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Entre as autuações mais comuns em Bento Gonçalves estão dirigir utilizando telefone celular, avançar sinal vermelho e não utilizar cinto de segurança
Bento Gonçalves tem visto um aumento significativo no número de multas de trânsito nos últimos anos. A crescente preocupação com a segurança nas vias levou as autoridades locais a intensificar a fiscalização.
Segundo dados fornecidos pela Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, as infrações de trânsito têm apresentado um aumento preocupante. Em 2021, foram registradas 4.986 multas. Esse número subiu para 6.722 em 2022, e em 2023, o total saltou para 8.753. Até o momento, em 2024, já foram contabilizadas aproximadamente 4.425 infrações.
Principais infrações
Entre as infrações mais comuns, o uso de telefone celular ao volante lidera as estatísticas. Em 2022, foram 1.478 motoristas multados por essa infração. Em 2023, o número caiu ligeiramente para 1.401, mas em relação aos registros desse ano, houve uma redução para 274 multas até agora.
Outro comportamento perigoso é o avanço do sinal vermelho. Em 2022, foram registradas 1.215 infrações desse tipo, número que diminuiu para 1.145 em 2023. Em 2024, até o momento, foram 401 registros, mostrando uma redução, mas que pode mudar muito ainda em vista dos meses deste ano pela frente.
Por outro lado, o não uso do cinto de segurança, que é uma das infrações mais graves em termos de segurança viária, apresentou um aumento. Em 2022, foram 146 autuações, saltando para 230 em 2023 e chegando a 572 em 2024, revelando que muitos motoristas ainda negligenciam essa medida de segurança.
Identificação de condutas irregulares
O secretário de Segurança, Tenente-Coronel Paulo César de Carvalho destaca que, apesar da redução em algumas infrações específicas, o número total de multas continua a aumentar.
O aumento no número de infrações também pode ser parcialmente atribuído à maior presença de agentes de trânsito e ao uso de tecnologia, como câmeras e radares, que facilitam a identificação de condutas irregulares.
Perfil dos multados
Em relação ao perfil dos infratores, a maioria das multas é aplicada a motoristas na faixa etária dos 22 aos 35 anos. Este grupo é particularmente destacado por estar em plena atividade profissional e muitas vezes por apresentar comportamentos de risco, como o uso do celular ao volante e a distração constante. Não foram fornecidos dados detalhados sobre a diferença no número de condutores infratores homens ou mulheres nas estatísticas de multas.
Sobre a questão de padrões comportamentais de motoristas que recebem mais multas, a psicóloga Tatiany Nardino (CRP – 07/26347), ressalta que há sim padrões de comportamento, mas que não dá para generalizar. “Referindo-se de comportamento humano é necessário considerar vários fatores. Não importa o contexto, pode ser no trânsito, nas empresas, sempre é necessário fazer uma verificação para entender motivos, fatores predisponentes, ambiente, época. Como vamos entender o comportamento de condutores no trânsito, também devemos considerar diferentes possibilidades. Alguns condutores têm padrões de comportamentos por uma condição emocional desregulada, ou seja, apresentam dificuldades em perceber o ambiente que os cerca e agem com impulsividade, refletindo em uma conduta inadequada para essa situação e não conseguem dirigir com prudência, colocando-se em risco e aos demais. Então, para alguns condutores podemos referir a existência de algum transtorno emocional que resulta na dificuldade de seguir regras ou mesmo respeitar tais regras vigentes”, pontua.
No entanto, ela enfatiza que existem diferentes casos e contextos. “Os motoristas que possuem segurança excessiva têm a sensação de invulnerabilidade, por acreditar serem menos propensos a sofrer acidentes, o que os leva a comportamentos de risco, sendo estes, excesso de velocidade e desrespeito às leis de trânsito. Outro caso é quando a pessoa pode estar desatenta, não por apresentar algum transtorno de atenção, pode estar desatenta apenas por não ter tido uma boa noite de sono e diante disso apresentar um rebaixamento de atenção. Uma condição, como a irritabilidade pode ser decorrente de um transtorno, tanto quanto pode ser apenas uma condição situacional”, diz.
A psicóloga Letícia Simioni Schossler (CRP 07/23986), reforça que em relação a padrões comportamentais é possível considerar que esses comportamentos estejam relacionados tanto à impulsos inconscientes de transgressão como também à busca por um prazer imediato, onde a regra ou a norma é percebida como uma limitação à liberdade. “Pode ser levado em conta a questão da repetição compulsiva, onde o indivíduo, muitas vezes de maneira inconsciente, se coloca repetidamente em situações de risco e/ou punição. É interessante que a pessoa que tem esse padrão de comportamento se observe; se esse é um comportamento presente também em outras áreas da vida.
O aumento no número de multas pode estar associado a uma combinação de fatores psicológicos, como aumento do estresse e ansiedade na sociedade, que podem levar a comportamentos mais impulsivos e menos reflexivos. Além disso, pode haver uma maior sensação de impunidade ou uma dessensibilização à punição, onde o motorista não percebe a gravidade das consequências de suas ações. Outro fator é o fenômeno de “anomia”, onde o indivíduo se sente desconectado das normas e leis sociais, agindo de maneira mais egoísta e menos consciente em relação ao coletivo”, pontua.
Ações de conscientização no trânsito
O Departamento Municipal de Trânsito (DMT), através do setor de Educação, vem realizando ao longo do ano ações previstas no capítulo VI, art.75 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), promovendo práticas de conscientização através das campanhas de âmbito nacional, como período de férias escolares, movimento maio amarelo e Semana Nacional de Trânsito. Paulo César de Carvalho, secretário de Segurança do município, destaca outras campanhas que são promovidas: “participamos de ações realizadas por empresas na Semana de Prevenção de Acidentes (SIPAT), ações realizadas com grupos de idosos, entidades não governamentais, entre outras.
Temos ainda a lei municipal 6.716/2021, que institui o Programa de Educação para o Trânsito nas Escolas Municipais, onde durante todo ano, de forma contínua, são realizadas atividades nos educandários municipais respeitando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que traz essa temática como assunto contemporâneo, indispensável no currículo da educação infantil ao ensino médio”, reitera.
O secretário ressalta que se percebe uma diferença da condução nas diferentes faixas etárias, mas que para adquirir consciência é preciso muito trabalho com as diferentes gerações. “Além da aquisição de conhecimentos, treinamentos, capacitação. Tudo isso vai ter relação nos comportamentos ao volante, quando, por exemplo, um adolescente, recém-habilitado, não mantém comportamentos defensivos, há um grande risco de gerar acidentes. Por isso é tão importante a Educação para o Trânsito desde a primeira infância, para que se moldem futuros condutores e pedestres mais conscientes e responsáveis, capazes de perceber o risco e agir defensivamente, tornando o trânsito mais seguro”, finaliza.
Tatiany reforça: “O que todos podemos fazer enquanto sociedade é a educação no trânsito, cada condutor se responsabilizar, fazer sua parte e se conscientizar. Nós precisamos insistir na educação. Ensinar e cobrar da população quais condutas são esperadas”, reitera.