Dom José Gislon, que foi anunciado novo bispo diocesano na manhã desta quarta-feira, 26, afirma que o diálogo entre Igreja e setores da sociedade é primordial para alcançar o bem comum de todas as comunidades

A Diocese de Caxias do Sul já conhece o seu novo bispo: foi divulgado na manhã de quarta-feira, 26, o nome do substituto de Dom Alessandro Ruffinoni. Será o frei José Gislon, que atualmente comanda a Diocese de Erechim, na região norte do estado.

O anúncio, realizado por meio de uma live na página oficial da Diocese no Facebook, informou os trâmites legais para a transferência do comando. O documento oficial, com a informação da nomeação foi encaminhado pelo núncio apostólico, dom Giovanni D’Anielo, no dia 13 de junho e lido, na íntegra, durante a divulgação do nome do novo bispo.

Dom Frei José Gislon, da ordem dos Frades Menores Capuchinhos, assume oficialmente a Diocese de Caxias do Sul, no dia 8 de setembro, às 15h, na Catedral, em Caxias, durante o aniversário de 85 anos da criação da diocese da cidade. O primeiro encontro do futuro bispo na Serra com os padres da região está programado para o dia 15 de julho no Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha.

A mudança no bispado ocorre devido a renúncia de Dom Alessandro, que completou em agosto de 2018, 75 anos, o que obrigado o religioso a solicitar o pedido ao Vaticano. A solicitação, realizada em 16 de maio do ano passado, foi aceita pelo Papa Francisco, baseada no Código de Direito Canônico, em seu item 401, a apresentação da renúncia do ofício ao Sumo Pontífice.

Dom Alessandro agradeceu a oportunidade

Em coletiva de imprensa, o atual bispo, dom Alessandro Ruffinoni saudou a decisão do Papa Francisco e disse que a vinda de dom Gislon dá maior visibilidade à Diocese de Caxias do Sul. “Acolho esse irmão que vem trazer à nossa diocese maior importância, visto que, é o presidente da CNBB – Regional Sul 3. Desejo um bom trabalho, saúde, luz e muita alegria para servir esta porção da Igreja que é a Diocese de Caxias do Sul. Agradeço a oportunidade em estar à frente desta diocese pela experiência que tive”, afirma.

“Quero envolver as pessoas, lideranças e as comunidades”, diz novo bispo

Em entrevista a reportagem do Semanário, dom Gislon disse estar muito agradecido pela confiança que o Papa Francisco depositou em sua pessoa ao nomeá-lo para bispo diocesano e “espera não decepcionar o povo de Deus”, afirma. O religioso disse ainda que toda transferência mexe com a comunidade, mas que o chamado de Deus deve ser aceito com alegria. “Estou a serviço. Não sou o dono”, explica.

O novo bispo disse ainda que as duas dioceses (Erechim e Caxias do Sul) possuem tamanhos demográficos distintos, mas que as realidades culturais são muito próximas, devido a colonização. “A diocese de Erechim foi desbravada por pessoas oriundas da região serrana. Acredito que vou me sentir em casa”, espera.

Indagado sobre suas principais áreas de atuação, dom Gislon diz que busca conhecer as realidades de toda a sociedade. “Venho da espiritualidade franciscana, logo, busco ajudar aqueles mais necessitados, o irmão caído, os excluídos. Mas penso que precisamos envolver todos os setores: sejam eles empresariais, educacionais, políticos, entidades, entre outros. É isso que gera vida e dinâmica na diocese”, garante. “Hoje, a Igreja tem a missão de suprir essa sede de Deus que o povo tem. A função do bispo é ser pastor para todos. Não estamos aqui para fazer segregação e sim, comunhão”, salienta.

