve ir até Brasília para conversar com o atual presidente, Michel Temer, na tentativa de aprovar “ao menos em parte” a reforma da Previdência, um dos temas centrais de seu plano econômico.

Também no tocante a esse assunto, os economistas são favoráveis ao novo presidente, mas com ressalvas. Campetti avalia a reforma como essencial, tendo em vista a atual conjuntura demográfica, com os aumentos da população idosa e da expectativa de vida. Afirma, contudo, que é preciso que seja feito um estudo sério sobre sua aplicação e que ela atinja toda a população, levando em conta fatores regionais. “Tem que atingir militares, juízes, servidores públicos, trabalhadores, parlamentares. As exceções tem que ser no sentido de ajudar os menos favorecidos”, aponta. O déficit da Previdência chegou a R$ 270 bilhões em 2017, desses, R$37,6 bilhões dizem respeito à aposentadoria dos militares, a qual Bolsonaro, até então, não se mostra favorável em alterar.

O cenário econômico para Eduardo Leite

Enquanto os economistas avaliam que, mesmo que lentamente, o Brasil está se recuperando, opinam, em contraponto, que a situação econômica do Estado é mais grave. Ciente dos problemas que o aguardam, Eduardo Leite, em seu primeiro e breve pronunciamento após a confirmação de sua vitória, afirmou que vai “suar a camisa” para cumprir suas propostas. Em comitê de campanha, ainda no domingo, 28, reafirmou a necessidade de retomar a negociação da dívida com a União, além de assinalar a proximidade com a iniciativa privada e a “redução da burocracia”, temáticas que permearam sua campanha.

Dívida Pública

Este, que foi o tema mais recorrente nos debates entre o derrotado, José Ivo Sartori, e Eduardo Leite, permanecerá sendo o maior problema para o governo estadual, como afirma Jacqueline. “A situação preocupa, pois temos uma dívida absurda que precisará ser equacionada, seja retomando a negociação iniciada pelo Sartori com governo Federal, seja criando outros mecanismos de negociação, mas o certo é que precisará ser rápido”.

Para Campetti o problema é sério e não ficou claro nas falas de Leite como ele pode ser resolvido. “Tem uma parte do orçamento muito alta que é resultado de pagar os servidores públicos, aposentados e pensionistas e sobra pouco dinheiro para investimento. Como rearranjar esse cálculo é uma situação complexa para o Estado”, enfatiza.

O fator “gestor”

Se durante a campanha de Leite, muito se trabalhou seu papel de “político-gestor”, em contraponto ao tradicionalismo de um candidato da “velha política”, para Campetti, será essencial que essas características se confirmem reais agora. “A expectativa é que ele seja um bom gestor, que ele possa mudar alguma questão sobre investimento”, opina.

No que diz respeito às propostas, Campetti, apesar de não encontrar muitas diferenças entre o tucano e o candidato derrotado, Sartori, acredita que Leite deve ser mais conservador quanto à venda de estatais, tendo então, que encontrar outros caminhos para contornar a crise fiscal do Estado. Ainda segundo o economista, as melhores apostas do novo Governador são as que dizem respeito à aproximação com a iniciativa privada e o incentivo ao empreendedorismo. “No curto prazo, ele tem que arrumar as contas públicas; em longo prazo, não vejo muita expectativa no papel do Estado, a saída é atrair investimentos, desenvolvendo nossos potenciais, como o agronegócio e o turismo, por exemplo”, finaliza.