Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Logística e Transportes fala sobre sua atuação, metas, dificuldades e visão sobre temas como pedágios, situação de rodovias e mobilidade

Fernando Parisotto é natural de Vista Alegre do Prata, mudou-se para Bento Gonçalves em abril de 2008, formado em Direito, especialista em Direito Tributário e pós-graduando em Direito e Processo do Trabalho. No âmbito profissional iniciou como estagiário na empresa Transportes Bertolini Ltda., em 2008, onde atua há 14 anos. Atualmente é gerente corporativo do departamento jurídico da empresa. Casado com Edivania Maria Scopel Parisotto e pai de Gabriela, de 3 anos, e Miguel, de 9 meses.

Em 2013 participou do processo eleitoral do Sindicato dos Trabalhadores em Logística e Transportes (Sinditrans) como vice-presidente e em 2014 assumiu a presidência do sindicato, estando há oito anos à frente da entidade. Com uma gestão de meia década, Parisotto segue com seu mandato até novembro de 2023.

Realizações

O objetivo alcançado é de manutenção de um trabalho sólido realizado pelos dirigentes que passaram pela administração do sindicato. É um processo de continuidade, de manutenção da entidade e principalmente por avanços em questões relacionadas a benefícios sociais.

Cláusulas sociais, antes não existentes nas normas coletivas firmadas pelo Sinditrans, foram acrescentadas no decorrer dos anos. Como exemplo, a inclusão de benefício aos trabalhadores nos meses com 31 dias, antes não previsto no setor de transporte rodoviário de cargas, muito comum no setor industrial, mas não aplicado ao segmento de serviços, que conseguimos progredir com o apoio do sindicato patronal. Essa foi uma grande conquista para a categoria, a inclusão desse benefício social para todos os trabalhadores do setor de transportes rodoviário de cargas.

Diretoria

O Sinditrans é composto por uma diretoria, eleita pela categoria, e todos participam de forma ativa, sempre quando convocados para deliberar sobre questões pontuais de administração do sindicato e de assuntos relacionados as condições de trabalho, além das renovações das convenções coletivas. São integrantes da direção da entidade a Salete Marangon Ribeiro, vice-presidente. Temos como primeiro e segundo secretários Odair Roberto Karling e Valdemar Domingos Faqui; primeiro e segundo tesoureiro, Alcindo Soranzo e Gilmar Menegotto; diretor patrimonial Ivanir Rossatto, e suplente Luiz Carlos Ferreira Borges. Os integrantes do conselho fiscal são Rejane Rech e Juliano Palinski. Todos fazem parte de empresas de transporte rodoviário de cargas ou de transporte coletivo de passageiros de Bento Gonçalves e região.

Os sindicatos foram afetados pela reforma trabalhista exatamente pelo fato de que foi suprimida a principal fonte de custeio da entidade.

Metas

Passamos por um momento de turbulências na administração do sindicato nos últimos tempos. Uma delas, a reforma trabalhista, que ao mesmo tempo foi e é necessária, precisa continuar avançando. Ao mesmo tempo que deu responsabilidade e autonomia às entidades sindicais, ela pecou no financiamento das entidades. Concordo com seus termos quando ela dispõe que ninguém é obrigado a contribuir com o sindicato, mas discordo a partir do momento em que sou obrigado, como entidade, a representar uma categoria que nem todos participam, nem todos contribuem, nem todos financiam a sua manutenção. Esse é um pequeno gargalo que precisa ser revisto. A reforma foi salutar porque deu responsabilidade e autonomia aos sindicatos, tanto patronal, como laboral, mas nesse aspecto do financiamento, estabelecendo novos critérios para manutenção da estrutura sindical, não só do Sinditrans, mas como as demais entidades aqui da região e do país a fora, precisa ser melhorado.

Associados

O número de associados infelizmente está reduzindo. Até mesmo pelo fato de que a reforma acabou, em certo ponto, afastando o trabalhador da entidade sindical. Atualmente estamos com aproximadamente 300 associados, mas nossa categoria é muito maior que isso, é de 3 a 4 mil trabalhadores em todo o setor na abrangência territorial do Sinditrans. Então é um percentual muito baixo. O que necessitamos é uma conscientização maior da categoria em participar mais da entidade, de ter uma consciência coletiva que se faz necessária. Temos empresas sólidas na nossa região, que muito fazem, então são poucos os desgastes, os desajustes, mas a gente precisa avançar. Para isso, precisamos ter uma categoria forte, com a participação de todos os trabalhadores, não apenas dos associados e dos dirigentes sindicais.

A nossa base territorial é composta por onze municípios. A sede do Sinditrans fica na Capital Nacional do Vinho e a categoria é composta por trabalhadores do setor de transporte rodoviário de cargas, transporte de passageiros e empregados que laboram em estações rodoviárias. São três categorias abrangidas e que, de fato, precisam do envolvimento e do engajamento de todos esses trabalhadores.