Expectativa das paróquias de Bento

Sem um profundo conhecimento do novo bispo, os párocos das paróquias de Bento Gonçalves avaliam a chegada de dom Gislon e apontam as necessidades urgentes que precisam ser debatidas com o líder e as comunidades pertencentes às 74 paróquias existentes na diocese de Caxias do Sul. O novo bispo será o quinto na história da diocese. Além de dom Ruffinoni, assumiram a liderança religiosa dom Nei Paulo Moretto (de 1983 a 2011), dom Benedito Zorzi (de 1966 a 1983) e dom José Barea (de 1935 a 1951).

O pároco da paróquia Santo Antônio, Ricardo Fontana, avalia positivamente a nomeação, mesmo não conhecendo o novo bispo. Fontana salienta a escolha de um franciscano como pastor da diocese. “Mesmo não o conhecendo, ouvi dizer que ele tem um perfil de bom pastor e como franciscano segue a linha do Papa Francisco. Trabalha com humildade. Sabe ouvir e se aproximar do povo e dos padres com simplicidade e ao mesmo tempo com firmeza nas decisões”, explica. Para Fontana, Dom Gislon será bem acolhido pelas comunidades. “Alegria de ter um novo bispo franciscano, especialmente para Bento Gonçalves que tem Santo Frei Antônio como padroeiro do município”, garante.

Para o padre da Paróquia Cristo Rei e coordenador diocesano, Gilmar Marchesini, a função de um bispo, além de gerir a diocese é possibilitar a concretização do chamado plano de pastoral. A expectativa de Marchesini é de que o novo bispo auxilie na elaboração de um plano comum, para todas as paróquias, comunidades, serviços e pastorais, a fim de oferecer a unidade e missão para toda a diocese. “Mesmo não o conhecendo muito, pois tive pouquíssimo contato, ano passado tive a oportunidade de acompanhar suas pregações em nosso retiro, e o que eu posso dizer é que a vinda de Dom Gislon dê uma nova vitalidade a toda a Igreja”, espera.

Padre Gilmar espera que novo bispo priorize o diálogo entre as comunidades.

Segundo o Marchesini, com as rápidas mudanças do cotidiano, a Igreja também necessita estar atenta às novidades, em especial, com a cultura das tecnologias. “Espero que Dom Gislon venha para dar um novo vigor, principalmente, na criação de novos ministérios que a Igreja necessita”. O religioso disse ainda que é necessário maior atenção junto à ordenação de novos sacerdotes. “Hoje, a falta de padres já é uma realidade. As comunidades crescem, os bairros ficam enormes e temos poucos seminaristas. Nós precisamos de uma nova mentalidade em torno dos ministérios da Igreja para podermos evangelizar melhor as novas pessoas e não deixarmos os espaços vazios, para que outros não ocupem”, garante.

Marchesini espera que o novo bispo tenha tempo para escutar os padres da Diocese, sobre os trabalhos e projetos que cada um realiza para que novas decisões sejam tomadas com conhecimento. “Que ele possa visitar todas as paróquias para conhecer, ouvir, se entrosar com as pessoas, afinal de contas, o bispo é sempre um bom pastor. Espero que Dom Gislon conheça todas equipes, grupos de trabalho e que haja o diálogo para conduzir da melhor maneira tudo o que já vem sendo trabalhado há bastante tempo”, reitera. O pároco espera ainda que o novo bispo consiga organizar, em definitivo, o método adequado para a catequese. “Encontrar um caminho que ajude as crianças e jovens a andarem em um caminho comum de formação catequética”, observa.

O pároco da paróquia São Roque, Daniel D’Agnoluzzo Zatti, a vinda do novo bispo deve ser celebrada por todos. De acordo com o religioso, a divulgação do nome do novo líder era esperada há tempo por cerca de um milhão de católicos pertencentes a diocese. Questionado sobre as necessidades que a diocese carece, Zatti acredita que o próprio religioso irá perceber aos poucos, assim que tomar conhecimento da realidade da região. “Acolho com alegria a vinda de dom Gislon. Tenho a expectativa de que ele assuma nossa diocese com o espírito franciscano, capuchinho, com os sentimentos de paz e bem. Acredito que ele saberá quais rumos seguir”, afirma.