A expectativa é que o setor de vestuário concentre a maior parte das vendas, seguido por brinquedos e calçados

A Capital Nacional do Vinho foi duramente afetada pela pandemia do coronavírus. Não bastando as dificuldades enfrentadas na saúde, o comércio também sofreu as consequências da doença. Além do período em que as portas estiveram fechadas, a preocupação da população em poupar dinheiro no caso de vir uma segunda onda do vírus e as restrições de circulação em espaços fechados também foram fatores agravantes da situação.

O que o Sindilojas diz?

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Bento Gonçalves (Sindilojas), Daniel Amadio, as vendas poderiam ser melhores. “Mesmo sendo dezembro, o melhor período para o comércio, ainda mais com a chegada do 13º salário, tivemos restrições devido a segunda onda da pandemia, que mesmo não tendo fechado as lojas, restringiu o consumo e os gastos estão na medida do essencial, pois parte da renda fica reservada para uma eventual necessidade, além de parte desse recurso ser utilizado para pagamento de dívidas contraídas”, afirma.

O comércio representa 30% da economia da cidade, uma quantidade significativa. “Qualquer incremento nas vendas colabora com a receita local, lembrando que a expectativa desse ano ficou abaixo, em relação ao mesmo período de 2019, devido à pandemia. Dezembro emprega pessoas temporariamente, dando oportunidade para os que perderam seus trabalhos. Tendo um bom desempenho, esses empregos podem vir a ser efetivados, gerando renda para as famílias”, salienta Amadio.

O impacto da Covid-19 ainda é grande. “O planejado era que estivéssemos com a pandemia controlada. Para surpresa de todos, os casos de contaminação voltaram numa segunda onda, obrigando os governantes a estabelecer maiores restrições. Pior se tivermos outro lockdown, como está acontecendo em algumas cidades, pois se isso vier a acontecer, os prejuízos serão maiores, comprometendo alguns negócios”, pensa.

O que a CDL diz?

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves (CDL-BG), Marcos Carbone, afirma que as festas de fim de ano são o maior indutor de vendas. “Isso faz do período um dos mais importantes no ano para o varejo concretizar negócios e, em um ano atípico como 2020, recuperar as perdas acumuladas nos meses anteriores, uma vez que o comércio foi duramente penalizado pelas restrições relacionadas à pandemia”, aponta.

Em anos comuns, de acordo com Carbone, todos os segmentos costumam apresentar boa performance nas vendas. “Especialmente por ser essa uma data em que a troca de presentes envolve todos os públicos. A expectativa dos lojistas é conseguir encerrar 2020 com um saldo positivo, mesmo que pequeno, no exercício de suas atividades”, acrescenta.

Além disso, a CDL está fazendo esforços enquanto entidade representativa de classe para fomentar a movimentação do comércio local, com sensibilização e atrativos para que os consumidores privilegiem os estabelecimentos da cidade. “É o caso da campanha ‘Bento Natal Premiado’, que em uma iniciativa inédita para favorecer os lojistas, está trazendo 80 prêmios em dinheiro, em vale-compras de R$ 200,00 a R$ 1.000,00 para serem convertidos no comércio”, explica.

O que o CIC diz?

A vice-presidente para assuntos do comércio do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Marijane Paese, afirma que por estarmos às vésperas do Natal o comércio tem a maior concentração de demanda. A pandemia, porém, ainda é um dificultador, principalmente em períodos de bandeira vermelha. “Nesse momento, a restrição no número de funcionários por estabelecimento é a que tem maior impacto, muito mais do que a própria limitação de horário de funcionamento até as 20h”, observa.

Além disso, a preocupação é que o medo da contaminação faça com que as pessoas fiquem mais em casa, e que a troca de presentes diminua pelas restrições de encontros presenciais.

Resultados divergem entre os segmentos

Segundo o gerente da loja Quero-quero, Fabio Candaten, a demanda está boa. “Os clientes estão bastante otimistas com a data, quando a procura é significativa, principalmente em eletrônicos. Estamos projetando um aumento de 20% em relação a dezembro de 2019”, garante.

A escassez de produtos foi um agravante durante o período. “Ocorreu por falta de matéria prima da indústria, pois a demanda manteve-se. É único impacto causado nas vendas, porém significativo”, afirma.

Na loja Pittol, recentemente inaugurada no centro da cidade, o movimento do público tem sido como o planejado, apesar de não ter como realizar um comparativo com o ano passado. A gerente Cristiane Ortiz assegura que a pandemia não está afetando as vendas. “Com o pessoal se cuidando, o comércio tende a permanecer aberto até a véspera do Natal”, analisa.

Na Meriene Loja Íntima, estabelecimento sempre cheio em épocas próximas ao verão, o comparativo com o mesmo período do ano passado não é satisfatório, segundo a proprietária Meriene Balssanello. “A quantidade de vendas está mais baixa do que em 2019, para nós o movimento não vai suprir as perdas sofridas durante o ano”, explica.

Agora, o que mais influencia é o resultado do Modelo de Distanciamento Controlado do estado. “Não estamos tendo muita saída de roupas de banho porque está tudo fechado, a questão da bandeira vermelha está influenciando. Se o pessoal pudesse viajar, a gente ia vender”, ressalta a empresária.

Para a vendedora Caroline Follmer, que trabalha em uma loja onde os principais produtos são acessórios para celular, as vendas estão maiores do que no último ano. “Para nós o movimento é um pouco melhor porque temos coisas que as pessoas precisam. Em outros casos, acredito que bastante gente não está gastando dinheiro para se prevenir”, opina.

Foto: Thamires Bispo