Ser 100% torcedor de um clube do interior do Rio Grande do Sul em meio há uma polarização dos times da capital do estado ou então, da globalização cada vez maior vinda da Europa com seus grandes craques, se tornou algo cada vez mais raro. No Esportivo, uma nova geração apostou neste amor único, que supera fronteiras e obstáculos para estar ao lado do time em todos os momentos, sempre apoiando em campo e fora dele.

Não importa o estádio, Giovani está sempre ao lado do Esportivo

Um sentimento que começou ainda criança. Giovani Casagra, por exemplo, começou a frequentar o estádio da Montanha com três anos, levado pelo seu pai. Influência essa que o fez a começar a pegar o gosto pelo futebol e acompanhar o Alviazul dos torneios estaduais até os nacionais.

Da antiga morada, ele recorda momentos ímpares da sua formação como torcedor. “Na velha montanha, onde comecei a frequentar, sempre gostei de ir, xingar bandeirinha, subir na cerca, era sempre uma alegria. Lá era difícil ver o Esportivo perder um jogo, sempre uma peleia inclusive para a dupla gre-nal. Dá saudade, é um estádio que estará sempre nos nossos corações”, menciona.

Para Casagra, a explicação por torcer pelo Esportivo é simples. “O sentimento é de estar gostando do time da tua cidade, da tua comunidade. É um time que tu conheces, que tu podes ir no estádio todos os jogos, vestir a camisa sem problemas. O clube que leva o nome de Bento junto quando o assunto é futebol. Um sentimento ímpar, é a lembrança da minha infância, ou como eu digo, são minhas raízes” indica.

O jovem virou torcedor da Fúria Alviazul, organizada do Esportivo, há 13 anos. É uma das figuras conhecidas e sempre presentes na Montanha dos Vinhedos, a que considera sua segunda morada de tão especial. Além disso, está nos jogos fora de casa, sempre apoiando os atletas dentro de campo.

Nas arquibancadas alentado, escolheu um jogo dentro da sua trajetória como torcedor. “A vitória sobre o Londrina na Copa do Brasil. Vínhamos embalados pelo novo estádio, campeões da Copa RS e eles na Série B, vieram com sentimento de oba-oba. O Juninho e o Fernando fizeram os gols, ganhamos por 4 a 1 e depois garantimos a vaga para encarar o Fluminense, que foi o maior jogo do Esportivo e da Montanha dos Vinhedos, sem dúvida especial”, destaca.

Mesmo sendo porto-alegrense, Bruno carrega o Esportivo no peito pela influência dos familiares

As raízes de Bruno Reinoldi com Bento Gonçalves, mesmo que more em Porto Alegre, o levaram a ser um fanático alviazul. O primeiro em contato foi em 1999, levado pelo seu pai Eder Carpes da Silva, que foi incentivado pelo avô Elones Franco da Silva. Foi o bastante para a paixão perdurar e virar o time do coração.
Ligação que Reinoldi expressa como: “ É uma paixão, que me move. Um sentimento que só quem vive pode explicar, porque é difícil mesmo. Fui me envolvendo com a torcida, com o time. Para mim, o Esportivo é tudo, é paixão”, exalta.

Sobre torcer apenas para um clube e do interior, que poucas vezes levanta uma taça de expressão e sendo morador da capital, a resposta foi enfática. “Todos falam que time precisa ganhar, levantar taça, isso é um princípio. Mas o amor pelo Esportivo é maior que isso, é seguir o clube em todos os momentos sejam bons ou ruins, derrotas ou vitórias. Eu falo que é fácil torcer para time grande que entra favorito em todos os torneios, mas para o Esportivo, do Interior é estar no sangue, no coração. Independente estaremos sempre juntos. No bom é fácil, mas no ruim a gente percebe que é de verdade. Vi poucas taças, mas isso passa longe do sentimento que temos”, valoriza.

Nove anos depois do primeiro contato, passou a ser vice-presidente da Fúria Alviazul e desde então, o amor pelo clube transcendeu fronteiras. Tanto que, contando as últimas temporadas, ultrapassou os 15 mil km para acompanhar em qualquer lugar do estado o time, que agora está de volta a Série A. “Independente de onde for é legal estar ao lado do clube. É uma jornada importante, estivemos acompanhando o dia a dia, os jogadores viram que não estavam sozinhos e é bacana por conhecer outras cidades, torcidas. Experiência legal. E se Deus quiser vamos ter ainda muitos mais quilômetros ainda ao lado do Esportivo”, sustenta.

Mulheres também representadas na arquibancada

Luana e a irmã Thaina, unidas pelo amor Alviazul

Em um clube com 100 anos de história, a representatividade feminina em meio a sua torcida não poderia ser deixada de lado. Luana Zortea é uma dessas mulheres que são vistas como ícones no meio e nas arquibancadas, seja da Montanha dos Vinhedos ou em outros estádios do interior, torcendo e tocando o tambor dando o ritmo para a organizada.  Para a jovem de 28 anos, não tem tempo ou circunstâncias ruins, sempre está vestindo a camisa do Esportivo.

Ela conta que a relação com o time começou com o pai, que a levava na antiga Montanha e que se mantém até hoje, já na fase adulta. “ É um programa que começou do meu pai comigo (Valdernei Roque Zortea), hoje levo minha irmã (Thaina) e demais familiares junto nos jogos e algumas vezes viajamos para fora acompanhar. Sinto que o meu papel de torcedora do Esportivo é muito maior do que estar no meio de 45 ou 50 mil. O pessoal reconhece e quando fala do clube, lembra da gente, é uma ligação muito legal. No estádio, a gente toca o tambor da torcida, canta, vibra, torce e chora porque somos parte do processo que leva o nome de Esportivo”, ressalta.

 

Luana na decisão da Divisão de Acesso, em Erechim

Sentir-se parte do clube é algo que Luana entende como importante. Confeccionou mãos para torcida, ajuda em campanhas de marketing e na busca de novos sócios. E até mesmo, a superar uma greve dos caminhoneiros para acompanhar o jogo do time. “Foi em 2018 em Pelotas. Ninguém queria nos levar, por medo de faltar gasolina. Fizemos manifestação até conseguirmos. Infelizmente, tivemos um duro golpe e não subimos. Tudo o que for para ajudar e que esteja ao nosso alcance, será feito”, exalta.

Ter conquistado o acesso neste ano, para Luana foi uma espécie de alívio e um momento marcante. “Parecia ser uma zica de cinco anos que nada dava certo. O jogo mais tenso foi contra o Lajeadense, sem dúvida. Todos choravam porque iria para os pênaltis e quando o Nena fez o gol, olhava para lado e vibrava. O Nena sempre que fazia gols era anulado, mas logo aquele não foi e  nos acréscimos. Foi para lavar a alma. Era muito nervosismo. Já contra o Guarani, quando o juiz apitou o fim do jogo, um peso saiu das costas, era sensação de leveza. Subimos nos 100 anos, que era o foco, mesmo que muita gente duvidava, chamava o elenco de velho e que não iria aguentar. Agora é manter e em 2020 fazermos uma boa campanha e aos poucos elevarmos o clube”, salienta.