No ano de 2024, empreendedores observaram uma redução significativa no fluxo de pessoas. Embora janeiro e fevereiro tenham atendido às expectativas de alguns, a partir de março houve uma queda acentuada no movimento. No entanto, muitos avaliam e mantêm a esperança de que essa situação irá melhorar nos próximos meses

O Vale dos Vinhedos se tornou um dos principais destinos turísticos da cidade, com hotéis, restaurantes e, principalmente, vinícolas. Por conta disso, pessoas que moravam na localidade, decidiram abrir o próprio empreendimento como uma saída bastante proveitosa, visto o endereço privilegiado que estão instalados. Porém, o ano de 2024, vem deixando diversos empreendedores apreensivos, principalmente nos meses de março e abril devido ao baixo número de turistas que visitaram a região.

A preocupação vêm de uma diminuição no fluxo nos meses de março e abril

“Empreendedores estão preocupados”

Em 2020, Juliano Zottis, Viticultor e Empreendedor, decidiu fazer da sua tradição familiar, uma profissão. “Nossa família sempre elaborou vinhos para consumo próprio. Em 2020, no ápice da pandemia, decidimos abrir nossa própria vinícola. Na época, não dependíamos somente dela, pois trabalhavámos nas parreiras, no cultivo das uvas. Conforme o tempo foi passando, e a demanda aumentando começamos a ficar conhecidos e decidimos focar no nosso negócio”, relembra.

Para ele, tudo ia bem. Na Vindima, o fluxo se mantinha e estava sendo bom, entretanto, no mês seguinte ele notou algumas mudanças. “A questão do turismo vem preocupando não só a mim, também muitos que moram aqui. Tivemos uma queda bem grande no mês de abril. Como comercializamos uvas, a época da vindima trouxe um movimento bom. A partir da metade de março em diante percebemos uma queda bem grande”, conta.

Zottis entende que quem trabalha no ramo está acostumado que alguns meses possam ser menos movimentados, entretanto, dessa vez, o preocupou. “O turismo tem altos e baixos, mas a queda foi maior que o esperado. Conseguimos ter uma relação dos últimos anos no mês de abril, e este se compara com o primeiro abril da vinícola, quando não éramos conhecidos, nem divulgávamos nosso trabalho”, realça.
Ele também destaca que não é algo que somente ele vem notando, e sim, diversos outros empreendedores da região. “O pessoal de outros ramos está se queixando bastante. Com quem conversei não teve um que elogiou o movimento. Acredito que a questão financeira faz parte. Muitas pessoas preferem a estabilidade, tem dinheiro mas não querem gastar com viagem”, acredita.

Juliano e Daniela Zottis decidiram ingressar no setor turístico, seguindo uma tradição familiar


Apesar da situação, o empreendedor tem esperança que a situação seja passageira. “Acredito que em maio vai melhorar, pois, o turismo tem esses altos e baixos, e abril nunca é um mês excelente, mas é a primeira vez que está sendo ruim”, conclui.

Também tem essa opinião Cláudia Milani, gerente de um restaurante e café localizado no Vale. O local, que muitas vezes tem sua agenda cheia, se encontra parado. “No ano passado, esse fluxo era bem melhor, comparando os mesmos meses, então essa queda é real. É difícil entender o que está acontecendo. Parece que as pessoas estão segurando mais o dinheiro, querendo gastar menos e comprando mais o necessário”, ressalta.

Ela também nota a baixa procura de excursões para realizar a alimentação no lugar. “Trabalhamos muito com ônibus rodoviários que vêm de outras cidades. Eles ligam e fazem a reserva. No ano passado, tínhamos quase que a agenda cheia para o ano todo, já neste, poucos agendaram. A procura tem sido baixa para fazer turismo na região”, declara.

Mas o padrão que Claudia percebe não atinge somente o Vale dos Vinhedos, mas também outras cidades turísticas. “Neste mês, deveríamos estar com um fluxo maior. Trabalhamos direto com o pessoal que vem de Gramado, e isso não está acontecendo só em Bento. Gramado também está assim, e não tem como lá estar vazio e aqui cheio”, constata.

