A história da evolução humana está provocando tanta coceira na cachola deste menininho esperto que me chama de vó, quanto nos meus neurônios cansados de guerra. De um lado, está ele, diante de um mundo que se descortina em “zilhões” de possibilidades, de outro, estou eu, fazendo de tudo para adiar a entrada no terminal do aeroporto para o último voo. Embora em posições opostas, o interesse é o mesmo: como será o homem do futuro…

Bom, ele já formou uma ideia, como resultado de conversa ouvida aqui e ali ou de algum programa de TV. Conforme me contou, o ser humano vai perder o dedinho dos pés – que só serve pra bater contra algum móvel – e os pelos, que hoje são raspados. Já eu me aprofundei no assunto e estou pronta para lhe revelar as mudanças físicas e psíquicas de nossa descendência. Assim que surgir a oportunidade, direi:

“Então, Benício, a evolução é lenta e contínua e depende das próprias escolhas do ser humano. Vamos imaginar vários caminhos… Um deles levaria a um mundo superlotado, sem espaço em cima da terra. Tipo uma China empilhada em outra, sempre subindo mais… ou descendo. As pessoas viveriam que nem piolhos, uns na cabeça dos outros. Seria uma espécie de civilização de gente pálida, careca e corcunda. E mal-humorada”.  

“Outro caminho levaria a um mundo dominado pela tecnologia, com robôs fazendo o trabalho pesado e sujo. Como consequência, teríamos um homem sedentário, obeso, flácido e de ossos fracos. Com comida processada e de fácil mastigação, seus dentes seriam toquinhos bocejando na boca. O intestino também iria ficar ocioso e, como um trem sem carga, perderia alguns vagões”.

“Com o avanço da ciência, haveria o caminho da quase imortalidade – um mundo cheio de cabeças brancas nas praças, trocando receitas e cuidando de seus tataranetos. A Previdência quebraria.”

“Poderia haver um caminho inverso promovido pela dependência química, com uma civilização esquelética e fracote, sem defesas naturais. A indústria de remédios teria um “boom”, e haveria uma farmácia em cada esquina… Opa! Graaaande novidade!”. 

“Um caminho bizarro poderia surgir do espaço, com uma gente verde de anteninhas e grandes olhos, que se miscigenaria com os terrenos formando uma população cinzenta”.    

“E não podemos deixar de imaginar um caminho apocalíptico… Depois de uma guerra nuclear, a humanidade viraria poeira. Só sobrariam as bactérias, e a evolução começaria do zero… E depois de séculos, um peixinho desenvolveria pulmões e… Bom, a gente já viu esse filme”.