Benefícios

Para integrar o sindicato é preciso um pedido do trabalhador. Quem desejar fazer parte do quadro de associados tem que se deslocar até a sede do Sinditrans ou, por intermédio do empregador, buscar um pedido de associação. Preenche-se uma ficha de cadastro, há uma mensalidade de 20 reais para poder usufruir de benefícios, que não são os que estão em convenção coletiva, mas como os médicos, dentistas, psicólogos, reembolso de consultas nas especialidades que não há atendimento de convênios firmados pela entidade e atendimento jurídico. Depois do pedido, existe um período de carência para começar a usufruir dos benefícios que ofertamos à categoria, inclusive podendo estender em algumas situações aos dependentes.

Prezamos em disponibilizar aos associados benefícios voltados à saúde. Ao lazer, precisaríamos ter um engajamento, uma estrutura muito maior do que temos. Então o que nos permitimos e nos comprometemos em fazer foi justamente conceder auxílios voltados a essa área, que acho que é o mais importante e o mais determinante na qualidade de vida de cada trabalhador.

Convenção coletiva

O que temos de novidade é que a partir de 2017, com a reforma trabalhista, tudo que existia na convenção coletiva todo ano precisa ser renovado. Então, sejam benefícios como prêmio por tempo de serviço, diferenças de adicionais noturno ou de hora extra, dias 31, diárias de viagem, reembolso de despesas, todos eles que não estão previstos em lei, precisam ser renovados a cada ano. Assim, todo ano é necessário negociar com os sindicatos patronais e empresas a manutenção das cláusulas existentes e avançar com pautas específicas que são apresentadas pelos trabalhadores.

O reajuste salarial é um exemplo. Há quem entenda que o reajuste é obrigatório anualmente, mas não é. Ele precisa ser negociado todos os anos entre as entidades de classe. Se não for, cabe ao empregador, se desejar, e desde que o trabalhador não receba apenas um salário mínimo nacional, de forma voluntária, conceder o reajuste.

Reajuste

Houve reajuste. No setor de transporte rodoviário de cargas foi de 12,47% e no setor de transporte de passageiros foi de 12,4%. Este último, um índice acima da inflação, então o pagamento foi fracionado em duas parcelas, sendo a primeira paga em julho e a segunda será em janeiro de 2023.

Sindicato está avançando?

Os sindicatos foram afetados pela reforma trabalhista, exatamente pelo fato de que foi suprimida a principal fonte de custeio da entidade. Não conseguimos avançar na questão estrutural do sindicato, mas conseguimos evoluir nas negociações coletivas, fortalecendo o que já existia, na manutenção do que tínhamos como benefícios sociais, mas avançar em áreas de lazer, em novos benefícios médicos, odontológicos, não conseguimos. Reitero que concordo que ninguém pode ser obrigado a contribuir com o sindicato, o que eu não concordo é ter que representar quem não quer ser representado.

Mobilidade

A questão da mobilidade é algo que ano após ano precisa ser melhorada. O poder público municipal necessita pensar coletivamente e identificar os gargalos existentes nas condições de trânsito do município. Buscar apoio das entidades representativas, da sociedade em geral, inclusive para questionar pontos de melhoria. Foram feitas reparos, houveram mudanças, mas não pode ser estagnado, isso sempre tem que estar em debate com a sociedade, porque quem vive, quem convive com o trânsito, tem condições de apontar ajustes ou alterações. A sociedade quando é convidada a participar, pode contribuir.

Preço dos combustíveis

Quem paga essa conta somos nós, consumidores. O ideal era sim ter uma estabilização, ter uma previsibilidade, o que não acontece no nosso país. Isso afeta as negociações coletivas, porque a inflação dispara, com um efeito cascata, afetando o bolso do trabalhador e toda a sociedade.

Acredito que falta gestão, especialmente por parte do governo federal. Uma melhor interferência em ações voltadas ao controle do consumo de combustível, quem sabe, incentivando determinados segmentos da sociedade que de fato precisam ser eventualmente subsidiados. O que não é possível é tentar pensar em um todo, sem segregar quem empreende, quem precisa do consumo para poder submeter os seus serviços à sociedade, que acaba encarecendo o preço final de todo e qualquer produto. Quem sabe uma visão um pouco mais ampla para ver quem de fato é afetado, assim como é o setor de transporte, com esses inconstantes aumentos de combustível, estabelecendo alguma forma de equilibrar o preço do combustível e dar previsibilidade ao mercado.

Pedágios

O setor sem sombra de dúvida foi afetado, assim como toda a sociedade em geral. O trabalhador acaba tendo que custear isso de forma indireta, mas quem tem que desembolsar esse recurso de fato é o empregador. Isso vai encarecer o valor de frete, por consequência vai aumentar o preço das mercadorias e quem vai pagar essa conta somos todos nós.

