Neste domingo completa-se dois anos de um dos episódios mais vergonhosos de Bento Gonçalves. Em 6 de março de 2014, o carro do ex-árbitro Márcio Chagas da Silva, que havia apitado a vitória do Esportivo sobre o Veranópolis, foi amassado a chutes e teve bananas colocadas no para-brisa. Os atos racistas, que teriam iniciado com ofensas vindas da arquibancada, repercutiram nacionalmente e mancharam a imagem da Capital do Vinho. Na época, muitos apontaram se tratar de um caso isolado, como se servisse de desculpa. Porém, após tanto tempo, o município vive uma nova polêmica, desta vez contra os imigrantes haitianos.

O preconceito deixou de ser velado a partir de uma audiência pública na Câmara de Vereadores, na tarde de 27 de fevereiro, que reuniu 150 imigrantes haitianos para discutir as dificuldades enfrentadas no município. A notícia sobre tal evento resultou em diversas manifestações ofensivas em redes sociais, o que envergonhou o vereador Moisés Scussel Neto (PSDB), autor da iniciativa. “Eu sabia que existiam casos de racismo em Bento Gonçalves, porém não achava que em uma proporção tão grave. Os haitianos, acredito que em sua totalidade, são da raça negra. Este preconceito ficou muito claro nestas postagens, inclusive, com desejos de morte. Contudo, mesmo os comentários sobre questões menores, apresentavam um preconceito declarado e explícito, afinal as pessoas estavam identificadas em um fórum público, que é esta rede social”, lamenta.

O encontro foi realizado em parceria com a Associação de Imigrantes Haitianos de Bento Gonçalves (AIHB), fundada em julho do ano passado para auxiliar e defender a integração deste povo na sociedade, prezando por condições de sustentabilidade e desenvolvimento da cidadania. “Buscamos que o imigrante tome conhecimento dos seus direitos e deveres, posicionando-se de acordo com os preceitos legais deste país, bem como saiba evitar que seus direitos sejam violados”, explica o presidente Manasse Marotiere.

Apesar de não querer generalizar sobre o município, o vereador Scussel entende que o tamanho da repercussão nos impede de afirmar que são apenas casos isolados. “Não é de toda a população, mas muitos cidadãos, de forma individual, são assim. Inclusive pessoas esclarecidas e ligadas ao turismo. Tal fato precisa servir de alerta, para que continuemos vigilantes sobre a questão”, complementa.

Leia mais na edição impressa do Jornal Semanário deste sábado, 5 de março.