Não é raro se ouvir de gente alheia à realidade da sala de aula a expressão, em tom quase depreciativo, “essas professoras…”, ou, se trabalham nas séries iniciais, “essas professorinhas…”. Quem assim se pronuncia mal sabe a ginástica física, psicológica, mental e intelectual que essas heroínas fazem no seu cotidiano. Mas são coisas que só se aprendem experimentando…

Pois foi isso mesmo que aconteceu com um funcionário público do gênero masculino, grande, forte, expressão que inspira respeito, que, diante de uma necessidade urgente, dispôs-se a sair da secretaria e substituir a titular da turminha do primeiro ano. Por uma tarde.

-Eles são uns amores, mas cuidado! Vão te testar… – avisou a professora.
-Não te preocupes! Vou tirar de letra! – garantiu o homem, seguro de si.

E entrou na arena, com a intenção de por em pratica os conhecimentos que adquirira em suas leituras, ao longo da vida. Tinha intimidade com Piaget, Paulo Freire, Emília Ferreiro, entre outros. Sentia-se, portanto, na vanguarda da educação.
Plantando-se lá na frente, apresentou-se e avisou sobre a primeira atividade prevista. Aí um menininho com cara de anjo levantou o bracinho e pediu:

-Posso ir no banheiro?

O fortão lembrou-se da netinha que, certa vez, fizera xixi na calça porque não lhe permitiram sair. E bem depressa, disse que sim.

Então aproximou-se outro baixinho com lápis e apontador na mão e já foi pedindo:
-Posso ir pro lixo?

“Por que não?” pensou a autoridade. E consentiu.

Estava feita a meleca. Um mar de mãozinhas se ergueu ao mesmo tempo. Ou queriam ir ao banheiro ou apontar o lápis.
O cara, aflito, tratou então de organizar a turma, já alvoroçada. Uma fila para ir ao banheiro; outra, para ir ao lixeiro.
As horas foram se arrastando, e as filas se alternando… De olhos arregalados, o sujeito suava frio. A folha da atividade só serviu para ele se abanar.

Quando, enfim, a sirene tocou, as filas imediatamente se desmancharam, e um a um os baixinhos deram um tchau carinhoso ao “profe”. Pelo visto, haviam adorado a “aula”.

No dia seguinte, ao devolver o impresso da tarefa não realizada, “mestre” Fernando disse:
-Meus respeitos, professora! Ontem tive a certeza de que a senhora deveria ter o maior salário do Brasil!