…de repente o mundo virtual virasse real? Se as relações líquidas se solidificassem? Se o ódio à montante vasasse e inundasse este país que se revela um tanto maniqueísta?

Com certeza, a guerra fria on line iria esquentar no tête-à-tête. O meio termo, que consegue ver ideias boas em ambos os extremos, até lutaria pra separar os valentões, mas qual o quê! Ele seria chutado a escanteio pelos fanáticos, que se julgam donos da verdade, como se ela fosse única e absoluta. A advertência seria gritada na hora com toda a “sutileza” que os caracteriza: “Não se meta ou vai sobrar pra ti, cara de saci!”

E entre tapas e beijos, os xingamentos iriam aumentando até entornarem:

-Mortadelas!
-Coxinhas!
-Petralhas!
-Bolsominions!
-Esquerdopatas!
-Direita retrógrada!
-Jumentos! Comunistas idiotas!
-Antas! Capitalistas dos infernos!
-Preguiçosos! Pendurados nas tetas do Estado.
-Burros! Não querem perder a boquinha.
-Vocês sofreram lavagem cerebral.
-Vocês nem cabeça têm.
-Pra que afundar o barco, onde todos estamos?
-Nós não entramos em canoa furada.
-Filhos da p….!
-Vão toma no c…!

Sem mais argumentos, sucessivos HAHAHA e KKK fariam eco no Planeta em ira. E o que deveria ser um debate, já teria se transformado num embate, com a contenda verbal se materializado em PLAFT, TUM, CRASH, CHOCK, BOOM, POW, SNAP (Opa! Esta onomatopeia é do Homem Aranha). Aí, nem um super-herói pra acalmar a histeria pré-histórica da humanidade contemporânea.

Mas poderia haver uma segunda versão – a forma light. Vá que, no cara a cara, a gente sentisse vergonha, certo pudor, um resquício de decência, um pouco de dignidade e até arrependimento pelas grosserias, pelas ofensas gratuitas, pelas atitudes levianas e julgamentos precipitados, e então a gente “pegasse a viola, botasse na sacola e fosse viajar…” E toda esta “maluquez”, “misturada à lucidez”, nos deixaria “com certeza, malucos beleza!”

Pelo sim, pelo não, é melhor a gente continuar atrás de uma tela, ao menos não se corre o risco de ser pisoteado pelo efeito manada.