No município, quatro menores de 16 anos se tornaram mães em 2021. Em 2020 foram sete registros. Maior incidência, desde 2017, é nos bairros Municipal, Ouro Verde, Eucaliptos, Vila Nova, Progresso, São Valentim e São Francisco

Um relatório feito por especialista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e divulgado neste mês demonstra que, no Brasil, mães adolescentes foram responsáveis por 23,4% do total de nascidos vivos em 2000. No último ano do levantamento, 2019, o índice caiu para 14,7%. Apesar da evolução, o cenário segue preocupante no país.

Na região Sul, a cada mil meninas de 10 a 14 anos, 3,1 ficaram grávidas em 2000. Em 2019 o número caiu 51,2%, e na mesma proporção, 1,5 engravidaram. Para as de 15 a 19 anos o número é bem maior: a cada mil, 76,1 ficaram grávidas em 2000 contra 39 em 2019, com redução de 48,8%. Por mais que os dados pareçam irrisórios por se tratarem de três estados do Sul, no início do ano, a Febrasgo, em nota, também apontou que 2019 contabilizou 19.330 nascimentos no país, o que significa que a cada 30 minutos, uma menina de 10 a 14 anos se tornou mãe.

Em Bento Gonçalves, o número de menores de 16 anos que se tornam mães se altera conforme passam os anos. Em 2017, foram seis registros; em 2018 houve oito mães adolescentes; em 2019, mais nove nascimentos; em 2020, sete e, até agora, 2021 já registrou quatro gestantes desta faixa etária. Segundo dados divulgados pelo Programa Saúde da Mulher, houve maior incidência nos bairros Municipal, Ouro Verde, Eucaliptos, Vila Nova, Progresso, São Valentim e São Francisco.

A ginecologista Fernanda Giacomello afirma que a menina sofre mudanças corporais até os 19 anos. “Porém, do ponto de vista físico, o corpo da mulher está preparado para uma gravidez após os dois anos da primeira menstruação”, explica.

Apesar disso, há riscos para a saúde da mãe e do bebê. “A gravidez na adolescência está associada a maiores complicações, tais como: hipertensão gestacional, prematuridade, infecção urinária, dificuldades no parto, baixo peso ao nascer e também maior risco de infecções no pós-parto”, pontua.

A melhor maneira de evitar as consequências é evitando uma gestação indesejada. “Existem diversas formas de prevenção. Atualmente é recomendado como primeira escolha os métodos contraceptivos de longa duração, pois são altamente seguros e eficazes e não dependem tanto da usuária. Exemplos desses são os dispositivos intrauterinos e os implantes subdérmicos. É importante lembrar que esses não previnem as doenças sexualmente transmissíveis e por isso, não dispensam o uso de preservativo”, destaca.

A médica esclarece que para evitar uma gravidez fora do momento ideal, não existe idade certa para que a família comece a ensinar a menina sobre sexualidade. “A educação sexual deve ser iniciada ainda na infância de forma adequada à maturidade da idade, sempre respondendo de forma direta e sem metáforas”, sublinha.
Ela recomenda que algumas informações importantes devam ser esclarecidas. “Vale lembrar que nessa fase se deve informar os cuidados com o corpo e o conceito de privacidade. Por volta dos dez anos, se a criança não manifestar curiosidade sobre o tema, ele deve ser abordado”, aconselha.

Aspectos psicológicos

A psicóloga Janice Cavalini explica sobre mudanças que podem acontecer na mente de uma adolescente por conta de uma gravidez. “A gestação é a etapa muito importante na vida da mulher. É difícil afirmar que existe uma idade ideal para ser mãe, porém, sabemos que na adolescência há uma grande oscilação de sentimentos e a personalidade não está ainda completamente formada. Ser mãe nessa fase é difícil, pois a adolescente está em transição da infância e ainda tem dificuldades em saber qual o seu papel na família, principalmente. As responsabilidades tornam-se muito maiores e muitas sentem-se perdidas e sem apoio”, frisa.

Janice ainda explica que quando a gestação ocorre cedo demais a adolescente é obrigada a ter responsabilidades para as quais ainda não está preparada. “Em algumas situações o cuidado do bebê é delegado para pessoas próximas da família, para que a mãe consiga continuar estudando, principalmente. São comuns casos de depressão e ansiedade decorrentes dessas grandes mudanças que acontecem na sua vida”, realça.

Ter o suporte dos pais e entes queridos é essencial durante esse período. “Nesse processo o apoio da família é fundamental para que tanto a criança quanto a mãe possam se desenvolver saudáveis e fortes para enfrentar as mudanças que a vida vai trazer”, pondera.

Em Bento

A enfermeira do Programa Saúde da Mulher, Evelise Bender, explica que o município conta com o projeto Gravidez tem Hora, onde é ofertado implante anticoncepcional para as adolescentes que já possuem uma gestação. “Também tem o programa Saúde do Escolar, no qual são realizadas palestras em todas as escolas para orientação em saúde sexual e reprodutiva”, enfatiza. A atividade é desenvolvida em conjunto pelos programas Saúde da Mulher, Saúde do Homem e Saúde da Criança, e teve pausa por conta da pandemia.

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