Campanha Fevereiro Laranja tem como objetivo trazer conscientização sobre a leucemia e a importância de se levar uma vida saudável

Embora o alerta deva ser constante, é no mês de fevereiro que emerge uma importante campanha de conscientização sobre o tipo de câncer que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), deve atingir mais de 11 mil pessoas no Brasil em cada um dos anos do triênio 2023-2025.
O Fevereiro Laranja destaca a importância do diagnóstico e do tratamento precoce da leucemia, doença que está em 9º lugar entre os tipos de câncer mais comuns em homens e em 11º entre as mulheres. Este tipo de câncer afeta os glóbulos brancos do sangue, conhecidos como leucócitos, que acabam por reproduzir células doentes na medula óssea.

A leucemia faz parte dos 18 tipos de câncer que mataram mais de três milhões de pessoas no país. A doença é diagnosticada através do hemograma, que é o principal exame de sangue para suspeita inicial do diagnóstico.

A detecção precoce da leucemia é essencial para um tratamento com maior chance de sucesso. Em caso de leucemias agudas, há a indicação de quimioterapia, controle das complicações infecciosas e hemorrágicas e prevenção ou tratamento da infiltração no Sistema Nervoso Central (cérebro e medula espinhal). Para alguns casos, também pode ser indicado o transplante de medula óssea.
A imunidade do paciente fica prejudicada e, em decorrência disso, aparecem as infecções. Conforme orientação dos especialistas, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são imprescindíveis para aumentar as chances de cura.

De acordo com Victor Hugo da Rocha Lenz Pereira, hemato-oncologista do Instituto do Câncer do Hospital Tacchini, os principais sintomas de alerta são fadiga, fraqueza, infecções recorrentes, sangramentos, hematomas, dores articulares e ósseas, inchaço e dor abdominal, perda de peso inexplicada, febre e sudorese noturna, dificuldade para respirar e inchaço nos gânglios linfáticos.
O médico ressalta que é fundamental que qualquer pessoa que apresente sintomas persistentes, especialmente aqueles mencionados acima, busque atendimento para uma avaliação adequada. “É importante observar que muitos casos de leucemia ocorrem em indivíduos sem fatores de risco conhecidos, e a compreensão completa das causas da leucemia ainda está sendo pesquisada. O diagnóstico precoce é crucial para o tratamento eficaz da doença”, expõe.

Apoio é fundamental

Em entrevista ao Semanário,M.P.S, que preferiu não se identificar, conta que procurou atendimento médico logo após sofrer um acidente de trabalho, quando, logo após, percebeu sintomas que não tinha antes, como fraqueza e falta de apetite. “Fiz vários exames até identificar a leucemia. Desde então, faço um tratamento diário com medicação controlada”, conta o trabalhador, hoje com 42 anos.
O acidente, ocorrido há cerca de cinco anos, foi o despertar da doença. Antes, a exposição a agentes tóxicos já vinha originando sinais de que o organismo estava fora de sua normalidade. “Tive contato com produto químico nas minhas funções de trabalho, inclusive com um episódio de parar no hospital por conta de intoxicação com um vazamento em uma máquina”, relata.

Ainda que o câncer seja apontado como uma doença complexa e multicausal, existe um conjunto importante de cânceres provenientes da exposição ocupacional e que poderiam ser evitáveis. O INCA aponta que a relação da leucemia com a exposição dos trabalhadores está associada a alguns tipos de agentes causadores da doença: agrotóxicos, amianto, sílica, benzeno, xileno e tolueno. Fatores evitáveis como o tabagismo também aparecem na listagem.

Contudo, o paciente soube dessa periculosidade somente após o diagnóstico, ainda mais pelo fato de não ter nenhum familiar com histórico da doença. “Quando descobri a leucemia não tive muito apoio, nem da família nem no trabalho, mas fui atrás para saber de onde poderia ter vindo essa doença”, comenta. Ele conseguiu apoio e acolhimento na Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, recebendo cestas básicas, já que, no momento, conta com auxílio doença, mas não sabe se vai conseguir voltar a trabalhar, devido à imprevisibilidade da doença.

Preferindo não se identificar, a professora S.G.R relata como a leucemia desencadeou o desenvolvimento de um câncer de pele em seu pai, de 79 anos. Diagnosticado com a doença no sangue há cerca de duas décadas, foi há dois anos que surgiram os melanomas na pele. “A leucemia foi o início, e agora o câncer de pele vem o debilitando ainda mais. Os médicos sempre foram bem empenhados em resolver, mas houve demora para a realização da cirurgia na cabeça, o que prejudicou o tratamento. Entendemos que são diversos casos, mas a doença progride muito rápido e exige agilidade nas ações de combate”, ressalta.

