Toda a criança enfrenta um período estranho quando perde seus dentes de leite. O rostinho fica engraçado e aparece aquela janelinha na boca. Adultos, contenham o riso: pode traumatizar.
Para a alegria geral dos pequeninos, a tradição aconselha colocar o dentinho num local onde a formiguinha possa retribuir com um dinheiro. Não são tantos dentes assim, que possam desfalcar as reservas de um avô, de uma avó, de um tio…. e todos os demais.
Até já fiz a conta: com quatro, netos e neta, planejei “pagar” de formiguinha apenas por quatro dentes (4 x 4 = 16). Se fosse dar formiguinha por todos os dentes seria um desfalque (4 x 12 = 48).
A questão passou a ser financeira quando estipulei um valor muito alto pelo primeiro dentinho. Daí para a frente fica difícil reduzir o valor, ainda mais que a piazada anda muito antenada.
Dia destes o Bernardo estava no elevador, com muitas pessoas, e mostrou um dente mole, pronto para cair.
– “Veja Mãe! Mais um dente mole para a formiguinha. Vai dar para comprar aquele LEGO que eu vi na loja.”
– “Que é isto Bê: aquilo custa muito caro. Vai precisar de muitos dentes.”
– “Depende da casa onde passa a formiguinha: se for na casa do vô um dente chega”.
Pronto! Entrei pelo cano.
O dente apareceu na minha casa e já estou me conformando, pois o Bernardo é o neto mais velho. Vai ter muito dentinho para pagar.
Pensando bem: que bom! É o tipo de recordação que ficará na lembrança deles. Não posso dar calote ou reduzir o valor.
Fui ao banco e fiz uma poupança também para os dentes do Fernando, do Rafael e da Cecília. E se aparecer outro mais na fila vamos dar um jeito nos “pila”.
No dia 29, dedicado a São Pedro, em casa foi servido nhoque de batata para o almoço. Sob o prato a tradição manda colocar um dinheirinho para dar sorte. Concordamos em colocar só dois reais para não inflacionar. Afinal, temos que pensar no futuro.