Aumento da expectativa

Ilva Merigo Carraro decidiu abrir sua própria pousada em casa, após se aposentar. “Como não gosto de ficar parada, fui pensando, conversei com uma arquiteta e surgiu a pousada. Isso tudo ocorreu há uns dois anos e meio e tem sido maravilhoso. Converso com pessoas de diversos lugares do Brasil, e aprendo muito com novas culturas”, diz.

Mas Ilva também sentiu a mudança que vem assolando a região. “Ano passado foi muito bom, em janeiro de 2023 lotei meus quartos. Mas, este ano, acabou tendo uma queda nas reservas. Esta baixa vem desde os primeiros meses de 2024, e quem vem acaba ficando poucos dias”, explica.

Assim como tantos outros, a empreendedora tenta encontrar as razões deste problema. “Existem vários aspectos envolvidos para esta mudança, acredito. O poder econômico está mais baixo, instabilidade na economia, e as pessoas vão deixando de viajar ou diminuindo a frequência”, elabora.
Entretanto, o próximo mês está lhe trazendo mais esperanças. “As expectativas para os próximos meses já melhoraram, estou com mais reservas para maio. E agora, com a vinda do inverno e das férias escolares há uma esperança de que o turismo flua”, declara.

Irineu Brandelli, dono de uma vinícola, também pondera sobre as razões para esse baixo fluxo. “Não sabemos ainda o que ocorre para essa queda não só em Bento, mas também em outras localidades da Serra Gaúcha. Um deles é que o enoturismo cresce muito pelo Brasil todo, então às vezes as pessoas querem conhecer lugares novos. Outro aspecto que percebemos é de que os potenciais turistas estão viajando menos, pois a economia nacional está se reestruturando”, alega. E complementa: “a questão financeira está complicando um pouco, o próprio calor e as intempéries do tempo também prejudicam muito. As pessoas de outros estados ficam sabendo do que houve e não sabem bem como está a situação atual e isso também pode acabar afastando os turistas”, explica.

Maurício Sartori, morador do Vale dos Vinhedos há muitos anos, também compartilha sua observação sobre a queda no turismo. “Tenho notado uma redução. Pelo que observo, parece que está querendo aumentar, mas ainda está muito fraco. Acredito que possa ter a ver com a economia, a política, preços. Tudo isso prejudica o turismo em nossa cidade, acredito que isso esteja ocorrendo. Mas é difícil concluir sobre o que está causando isso”, disse.

O que diz a Aprovale

O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, Ronaldo Zorzi, afirma que “o que se observa no cenário turístico, de forma geral e também no Vale dos Vinhedos, é um retorno ao cenário pré-pandemia no que diz respeito à movimentação dos visitantes. O turismo experimentou uma expressiva alta após a pandemia, muito por conta de tudo que foi represado no período de duração da pandemia (viagens, turismo, experiências como uma simples ida a um restaurante – todas as atividades que ficaram restritas naquele período). Como ocorreu em diversos roteiros turísticos, também o Vale dos Vinhedos teve momentos de forte expansão. Agora, o fluxo de turistas está retornando ao seu habitual, ou seja, o que estava sendo realizado antes da pandemia. Entendo que, em vez de falarmos em queda, é preciso olharmos esse contexto de retorno a um padrão”, explica.

O presidente ainda salienta que “a Aprovale vem trabalhando de forma permanente no fomento ao turismo no roteiro Vale dos Vinhedos e também às oportunidades de negócio para seus empreendimentos. Uma ação é a valorização da questão da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos (a primeira denominação de origem para vinhos e espumantes do Brasil), que funciona como importante atrativo turístico. Outro movimento ocorre por meio do fomento a eventos próprios, como foi a retomada do Despertar do Vale, cuja terceira edição ocorreu no início do abril, reunindo mais de 30 empreendimentos locais, que aproveitaram a programação para gerar negócios e fortalecer suas marcas junto ao público”, conclui.