Ela conta que o suporte da família, pessoas queridas e entidades especializadas faz uma grande diferença no tratamento do paciente, pois o governo não consegue atender a todos. “São muitos gastos envolvidos no tratamento de alguém com câncer. Precisávamos de auxílio com um suplemento alimentar que ajuda no tratamento para fortalecer o organismo, indicado pela nutricionista do hospital. Felizmente, através da Liga, conseguimos esse suplemento”, conta agradecida.

É possível superar

Laís Picoli, de 36 anos, tinha recém se mudado para Rio Grande para fazer faculdade, no ano de 2011. Após um mês na cidade, começou a se sentir muito cansada e com dores de cabeça. Foi então que decidiu procurar atendimento médico, que pediu um hemograma completo. O resultado dos exames apresentava alterações importantes, confirmando o diagnóstico de leucemia.

A primeira ação foi receber uma transfusão de plaquetas, que gerou uma reação alérgica. Foi necessário ir até a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre de ambulância, onde a paciente ficou internada por 40 dias. “Na época, não sabia muito sobre a doença, fui aprendendo conforme as coisas iam acontecendo. Só depois fui descobrir que tinha apenas 25% de chance de sobreviver, devido ao estágio avançado da leucemia”, relembra.

Laís respondeu muito bem ao tratamento, passando por mais de um ano de quimioterapias e dois anos de medicação oral. Como consequência do tratamento agressivo, teve necrose na cabeça do fêmur das duas pernas, necessitando de cirurgia para colocação de prótese. “Precisei reaprender a caminhar e voltar a me enxergar como mulher. Após a alta, fiz sete anos de psicoterapia, foi todo um processo”, comenta.
O apoio dos amigos e da família foi imprescindível para o sucesso do tratamento de Laís. Houve grande mobilização por parte dos amigos, que alugaram uma van e foram a Porto Alegre para doar sangue a amiga. Ela considera que a maior prova de que seu corpo está saudável de novo, foi ter se tornado mãe e ter amamentado sua filha por mais de dois anos.

Mesmo tendo vivido dias difíceis, Laís sempre tinha um sorriso no rosto, foco na cura e esperança de retomar sua vida normalmente. “Encarava essa fase da vida como se fosse um parêntesis, que logo iria fechar e voltar para minha rotina. Havia um enfermeiro que vinha me visitar e dizia que eu tinha uma luz que até melhorava seu dia. Vivi dias de dor, mas também de muita entrega”, finaliza.

Acolhimento

Entidades como a Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves e o Instituto do Câncer do Hospital Tacchini endossam essa campanha neste mês, como forma de visibilizar ainda mais o apelo pelos cuidados com a saúde e a cobrança pelo tratamento adequado aos pacientes acometidos pela doença.
O Centro Assistencial Andressa Zietolie, estrutura que é referência regional, conta com consultórios, banco de perucas, sutiãs, lenços, fraldas e toucas e um espaço para atendimento psicológico para toda a família (bem como fisioterapêutico e fonoaudiológico), além do banco de alimentos. O local é capaz de atender até 14 pessoas de forma concomitante na área da hospedagem – oferecida para quem mora em outras cidades e necessita passar por tratamento em Bento Gonçalves.

A sede da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves fica na Rua Ramiro Barcelos, número 580, e atende pelo fone (54) 3451.4233. Sua localização é estratégica, no centro da cidade, ao lado do Hospital Tacchini – instituição de referência no tratamento oncológico na região, que ultrapassou o número de 30 mil atendimentos oncológicos, sendo 17 mil sessões de quimioterapia e 11 mil de radioterapia, somente no ano passado.

O Instituto do Câncer do Hospital Tacchini tem acesso pela Rua General Osório e conta com cerca de 1,5 mil m² para atendimento oncológicos.

Como reduzir as chances de desenvolver leucemia

Segundo o hemato-oncologista Victor Hugo da Rocha Lenz Pereira, atualmente, não há medidas específicas de prevenção primária conhecidas para evitar a manifestação da leucemia, frequentemente associada a alterações genéticas e mutações que ocorrem ao acaso, que muitas vezes não têm uma causa clara.

No entanto, existem algumas diretrizes gerais que podem ajudar a reduzir o risco de certos tipos de leucemia, como:

  • Evitar Exposição a Agentes Tóxicos: minimizar a exposição a substâncias tóxicas conhecidas por estar associadas ao risco de leucemia, como produtos químicos industriais e agentes quimioterápicos
  • Promover um Estilo de Vida Saudável: manter uma dieta balanceada, praticar atividades físicas regularmente, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool
  • Proteção contra Radiações Ionizantes: evitar exposição desnecessária a radiações ionizantes, como aquelas provenientes de exames de imagem médica, quando possível
  • Cuidados Durante a Gravidez: receber um bom acompanhamento pré-natal e evitar exposição a substâncias prejudiciais durante a gravidez pode ser importante para a saúde da criança
  • Conscientização Genética: se houver histórico familiar de câncer, o aconselhamento genético pode ser considerado para avaliar o risco hereditário e tomar medidas preventivas, se possível.