Entrevista coletiva realizada na tarde deste domingo, 15, no Tacchini, foi motivada pela série de boatos e notícias falsas que surgiram com as suspeitas da doença

Desde que surgiu em Wuhan, na China, no final de 2019, o coronavírus (Covid-19), tem levado muitas dúvidas e espalhado pânico pelos países em que há confirmação de casos. Tudo porque seu alastramento é extremamente rápido e o número de mortes, principalmente entre os idosos, têm preocupado as autoridades da área da saúde. Porém, o que mais preocupa em todo o mundo é não só o alarde, mas principalmente a quantidade de notícias falsas (fake news) sobre as formas de contágio, os tratamentos caseiros milagrosos e até as medicações que podem evitar o contágio que, na verdade, segundo a própria medicina, podem interferir e até mascarar os sintomas.

Em Bento Gonçalves três casos suspeitos já foram descartados, ao passo em que dois continuam em analise, sendo um de um homem na faixa etária de 60 anos, eu retornou do Paraguai e procurou o sistema de saúde com febre e dificuldades de respirar e, outro, de uma mulher, na faixa dos 50 anos, que retornou dos Estados Unidos, com febre e sintomas respiratórios. Ambos estão bem e foram orientados, conforme preconiza o Ministério da Saúde, a ficar em isolamento domiciliar. Eles passaram por exames que foram encaminhados para análise no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen).

Na tarde deste domingo, 15, o  diretor Superintendente do Hospital Tacchini, Hilton Mancio, acompanhado pela médica infectologista, coordenadora do setor de infectologia da instituição, Nicole Alberti Golin e pelo secretário Municipal de saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, estiveram reunidos com a imprensa a fim de falar sobre a realidade dos fatos e desmentir notícias que vêm alarmando a comunidade.

Mancio abriu a explanação explicando a transparência das ações que visam, principalmente, evitar que boatos se espalhem e que se crie pânico e alarde entre a população. “Há cerca de 15 dias fomos chamados pelo prefeito Guilherme Pasin que, tão logo começaram a surgir os casos suspeitos no Brasil, criou um comitê objetivando levar todas as informações, de modo claro, objetivo e transparente para a população. É nestes boletins, é nestas informações, que as pessoas precisam acreditar”, ressaltou. O diretor frisou ainda que não adianta se dirigir às instituições de saúde para realizar testes sem ter viajado para algum dos países em que há casos confirmados e sem ter tido contato com pessoas que viajaram, pois o protocolo definido pelo Ministério da Saúde não funciona desta forma e os exames não serão feitos em larga escala.

Conforme a médica, o sistema de saúde, tanto público quanto privado, tem todo preparo para lidar com a situação, mas não vai ter recursos suficientes se a população não souber como conduzir. “Bento Gonçalves está se preparando no sentido de chegar na frente. Restringimos visitas no Hospital e queremos que as pessoas evitem circulação de pessoas em locais que possam disseminar contaminação. O Hospital não é lugar para ir, pelo menos nesse momento. Não vamos abrir mão disso por questões de segurança, tanto para a população, quanto para os funcionários”, disse ela. Nicole recomendou, ainda, que as pessoas mudem suas rotinas. “O que puder se evitar de locais como jantares, encontros, sessões religiosas, enfim, tudo o que puder se reduzir, deve ser reduzido. Podemos não ser uma Itália, mas temos que começar a nos mobilizar antes de perder o controle. A cidade vai ter que reduzir seu ritmo. Não é uma questão de pânico, mas sim de antecipação de risco. Se a população for colaborativa, o desfecho será melhor para todo mundo”, assinalou.

A médica ressaltou que idosos, pessoas com câncer e outras doenças estão no grupo de maior risco. “Estas pessoas têm que se resguardar, inclusive dentro das próprias famílias. As crianças não têm tanto risco, por este vírus não costuma acomete-las, mas elas são potentes vetores. Elas portam o vírus e transmitem. Este é o motivo da recomendação de ter menos contato de crianças com pessoas idosas nesse momento. O sistema de saúde está bem estruturado, mas temos um limite para suprir o atendimento. Por isso a importância do resguardo e dos cuidados em casa”, sugeriu.

Em meio à explanação da infectologista, o Diretor da casa de saúde enfatizou a importância de pensar no coletivo. “A tendência natural que temos, pela nossa cultura, é chegar nos lugares e cumprimentar as pessoas, dar a mão, abraçar. Esse hábito precisa ser interrompido. É difícil, porque é automático, mas precisamos mudar. Não é falta de afeto, é proteção a si e a todos que estão à nossa volta”, lembrou Mancio.

O Secretário de Saúde complementou afirmando que dificilmente o Município passará ileso, sem o registro de casos, mas se forem seguidas as recomendações, o pior será evitado. “Estamos vivendo uma situação que, por mais que se diga que existem formas de evitar, Bento Gonçalves não é uma ilha. Temos que fazer um planejamento muito bem organizado. Tenho certeza que nenhuma cidade no Estado tem um fluxo tão planejado quanto o nosso. Porém, os protocolos do Ministério da Saúde mudam com muita frequência. Isso gera muita dúvida. Portanto, é importante que as pessoas saibam que existem normas a serem seguidas e nós iremos segui-las. A população precisa manter a calma, manter o controle”, frisou Siqueira.

As principais recomendações dos sistemas de saúde de Bento Gonçalves:

– Cuidado com os repasses de informações e notícias falsas. Isso é um desserviço para a saúde e para a comunidade.

– Os serviços de saúde estão planejados e estruturados para uma situação que possa a vir piorar. Manter a calma é fundamental.

– A vacinação contra a Influenza é fundamental esse ano. Se as pessoas estiverem vacinadas e, mesmo assim, apresentarem sintomas, será mais fácil de identificar os casos de coronavírus.

– As mãos devem ser higienizadas com bastante frequência. Em casa, água e sabão são suficientes. Nos demais locais, importante ter sempre álcool gel para realizar a assepsia.

– As pessoas devem evitar os cumprimentos sociais, como apertos de mão e abraços.

– Em casos de retorno de viagens o isolamento domiciliar é primordial, por pelo menos uma semana. Quem puder deve trabalhar em casa.

– Os idosos devem ser resguardados, como também pessoas de grupos de maior risco, como pacientes em tratamento de câncer e diabéticos.

– Todos devem evitar a circulação por locais de muita frequência de público, como shoppings, cinemas, restaurantes, missas, festas, bares e casas noturnas, entre outros.

– Ambientes também precisam ser higienizados com regularidade.

– É absolutamente desnecessário realizar estoque de mercadorias.

– Acompanhar diariamente os boletins emitidos pelo Comitê de Combate ao Coronavírus, emitido pela Prefeitura de Bento Gonçalves diariamente às 11h.

Sinais para atendimento:

– Ter viajado nos últimos 14 dias para países ou locais onde há confirmação de casos da doença.

– Apresentar febre (não adianta se dirigir ao Hospital e à Unidade de Pronto Atendimento sem ter a temperatura corporal elevada).

– Apresentar algum sintoma respiratório, como tosse seca, dor de garganta, falta de ar ou muita coriza.

Se mesmo com todos os esclarecimentos ainda existirem dúvidas, o telefone para contato, criado especialmente para o caso, é o 150.