Poetas Sabrina Dalbelo e Douglas Ceccagno falam sobre a data, comemorada nesta segunda-feira, 21 de março

O dia 21 de março é marcado pela comemoração do Dia Mundial da Poesia. A data, escolhida na 30ª Conferência Geral da Unesco, em 1999, celebra a arte em todo o mundo, a diversidade do diálogo e a livre criação de ideias por meio das palavras, da criatividade e da inovação.

Sabrina Dalbelo, natural de Porto Alegre, reside em Bento Gonçalves desde 2008. É autora dos livros “Baseado em Pessoas Reais”, “Lente de aumento para coisas grandes” e “Rasga-ossos”, este, finalista do Prêmio AGES Livro do ano 2021 e do Prêmio Açorianos de Literatura 2021, na categoria poesia. Em 2021, foi a Escritora Homenageada da 36ª Feira do Livro de Bento Gonçalves.

A poeta conta como adentrou nesse universo. “Sempre gostei de ler e escrever. Acabei fazendo faculdade de Direito, curso que também envolve leitura e escrita, mas o despertar definitivo da escrita veio com a maternidade, um momento muito transformador. Acho que ficar recolhida, amamentando, horas e horas, com uma nova vida, com nossos objetivos, foco e papel no mundo, ativou uma Sabrina que, há muito, percebia o cotidiano e alguns detalhes da existência e precisava falar para os outros. Escrever, para mim, é um convite a olhar”, aponta Sabrina.

Segundo ela, suas inspirações são as mais variadas. “Livros de poesia, mas também de contos e romances; artes visuais e sensoriais (um diálogo de um filme, uma música, um quadro, entre outros) e, mais ainda, nas coisas do dia a dia, tais quais estender roupa no varal, uma pergunta de um filho, um olhar não correspondido e, até, ao perceber a força de uma formiga ao carregar uma folha. Quando penso sobre as coisas, percebo o mundo ao meu redor, o meu microcosmos, o lirismo está ali a postos para traduzir o mundo em poesia”, elucida.

Sabrina Dalbelo com seus livros “Baseado em Pessoas Reais”, “Lente de aumento para coisas grandes” e “Rasga-ossos”

Já Douglas Ceccagno, 42 anos, é escritor, doutor em Letras e professor da Universidade de Caxias do Sul. É autor dos livros de poesia “Calendário” e “Rábula”, da obra com contos “Ópera Subterrânea”. Com previsão para ser lançado esse ano, o livro “Eu é muitos outros” está em processo de edição.

De acordo com o poeta, foram as leituras que o levaram para o universo da escrita. “Não consigo definir a poesia, pois ela é o que me define. Ela é o princípio de toda a linguagem. Diria que é a casa de todas as palavras, até as que não foram inventadas”, declara Ceccagno.

Ceccagno comenta que seu impulso criativo vem da realidade. “Pode ser um assunto político, um tema do cotidiano, uma pedra que rolou de um jeito diferente, qualquer coisa até bem banal, mas que é transfigurada pela linguagem, uma porta de acesso para outras visões da realidade”, explica o autor.

Douglas Ceccagno com suas obras, juntamente com o livro “Nem Tudo foi Dito”, organizado por ele

Incentivo à leitura e a cultura

Conforme Dalbelo, a poesia é um dos gêneros literários mais antigos da humanidade, mas, ainda assim, é o menos lido e prestigiado, principalmente no Brasil, sob alegação de falta de paciência e pouca compreensão dos poemas. “A poesia não é apenas feita de obras clássicas, de versos densos, transcendentes ou nebulosos. Existe um repertório variado de temas, linguagens e formas métricas, e uma delas será do gosto do leitor. Mas é preciso ler e se deixar sentir. Confiem, vai dar certo”, estimula.

Ceccagno fala sobre o Dia Mundial da Poesia. “A data é relevante para marcar o espaço que o gênero necessariamente tem na vida das pessoas e das coletividades. Não é um único dia para ler poesia, mas é um dia para marcar o lugar e a importância que ela tem”, ressalta.

Sabrina finaliza destacando que a cultura é a base da formação de um povo. “A leitura deve ser incentivada desde cedo, tornar-se hábito. Ela segue sendo reforçada pelas escolas, bibliotecas, livrarias e pelos próprios profissionais ligados a ela. Há muito o que melhorar quanto às políticas públicas de incentivo à leitura? Sim, há. Mas vamos todos nos interessar mais, nos esforçar. Nas nossas casas, um dos momentos de afeto mais memoráveis – pergunte para qualquer criança, ela vai me dar razão – é a hora da historinha, antes de dormir. Esse é um movimento cultural importante e cheio de amor”, salienta.

O escritor complementa: “a cultura é o conjunto de todas as nossas práticas, então é o nosso modo de conviver. É o que nos une socialmente. O conjunto dos nossos modos de fazer e que também se relaciona e influencia, em certa medida, os nossos modos de pensar. Ela não é só a arte, embora ela possa ser a antena da cultura. Inclusive ela é o modo como nós nos vemos e como pensamos nosso futuro coletivamente, por isso que ela é tão importante”, conclui.