Prefeitura afirma ter conhecimento da situação familiar e do bairro, mas não confirma promessas assistenciais a eles

A madrugada que teima em não sair da memória da família Tocantins, quando, em setembro do ano passado, uma enxurrada somada a bueiros entupidos na rua Lídia da Silva Castagnetti, no bairro Juventude, em Bento Gonçalves derrubou o muro da casa e consumiu com móveis. Paulo César Tocantins, 48 anos, Cintia Dalmagro, 39 anos, Helison, 18, Eliab, 9, Emanuel, 12, e Estevam Tocantins, 5, que passaram pelo susto relatam que o nível da água chegou a 2 metros.

De acordo com Paulo César Tocantins, 48 anos, os bueiros estavam entupidos. Ele relembra que “estourou um adutor na parte superior da rua. Veio toda a enxurrada da água só para o bueiro (em frente de casa), aí foi inevitável”. O pai ainda complementa, “cedeu o muro. Minha filha que morava na casa embaixo perdeu todos os móveis. Ela havia ganhado toda a mobília. Outros vizinhos também tiveram muitas perdas. Não foi fácil se recuperar, se reestabelecer. Agora, ainda estamos correndo atrás do prejuízo”, relata Tocantins.

Segundo o morador, na ocasião a prefeitura foi até o bairro para conversar com os cidadãos. “O prefeito Pasin esteve aqui no dia que aconteceu os alagamentos, as enxurradas, mas não foi feito nada. A prefeitura não tem feito nada. Ficou só a promessa”, cobra Paulo César.

Segundo orçamento da família, reforma do muro custa R$ 2 mil. Foto: Lorenzo Franchi

Orçamento

O pai de família relata que uma das promessas do Poder Público era auxiliar com doações de materiais de construção para as reformas. Sem este auxilio, “eu gastaria, no mínimo, uns R$2 mil para deixar tudo “bem feitinho”. Entre materiais para o muro (1,5 metros de altura por 5m de comprimento) e mão de obra. São R$ 800 que um pedreiro me cobrou pela mão de obra. Tudo é muito caro para mim”, disse Tocantins.

Perguntado sobre o orçamento familiar ele foi realista, “com o emprego de montador de móveis, os ganhos se resumem a mil reais mais ajudas de vizinhos e amigos”. Conforme a família são gastos com alimentação, em média, R$ 550 e R$ 400 para a manutenção da casa- água, luz, telefone e internet. De acordo com Toncatins, a família recebe da prefeitura fraldas para diminuir gastos com o filho Estavam, com da Síndrome de Down. O pai ainda disse que “para juntar este dinheiro levaria de dois a três anos”, revela.

Questionado sobre programas e benefícios municipais, o montador relata que as famílias não chegaram a fazer nenhum cadastro, pois “foi dito na ocasião, que eles viriam até nós. Estamos aguardando”, cobra.
Com a aproximação do inverno o cidadão demonstra-se preocupado. “É época de muitas chuvas. Quando chove os vizinhos abrem o bueiro. Corremos o risco de alguém cair ali. Se abre porque se sabe que se der uma enxurrada vai entupir. Temos que abrir mão da segurança, por causa da má infraestrutura da cidade”, lamenta.

Moradores abrem o bueiro para evitar novos alagamentos . Fotos: Lorenzo Franchi.

Posicionamento

A prefeitura de Bento afirma reconhecer a situação do bairro e da família. Segundo o procurador do Município, Sidgrei Spassini “não é permitido aos servidores públicos prometerem auxílio financeiro ou de qualquer ordem que demande recursos públicos, sem a realização de trâmites legais. Desta forma, caso o morador se sinta prejudicado, deverá protocolar um pedido e juntar provas e comprovações que justifiquem a obra para posterior ingresso com processo judicial”, orienta.

Para auxiliar a população, a prefeitura possui programas e projetos de auxílio, cujos benefícios são ofertados à famílias com baixo poder aquisitivo. O ideal é que as famílias compareçam ao CRAS. Sobre o bueiro, a prefeitura reforça que há fiscalizações e atividades de limpezas e manutenção.