Nos casos de violência sexual contra menores, o silêncio é um escudo e um vilão. Manter sob segredo a agressão sofrida é um meio de se proteger de uma violação maior. Ao mesmo tempo, é garantia de impunidade para o agressor. No caso do abuso contra meninos, o problema é ainda mais preocupante. Mesmo quando o crime é descoberto por algum membro da família ou por vizinhos, o medo da exposição e da humilhação impede a denúncia às autoridades. Trata-se de um misto de aflição e revolta com o fato acontecido.

Porém, o que choca mais a comunidade é que os crimes de violência sexual em série que estão acontecendo em Bento Gonçalves têm as crianças como alvo e são cometidos por adolescentes, também menores de idade. Será a sensação de impunidade ou um problema de psicose conjunta, que leva um grupo de garotos a cometer tamanha barbárie?

Mas também, o que podemos esperar de um país que registra diariamente 360 casos de violência contra crianças e adolescentes? Pior de tudo é que a grande maioria desses registros parte de pessoas conhecidas desses jovens. Ao contrário do que acontece em via de regra, onde a maioria dos agressores está presente no mesmo lar em que residem suas vítimas, nossas crianças estão sendo atacadas na ida para a escola.

Uma violência deste porte pode gerar traumas em crianças e adolescentes. E esse tipo de abuso está diretamente relacionado ao nível social dos envolvidos. Quanto maior a carência financeira, maior é a presença da violência, embora esta atenda todas as classes sociais. Outro fator que pesa no aumento de agressões passa pela impunidade e o medo de se denunciar. A Justiça tem se posicionado de forma lenta em alguns casos, o que inclusive gera prejuízos ainda maiores. Já o medo parte de quem teme pela fragilidade da Justiça e por consequência uma reação ainda mais violenta por parte dos agressores. As vítimas de hoje criam perspectivas de um futuro negativo e podem ser os agressores do futuro, uma roda que se vicia e preocupa.

O medo da impunidade, no caso específico destas nove crianças, se dá porque os autores da violência sexual também são menores. Tem entre 15 e 17 anos e, mesmo que sofram punições socioeducativas, estarão nas ruas rapidamente, tornam estas crianças vítimas da própria sorte num futuro bem próximo. A situação é complexa e ao mesmo tempo muito delicada.

O Conselho Tutelar precisa prestar o apoio necessário a estas famílias e aos menores que foram abusados sexualmente. O apoio psicológico é o principal, pois o abalo emocional de um menino que é atacado desta forma pode ter consequências irreversíveis futuramente. O abuso sexual é uma ferida que demora a cicatrizar, principalmente quando se trata de um garoto em fase de formação. Nossa legislação precisa ser um pouco mais rígida, já que estes monstros da pedofilia estão aparecendo cada vez mais cedo entre as famílias brasileiras. Alertar só não basta, é preciso punição rígida e severa.