Interrupção no abastecimento, pouca pressão ou mesmo água suja nas torneiras são algumas das dificuldades relatados por moradores

As dificuldades com abastecimento de água em Bento Gonçalves, principalmente na zona norte, já duram há anos. Os bairros Aparecida, São Roque, Ouro Verde, Zatt, Universitário e Progresso são alguns dos mais afetados.

A auxiliar administrativa Neusa Verginia Paim mora no Aparecida e afirma que todos os dias falta água e, apesar de tentar resolver com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), a situação continua igual. “Moramos em três pessoas na casa da frente e duas na dos fundos. Imagina chegar após um dia de trabalho e não ter água para fazer os serviços domésticos?”, lamenta.

O mecânico Derimar Marcelo também passa pela mesma situação há muito tempo, pois mora no bairro desde que nasceu. O problema causa dificuldades na oficina da qual ele é proprietário, assim como na loja de roupas da esposa. “Aqui falta água todos os dias. Ou ocorre na parte da manhã e volta só na madrugada ou de tarde e não tem hora para voltar. Tenho um vizinho que resolveu comprar uma caixa d’água e instalar em casa, porque não tem como ficar sem”, explica.

Bairro Aparecida é um dos mais afetados

A estudante Alessandra Bettin mora desde criança no bairro Aparecida. No local onde reside, vivem outras três pessoas. “Nos prejudica na hora de lavar a louça, roupas e, principalmente, para beber. Ligamos pedindo o motivo da falta de água e não tivemos retorno, ou ninguém atende”, relata.

A Akeo Industrial, que emprega mais de 450 pessoas da cidade, localizada no bairro e também passa por contratempos pelo racionamento, ou, mesmo, falta de pressão da água. O diretor da empresa, Ivanio Arioli, explica que para tudo funcionar no local, é imprescindível o abastecimento. “Todo nosso sistema de transformação tem que refrigerar, as máquinas aquecem, aí se esfriam só com água. Só que a água esquenta e tem que esfriar, e quando isso acontece ela evapora, é aí que eu tenho o consumo alto”, ressalta.

A empresa teve algumas iniciativas para tentar solucionar a questão. “Chegamos a ter poço artesiano, durou dois ou três anos. Depois que queima a bomba, não tem mais água. Não valeu a pena”, lamenta.

Falta d’água acontece quase todos os dias

Além disso, Arioli acredita que o contingente populacional da zona norte de Bento está crescendo rapidamente. Para que as necessidades de todos os novos moradores sejam supridas, seria necessário expandir a distribuição de água. “Os bairros que mais crescem são para o nosso lado, tudo o que é empreendimento imobiliário vem para cá”, pondera.

O gerente de infraestrutura da Akeo, Flavio Luiz Rigotti, além de trabalhar no local, mora nas proximidades. “Há 20 anos é a mesma história. Ligando na Corsan, eles não atendem, o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) não resolve nada. Fui lá pessoalmente, expliquei a situação para tentar encaminhar água para a empresa e ver se a gente conseguia, pelo menos, amenizar a situação, mas não deram retorno”, expõe.

A insatisfação de Rigotti em não conseguir solucionar a questão, ao menos para a empresa, o levou a tomar medidas extremas. “Infelizmente a Corsan não ajuda em nada a população. Desde 30 de novembro, estamos buscando água em Caxias do Sul, já fizemos a solicitação de 12 caminhões de 12 mil litros de água. São R$ 900,00 por caminhão. O custo é altíssimo, mas não temos outra opção”, garante.

Por mês, o estabelecimento gasta cerca de 700 m³ de água, o que corresponde a 700.000 litros mensalmente, ou 23.000 litros diariamente, em média. “Exagerando, ou a gente acha uma solução ou amanhã ou depois a Akeo pode estar pensando em partir para outro lugar. Estamos sujeitos à parar a fábrica se não tiver água. Funcionamos sábado e domingo. Como é que o funcionário vai querer trabalhar se não tem nem como usar um banheiro direito?”, observa Arioli.

A analista financeira Graziela Vivian Giovanella explica que o problema acontece desde sempre. “Normalmente é da metade da tarde até a madrugada que falta água. Essa semana, por exemplo, faltou na segunda de manhã e voltou só na madrugada de terça-feira. Ficou o dia inteiro sem água. Quarta-feira faltou de tarde, depois do meio dia, mas às 17h já tinha retornado”, conta.

Para ela, mesmo com o aumento da população, ainda continua a mesma estrutura de 20 anos atrás. “Não acontece uma vez a cada 15 dias, a cada 20 dias ou uma vez por mês. É praticamente todos os dias que a gente está sem, ou com pouca pressão da água. Também ocorreu de ela vir suja da torneira”, afirma.

Vivendo em uma residência com cinco pessoas, Graziela reitera que essa não é uma reclamação de algumas pessoas, mas é unânime entre os vizinhos. “Nós precisamos ser atendidos. Não dá para permanecer assim. Se continuar, não sei se o futuro vai ser em Bento”, opina.