Nada mais justifica os atrasos para o início dos contratos para a restauração e manutenção de 195 quilômetros de rodovias serranas através do programa Contrato de Restauração e Manutenção das Rodovias da Região da Serra (Crema/Serra) do governo estadual. Depois dos adiamentos infindáveis ocasionados por problemas nos processos de licitação, editais mal elaborados, desistências, adiamentos e cancelamentos, finalmente o Daer obteve o sinal verde para a definição das empresas que passarão a ter a responsabilidade por conservar e restaurar trechos de quatro rodovias serranas por cinco anos.

Pois desde que o Diário oficial do Estado publicou ao nome das duas empresas vencedoras da concorrência pública até hoje, lá se vão quase dois meses de total inoperância do Estado, que promete datas para a assinatura do contrato e não as cumpre, que anuncia vindas à região e não cumpre, que envergonha o próprio governador Tarso genro, que afirmou, em tom de brincadeira, mas profundamente consternado, que só volta à serra quando as máquinas do Crema estiverem nas pistas.

Já não é mais a burocracia estatal que emperra a assinatura do contrato e a liberação para o início das obras, e não se sabe de quem parte os novos adiamentos ou por quais motivos as novas promessas também não estão sendo cumpridas. Agora, o próprio diretor-geral do Daer havia confirmado a assinatura do contrato para a próxima terça-feira na região. Até a manhã de ontem, faltava apenas definir o local. Pois, à tarde, a coisa toda mudou e, em um comunicado lacônico, o Daer informou que “não há ainda uma data prevista para a assinatura”. Assim, sem mais explicações, após ter confirmado a agenda pela manhã.

Seria cômico, não fosse trágico, uma vez que o que está em jogo é a competitividade da economia local, seja no setor industrial quanto no turístico, e, mais importante, a garantia de que vidas não serão ceifadas pela estupidez da falta de condições de trafegabilidade, das placas e sinalizações ocultas pelo mato não retirado, pela ausência de acostamento ou pela distância das tão necessárias duplicações. Menos mal que, na medida do possível – que não é muito, e muito menos suficiente –, o Daer ainda tem conseguido tapar o sol com a peneira, eliminar buracos enquanto outros surgem, e até recapear alguns trechos mais críticos. Mas é preciso mais, e não há mais espaço para adiamentos.

O início do Crema vai pelo menos garantir por cinco anos investimentos de R$ 150 milhões para qualificar as ERS 324 e 122 e as RSC 470 e 453, as principais rodovias serranas.

Não se pode mais admitir tamanho descaso com a Serra Gaúcha, uma região produtora de riquezas e de culturas que conta com boa parte da população e pelo menos 10% do PIB do estado. A precariedade estrutural que assola a região há décadas e décadas em que passaram governos das mais distintas cores e ideologias cobra preços impagáveis, e a região não pode continuar pagando esta conta. As obras do Crema Serra foram anunciadas pelo governador Tarso Genro em agosto de 2012, portanto, há quase um ano. Agora, superados todos os obstáculos, é no mínimo estranho que o governo siga adiando, sem motivo aparente, o início das obras.

Quem sabe os dias de mobilização que vivemos em todo o país não guardam um ensinamento para o caso? Será que será preciso que a Serra vá às ruas – ou as estradas – para cobrar seus direitos?