Se os jovens brasileiros formassem um país próprio, as taxas de homicídio desse país se assemelhariam às das nações com os maiores índices de violência do mundo. Isso foi o que apontou o Atlas da Violência 2019, mapeamento das mortes violentas no país feito pelo Ipea com base em dados de 2017, coletados pelo Ministério da Saúde. Nesta linha, com apoio nos dados dos últimos dois anos, Bento Gonçalves contribuiria significativamente para engrossar as estatísticas populacionais do novo “continente”.

O Brasil registrou 65.602 homicídios no ano retrasado, um aumento de 4,2% em relação ao ano anterior e, o mais preocupante, um número recorde que equivale a 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes – mais do dobro, por exemplo, da taxa de homicídios do Iraque em 2015 (ano mais recente com estatísticas da OMS, a Organização Mundial da Saúde). Já em Bento Gonçalves, o número de assassinatos em 2018 chegou a 53. Neste ano, a marca já alcançou os 48 casos, mantendo a Capital do Vinho dentro do tenebroso título de a cidade mais violenta da Serra Gaúcha. O número de mortes frente ao número de habitantes é um dos mais elevados do estado. E dentre estes, os jovens são maioria. Só nos últimos dias, duas pessoas foram mortas nas ruas da cidade, além de uma terceira vítima, que de acordo com as linhas de investigação, foi baleada por engano durante uma investida criminosa. Bento Gonçalves, o que ocorre contigo?

Desse jeito, Bento Gonçalves deve figurar por um bom tempo no topo da lista do Atlas da Violência do Brasil

Diante de tamanha apreensão, o Conselho Municipal de Segurança Pública já articulou, há algum tempo, ações junto aos poderes públicos estadual e municipal que visem assegurar maior eficiência no combate à violência bento-gonçalvense. Ao governador do Estado, Eduardo Leite, o Consepro reivindicou o acréscimo de efetivo policial com os novos soldados que estão sendo formados pela Brigada Militar do RS – a fim de amparar as forças combativas. Já ao lado da Prefeitura de Bento Gonçalves, a fundação capta apoio para a ampliação do projeto de cobertura eletrônica do município.

Entretanto, mesmo com tantas frentes de trabalho, a verdade é que de boas intenções o inferno está cheio, como já dizia o famoso bordão. A insegurança se dissemina no bojo social. A violência se espraia, a ponto de já se ouvir com naturalidade a assertiva: “mataram ele; deveria estar ligado com o crime”.

É triste constatar que parcela ponderável da sociedade aplaude com entusiasmo a barbárie, esquecendo que ela nos trará menos segurança. O panorama é desolador, e se seguirmos assim, pensando no ostensivo, mas não no preventivo; na eliminação e não na chance de readequação, na intolerância e não na superação de diferenças, mais adolescentes devem encurtar sua vida nas mãos de outros jovens, e o ciclo se repetirá perpetuamente.