Bento Gonçalves é uma cidade, um município sui generis, ímpar, único, sem similar. É um município onde habitam 110 mil pessoas oriundas dos mais diversos locais do estado, do país, do mundo. Penso que há muito tempo Bento Gonçalves perdeu sua identidade, suas origens, para se tornar uma cidade que, guardadas as proporções, pode ser chamada de cosmopolita. As mudanças pelas quais ela foi passando nas últimas cinco décadas são perceptíveis, notadamente pelas pessoas que dela fizeram parte nesse tempo todo. O crescimento vertiginoso de nossas indústrias; a instalação e crescimento de novas empresas; o comércio crescendo muito, tudo exigindo cada vez mais a prestação de serviços qualificados, motivou a chegada de milhares de pessoas de outros quadrantes da Terra. Todos buscando esse novo “eldorado” em que se tornou a Serra Gaúcha, liderado por Caxias do Sul e Bento Gonçalves, tendo como principais coadjuvantes Farroupilha, São Marcos, Flores da Cunha, Garibaldi, Carlos Barbosa, Veranópolis, Guaporé e outros. As maiores empresas de Bento eram a Dreher S.A. Vinhos e Champagnes, Cooperativa Aurora e Barzenski S.A Indústria de Móveis. Pouco depois outras grandes empresas surgiram e buscavam cada vez mais mão-de-obra. O resultado disso tudo, desse crescimento fantástico, foi que, graças a uma falta de planejamento, constrangedor atualmente, Bento Gonçalves cresceu desordenadamente, ou melhor, não cresceu: INCHOU. A uma simples pesquisa e/ou conversa com os mais antigos veremos que tudo por aqui era resolvido através de “canetaços” de última hora. “Como? Não pode? É ilegal? Ora, mude-se a lei imediatamente”. Era assim que tudo ia sendo “resolvido”, principalmente para os “amigos do rei”. Quantos planos diretores foram violentados? Difícil saber, mas se for feita uma rigorosa pesquisa e uma minudente análise poder-se-á constatar isso tudo. Não é por acaso que temos tanta “coisa errada” na cidade. Bairros surgiram sem planejamento completo, de infraestrutura viária, de esgotos pluviais, cloacais e domésticos, se tornando nos problemas insolúveis de hoje. Ruas e mais ruas foram sendo abertas e pavimentadas com paralelepípedos sem que sequer a canalização de água fosse prevista e muito menos a de esgotos. O resultado aí está: ruas completamente deformadas por dezenas, centenas de valas abertas “para puxar a água” ou conduzir os esgotos domésticos onde havia tubulação para isso. Como ninguém, mas ninguém mesmo se preocupava com “o próximo ano”, imagine-se se poderia haver preocupação com as “próximas gerações”. Graças a essas “coisas nossas” temos hoje uma cidade sem solução. Ou estarei errado?