Projeção é que ano tenha registrado um crescimento de 4% em relação a 2021

Em um ano marcado por incertezas em relação ao futuro, polarização política, mudança de governo, crise inflacionária, graves conflitos internacionais e uma queda no poder de compra, o balanço da indústria nacional de móveis e colchões em 2022, em volume produzido, parece ter experimentado uma queda de 12,4% na comparação com 2021. No ano passado, foram cerca de 388 milhões de peças produzidas. Em 2021, foram 443 milhões. Os dados são do IEMI – Inteligência de Mercado, responsável pelo levantamento dos indicadores oficiais do setor.

A receita da indústria de móveis alcançou o montante de R$ 6,1 bilhões em outubro de 2022, aumento de 1,1% sobre o mês anterior. Com o avanço, a queda no faturamento passou para -11,4% no ano. Para o fechamento de 2022, estima-se queda de 4,4% em valores nominais, somando-se aproximadamente R$ 76,3 bilhões em receita na indústria em 2022, frente a R$ 79,8 bilhões em 2021. O valor estimado, porém, é maior do que o alcançado em 2019, ano pré-pandemia, que foi de R$69,9 bilhões.

Panorama no Estado

Com relação ao estado do Rio Grande do Sul, a projeção é semelhante ao panorama nacional, conforme a Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), com base em dados da Sefaz e estudos de mercado. Com avanço previsto de aproximadamente 4% em relação ao ano anterior, a estimativa do faturamento é de R$ 11, 6 bilhões em 2022.

Segundo a Movergs, atualmente o setor moveleiro gaúcho é composto por 2.409 empresas que geram 37.745 empregos diretos. Juntas, essas indústrias representam cerca de 14,3% do faturamento brasileiro, posicionando o estado como um dos mais importantes para o segmento nacional. Com ótima aceitação no mercado externo, os móveis produzidos no RS são exportados para 105 países – sendo Estados Unidos, Uruguai, Chile, Peru e Reino Unido os cinco principais compradores – e movimentaram US$231,9 milhões de dólares entre janeiro e novembro de 2022.

O ex-presidente da Movergs, Rogério Francio, avalia o desempenho como positivo, especialmente em um ano marcado por instabilidade econômica e política. “Sempre vão existir dificuldades de diferentes ordens no mundo dos negócios. Tivemos um 2022 de incertezas e assim tende a ser o início de 2023, até que o mercado se reacomode. Mas tenho certeza de que os empresários moveleiros gaúchos vão saber lidar com as adversidades e encontrar oportunidades para continuar crescendo”, comenta.

Foto: Augusto Tomasi

Expectativa para 2023

O atual presidente da Movergs, Euclides Longhi, que assumiu a entidade para o biênio 2023/2024, aponta que uma boa perspectiva para o ano que se inicia. “Baseado nas análises dos nossos consultores econômicos e em palestras apresentadas por especialistas no Congresso Movergs 2022, a estimativa é de que o mercado se reacomode no primeiro semestre de 2023. Claro, isso levando em consideração as ações do novo governo. Já no segundo semestre a perspectiva tende a ser mais otimista, especialmente com a realização conjunta das feiras Fimma e Movelsul, que sempre geram ótimos negócios no setor moveleiro. Em termos nominais, a evolução do faturamento do segmento moveleiro pode atingir saldo positivo de aproximadamente 2% a 3%”, projeta.

Especificamente no segundo semestre, a realização conjunta das feiras Fimma e Movelsul (28 a 31 de agosto) é aguardada com entusiasmo pela cadeia moveleira. Maior e principal evento de negócios do Brasil voltado para o setor, terá cerca de 500 marcas expositoras dos mais diversos segmentos, atraindo visitantes qualificados do país e do exterior.

Dados do setor no RS

Empresas: 2.409
Empregos: 37.745
Faturamento parcial (janeiro a novembro de 2022): US$ 231,9 milhões de dólares
Volume parcial de exportações (janeiro a outubro de 2022): US$ 44,8 milhões
Total de exportações em 2021: US$ 75,1 milhões

Polo moveleiro de Bento aponta possível retomada no segundo semestre de 2023

Sindmóveis, entidade que representa as indústrias da região, projeta pequena retração no ano passado

Os efeitos da instabilidade política e econômica global também surtiram efeitos no polo moveleiro de Bento Gonçalves. De acordo com o Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), com base em dados da Secretaria da Fazenda (Sefaz), do portal Comex State e de análises de mercado, a projeção é de que o faturamento gerado pelas mais de 300 indústrias da região encerre o ano com retração nominal de 3,5% em relação a 2021, ficando em torno de R$ 3.1 bilhões. Ainda assim, esse desempenho é 40% maior do que o registrado em 2020 e 55% acima de 2019 (ano que antecedeu a pandemia).

O ex-presidente do Sindmóveis, Vinicius Benini, explica que, possivelmente, a principal razão para a queda de receita foi o mercado externo, cujas vendas de janeiro a novembro de 2022 apresentaram retração superior a 25%. “Atualmente a exportação é uma frente de atuação muito importante para as indústrias do polo, principalmente para o setor não se tornar dependente das condições que o mercado interno impõe. Acontece que países como Chile, Peru e Reino Unido, que são grandes compradores dos nossos móveis, enfrentaram períodos turbulentos em 2022 e reduziram bastante suas compras. Infelizmente toda a cadeia produtiva acaba sentindo esses efeitos de algum modo”, ressalta.