Situação das rodovias

Os governos buscam a melhoria contínua, mas as rodovias ainda são precárias, infelizmente. Há muito trabalho ainda a ser feito, acho que os recursos precisam ser destinados da forma adequada para que a precariedade seja suprimida, não digo só especificamente aqui no nosso estado, mas no Brasil como um todo, a infraestrutura e malha rodoviária é deficiente. Isso é investimento, isso são proposições e precisa partir de cima, através dos governos federal e estadual.

Pandemia

A pandemia afetou todo mundo. Infelizmente muitos trabalhadores perderam o emprego e/ou familiares. As entidades passaram por momentos delicados em que houveram legislações que atribuíram responsabilidades para negociar condições de redução salarial, redução de jornada, através de normas coletivas. Tivemos dificuldades para realização de assembleia para composição e autorizações também para deliberar algo nesse sentido, tivemos obstáculos para renovação de convenções coletivas nesse período de 2020/2021. Então foi um momento difícil, de turbulência, em que pouco se sabia como proceder, o que aconteceria.

O bom é que o transporte, especialmente o rodoviário de cargas, têm sinais de recuperação desde 2021. Foi um ponto que a partir dese ano, não vou chamar de positivo, mas o setor conseguiu responder bem a toda essa situação. O transporte rodoviário de passageiros, infelizmente, sentiu muito mais os efeitos da pandemia. O passageiro não transportado em determinado momento ele não vai voltar. As empresas desse setor foram impactadas fortemente, foi um setor que demissões ocorreram, situações específicas para renovação da convenção coletiva foram utilizadas e a classe trabalhadora se mostrou sensível e soube que era o momento de retrair em determinados pedidos para poder avançar. Quem sabe no próximo ano, em 2023, uma melhor normalidade, conseguir recuperar o que não foi negociado em 2020/2021 e até mesmo em 2022.

Paralisações

Importante esclarecer é que essas paralisações não são de trabalhadores do setor de transporte rodoviário de cargas. De regra são de empreendedores, de autônomos, que buscam essas manifestações. Os trabalhadores seguem o que determinam seus empregadores. Não tenho conhecimento de que alguma empresa do setor tenha orientado algum trabalhador a participar desses movimentos. Sabemos que as paralisações acabam motivando e saindo um pouco do controle quando há exageros. Particularmente, defendo o livre direito de manifestação, sem ferir o direito do próximo. Todo o excesso não faz bem para sociedade. Assim, se não souberem medir o tom das manifestações, elas perdem a razão de ser. Acho que quem está irresignado com o resultado das eleições, tem seus motivos, tem seus fundamentos para entender o porquê isso vem acontecendo e por isso tem o direito de se manifestar. O que não pode ocorrer é obrigar quem não queira.

Quanto mais engajamento houver dos trabalhadores, maior chance de êxito e ganho para categoria. A participação efetiva é o caminho.

Visão sobre Bento

Bento é uma cidade pulsante. A economia é invejável, as empresas de todos os segmentos são pioneiras. Sou grato em poder residir, trabalhar e especialmente dirigir uma entidade de classe que pertence a região de Bento Gonçalves. As nossas dificuldades como entidade são ínfimas se considerarmos o todo. As empresas são sérias com os compromissos que assumem com os trabalhadores. As entidades representativas da mesma forma. Temos pequenos desajustes, sim, mas eles sempre foram regulados, sempre foram reparados com base na negociação. São pouquíssimas as situações em que houve necessidade de uma intervenção judicial por uma ação promovida pelo Sinditrans. Isso nos tranquiliza sobre a forma como gerir a entidade de classe, pela seriedade como todo o povo da nossa região trata as condições comerciais e empresariais. Isso só facilita a atividade sindical.

O que fica de aprendizado?

Como gestor da entidade juntamente com o corpo diretivo, passamos por alguns momentos diferentes desde 2013 na condição de vice e a partir de 2014 como presidente. Passamos por uma reforma trabalhista em 2017, uma pandemia em 2020 e tudo isso nos fez aprender que as negociações coletivas são importantes. Sempre que pudermos chamar para nós essa responsabilidade e conseguir deliberar junto com a categoria, com os trabalhadores e com a entidade patronal, sem deixar essa decisão ao poder judiciário, que não vivencia a nossa realidade em específico, é muito melhor. E isso nós conseguimos aprender durante esse período. Crescemos como uma estrutura sindical sólida, que soube absorver a batida de uma situação que não era esperada, mas que conseguiu passar por esse momento. E esperamos conseguir crescer a partir de 2023.

Representatividade

No Sinditrans os dirigentes não são remunerados. Eles precisam dedicar um momento do dia, do mês ou do ano, para participar efetivamente da organização da estrutura sindical. A participação dos dirigentes e especialmente dos trabalhadores é extremamente importante, pois tratamos de condições de trabalho, melhorias, o que pode mudar, o que não pode. Para quê? Para melhorar as condições de trabalho do setor. Então, quanto mais engajamento houver dos trabalhadores, maior chance de êxito e ganho para categoria. A participação efetiva dos trabalhadores é o caminho. Sem ela, não há avanço.