Diante de um período como o da pandemia do coronavírus, com a crise financeira que o país sofre, quem estava com as economias em ordem teve menos prejuízos. O Brasil, entretanto, de acordo com a Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), tem o 14º pior índice do mundo em relação a poupar dinheiro para o futuro.
Esses dados apenas comprovam a importância de proporcionar para crianças e adolescentes sobre como lidar com o dinheiro. A coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Jacqueline Corá, afirma que oferecer educação financeira para crianças é prepará-las para a vida. “Elas se defrontam, todos os dias, com situações que envolvem conhecimentos das finanças pessoais. Por exemplo: decidem, em diversos momentos, se compram o lanche da escola ou levam o lanche de casa e guardam parte da mesada. Elas fazem planos, pensam no futuro e, portanto, precisam aprender como alcançá-los. Isso envolve também as finanças pessoais”, destaca.
A economista salienta, ainda, que tem convicção que proporcionar educação financeira desde a infância pode impedir a inadimplência de um adulto, pois contribui para definir um comportamento sobre o assunto. “Ao educarmos as crianças, desde os primeiros anos, para tomarem decisões pautadas em conhecimentos básicos que envolvem escolhas por exemplo: custo de oportunidade; custo x benefício; consumo no presente x consumo no futuro; custo do dinheiro no tempo, estamos contribuindo para tornar um adulto capacitado a tomar decisões conscientes e a ter autonomia nas finanças”, explica.
Caso os pequenos fossem educados nesse sentido, Jacqueline acredita que teríamos um país mais desenvolvido e com menos pobreza, pois haveria, na comunidade, pessoas capacitadas a realizarem as melhores escolhas quanto ao uso dos recursos. “É possível, por exemplo, estar mais consciente das consequências danosas do endividamento e, assim, inibir as compras por impulso que hoje são responsáveis por grande parte dos gastos dos endividados. Pessoas compram produtos sem a real necessidade e sem planejamento para isso”, observa.
Escolhas não pensadas quanto ao uso do dinheiro trazem resultados negativos aos consumidores. “Pagam juros para adquirir produtos que são deixados de lado em pouco tempo. Portanto, sim, com educação financeira podemos reduzir os níveis de pobreza, na medida em que soubermos a usar melhor os recursos que dispomos; aprendermos a investir e obter um melhor retorno sobre a nossa poupança, ou seja, o dinheiro que não foi consumido”, ressalta.
Sicredi investe em educação financeira
A assessora pedagógica de educação financeira da Sicredi Serrana RS/ES, Elisabete Penz Beuren, faz alguns questionamentos sobre educação financeira ser assunto para crianças. “O que você teria feito de diferente se tivesse tido Educação Financeira desde a infância? É comum nas famílias e escolas envolvermos as crianças nesse diálogo? Como foi sua infância em relação ao tema finanças? Percebia que ocorriam os momentos de dificuldades ou tranquilidade? Seus hábitos eram voltados para o consumismo ou para poupar e guardar parte do dinheiro”, indaga.
Elisabete frisa que a infância é uma fase de descobertas do mundo e diversas rotinas se desenvolvem nos contextos familiares. “É nessa etapa que, por meio das interações e brincadeiras, emergem situações que envolvem percepções de tempo e espaço. É justamente nas rotinas que se formam os hábitos para a vida que de certa forma envolvem finanças, como: idas da casa para a escola e ao mercado, os momentos de banho e higiene, a alimentação e o descanso”, explica.
Pequenos hábitos formam os adultos do futuro
Por meio de um conjunto de pequenos hábitos que é possível criar recursos que vão se transformar em comportamentos para a fase adulta. “Desligar a luz ao sair de um espaço também é educação financeira. Portanto, uma criança, segundo estudos da psicologia econômica, percebe, no decorrer do estágio de desenvolvimento dos seis ou sete anos, que as notas, moedas ou cartões são usados em troca de algo, mas não distinguem valores e sabem que o dinheiro é para gastar”, expõe Elisabete.
Este é o período que os pais devem estar atentos para ensinar as crianças. “É essencial explicar que os adultos, com seu trabalho, recebem dinheiro que é aplicado no sustento e necessidades da família. É possível mostrar a importância do troco, guardar pequenos valores recebidos com um objetivo de comprar algo no futuro. Se guardar ou economizar um real por dia, no fim do mês terá 30 reais e no ano somarão cento e vinte reais. Ao ir no mercado, a criança pode receber uma nota de cinco reais e perceber o que pode comprar com o valor”, sugere.
A cooperativa Sicredi participa desse processo desde 2014, com ações para compartilhar conhecimentos de Educação Financeira no Brasil. A assessora pedagógica conta que a Fundação Sicredi firmou uma parceria com a Mauricio de Sousa Produções, em uma coleção de seis gibis com histórias para o público infantil, pois entende que é possível desenvolver aprendizagens significativas. “Os gibis da Turma da Mônica são ferramentas pedagógicas que aproximam as finanças do dia a dia com uma linguagem simples nos espaços escolares e familiares. O objetivo é sensibilizar para escolhas mais conscientes nos diferentes contextos, a fim de cooperar para uma vida financeira sustentável das gerações atuais e futuras”, sublinha.
A Cooperativa Sicredi Serrana RS/ES, em parceria com as Secretarias de educação dos municípios, também tem desenvolvido ações na formação de professores, desde 2018. “O tema vem sendo trabalhado nas escolas, visto que a atual legislação vigente torna obrigatória a Educação Financeira na Educação Básica desde 2020”, destaca.
Elisabete explica que, desde 2019, diversos municípios da região de atuação contam com suporte de materiais e assessoria pedagógica. “Eles desenvolvem com as turmas do Ensino Fundamental Anos Iniciais nosso Programa Nacional de Educação Financeira – Cooperação na Ponta do Lápis – que está pautado na mudança de hábitos que se desenvolvem nas rotinas desde a infância”, conclui. Em 2022, o Programa vai se instaurar em Bento Gonçalves com mais intensidade, segundo a direção do Sicredi.
Educação fiscal nas escolas
Segundo a secretária de Finanças da de Bento Gonçalves, Elisiane Schenatto, até 2019 o município tinha um projeto da educação fiscal nas escolas. “Devido à pandemia, no ano passado não houve visitas às escolas e, por consequência. o projeto ficou em stand-by. Agora, para o segundo semestre, estamos elaborando novos projetos de educação fiscal e nele incluído também a educação financeira”, finaliza.
Foto: reprodução