Benini pondera que a base de comparação é muito alta, visto que o ano de 2021 teve índices atípicos de crescimento no faturamento e nas exportações. “Passado o pico da covid-19, que levou muitas pessoas a ficarem em casa e comprar móveis, o mercado mostra que está se reacomodando. Mais uma vez os empresários vão ter que estudar desafios, buscar parcerias, inovar processos e produtos, enfim, fazer a lição de casa para garantirem a solidez dos seus negócios”, comenta.

Foto: Augusto Tomasi

Cenário em 2023

De acordo com a nova presidente do Sindmóveis, Gisele Dalla Costa, as estimativas para 2023 ainda não são exatas, porém projeta-se uma possível retomada. “Comparando com 2020 e 2019, o desempenho de 2022 é positivo em 40% e 55%, respectivamente. Esse olhar é muito importante para entendermos que o setor está retornando aos patamares pré-pandemia. Para 2023, a expectativa é de que a economia e a política se reacomodem, não apenas no Brasil como também em países que são importantes compradores dos móveis produzidos no polo de Bento. No que depender do Sindmóveis, vamos estar ao lado dos empresários para que fortaleçam suas indústrias”, aponta.

Números da Capital do Vinho

Empresas: mais de 300
Empregos: 6.646
Faturamento parcial (janeiro a outubro de 2022): R$ 2,6 bilhões
Faturamento total 2021: R$ 3.226.214.516,51
Faturamento total 2020: R$ 2.231.166.429,91
Faturamento total 2019: R$ 2.012.624.917,76
Volume parcial de exportações (janeiro a outubro de 2022): US$ 44,8 milhões
Total de exportações em 2021: US$ 75,1 milhões

Abimóvel avalia cenário nacional

Quando se trata da Balança Comercial no setor de móveis, esta permaneceu consideravelmente favorável em 2022, apesar da atenuação das exportações no ano, acumulando US$ 634,4 milhões entre janeiro e novembro, o que aponta para um bom fechamento de ano. “Segundo os indicadores apresentados na última ‘Conjuntura de Móveis’, colaborando para um overview das importações e exportações no setor na etapa final de 2022, o Brasil importou cerca de US$ 9,8 milhões em móveis e colchões em outubro, o que representou uma alta de 5,4% na comparação com o setembro. Já no mês seguinte, as importações tiveram queda de 10,1%, atingindo o montante de US$ 8,8 milhões”, aponta o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Irineu Munhoz.

Nas exportações, houve queda de 2,9% em outubro, frente a setembro, quando foram comercializados US$ 65,3 milhões em móveis e colchões brasileiros para o exterior. “Em novembro de 2022, as exportações voltaram a apresentar alta, dessa vez de 2,9% em relação ao mês anterior, atingindo o valor de US$ 67,2 milhões”, analisa.

Número de empresas

Segundo Munhoz, os dados oficiais apontam que o Brasil fechou 2021 com cerca de 18 mil unidades produtivas de móveis em atividade, número semelhante em 2022. “O acumulado de janeiro a outubro do ano passado, contudo, demonstra uma queda de 9,9% no número de pessoal ocupado no setor”, destaca.

Visão sobre 2022

O presidente analisa que o ano passado aponta uma pequena recuperação do segmento. “Apesar do volume estimado de produção de móveis e colchões na indústria nacional durante 2022 estar negativo em relação a 2021, os indicadores dos últimos meses do ano passado apontam leve retomada no ritmo produtivo na indústria moveleira, após um período difícil para o setor, que enfrenta diversos obstáculos internos e externos de ordem econômica e política num mundo que ainda luta contra a pandemia, enquanto vivencia uma crise inflacionária e graves conflitos internacionais. Isso tudo, desencadeando um descompasso na cadeia de abastecimento global e entraves logísticos que encareceram, bem como prejudicaram a produção, além de terem enfraquecido as exportações, que vinham a níveis recordes”, avalia.

Com relação ao mercado interno, Munhoz acredita que as perspectivas iniciais não foram atingidas. “A queda no poder de compra da população e a dificuldade no acesso ao crédito, além de incertezas em relação ao futuro e a demanda reduzida por móveis e colchões contribuem para um fechamento de ano aquém das expectativas tanto na indústria quanto no varejo, após um período bastante aquecido e amplamente atendido no setor em 2021, quando o consumo ainda se mantinha sob efeito do isolamento social e do impacto gerado pelo incremento da renda por meio de benefícios públicos no país”, considera.

Projeções para 2023

Para este ano, a expectativa é de aumento da produção em relação a 2022, que deve saltar de 388 milhões para cerca de 426 milhões de peças, avaliando-se as possibilidades de progressão do mercado diante das condições atuais. Estima-se avanço também no faturamento, indo de R$ 76,3 bilhões para algo em torno de R$ 87,2 bilhões. “A projeção é que a tendência de crescimento se mantenha também em 2024. O que dependerá, obviamente, da reorganização das cadeias de abastecimento globais, da pacificação de conflitos internacionais e, muito importante, das políticas econômicas que serão implementadas pelo novo governo no Brasil e como elas impactarão o problema dos juros, do acesso ao crédito, da inflação, da geração de emprego, entre outros pontos essenciais para a economia e a indústria nacional”, elucida.

Foto da capa: Jeferson Soldi