Liderança sindical analisa cenário político atual e pontua as mudanças que são necessárias para colocar o país nos eixos

O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SEC-SP), Ricardo Patah, esteve em Bento Gonçalves e na oportunidade visitou a sede do Sistema S de Comunicação. Durante a entrevista, a liderança paulista falou sobre os assuntos que estão em evidência no país. Como dirigente sindical, Patah defende um novo rumo para o sindicalismo brasileiro, incorporando as ideias de cidadania, ética e inovação, e oferecendo oportunidades para aqueles que buscam novas possibilidades no mercado de trabalho. Segundo Patah, gestão, diálogo entre partidos e investimentos profundos na educação deverão ser os eixos norteadores do próximo presidente da República, a fim de melhorar a qualidade de vida da população e eliminar a prática da corrupção que, segundo ele, acabou com o Brasil.

Presidente do SEC-BG, Orildes Lottici integrou a comitiva, junto com Norton Jubelli, presidente do GTRS e Ricardo Patah. Foto: Márcio Possamai

Semanário: Como você avalia a situação do trabalhador em nível nacional, no ponto de vista social, econômico, educacional e na saúde?
Ricardo Patah: O Brasil está vivendo um dos momentos mais críticos, no quesito do emprego, saúde e da relação capital-trabalho. A Reforma Trabalhista foi gerada no intuito de melhorar a possibilidade de empregos e como nós havíamos adiantado, não aconteceu, porque foi uma reforma sem diálogo, sem a participação da sociedade. Foi feito de forma muito pontual para tentar diminuir a capacidade do movimento sindical, eliminando uma série de recursos e ações. O ambiente que o Brasil vive no Congresso Nacional é de um liberalismo extremado, com a flexibilização de conquistas importantes criadas e aprovadas na Constituição de 1988 e querem desconstituir aquilo que muitas pessoas conseguiram oferecer ao povo brasileiro: a condição de cidadão.

Semanário: Quais são as diretrizes que norteiam a UGT, no que diz respeito às reformas que ocorrem no Brasil?
Patah: A UGT é uma central reformista que nasceu há 10 anos, com o intuito de fortalecer e aprimorar o país com as reformas. A primeira delas, inclusive, seria a reforma do Estado. Esse ativismo do Judiciário, esse desencontro entre os Poderes, tem trazido diversos desconfortos para a nossa sociedade, da mesma forma que essa nova configuração do Estado, no sentido de eliminar a vulnerabilidade no âmbito da corrupção. Por mais que tenhamos a Lava-Jato, a impunidade continua avançando, o que nos preocupa. A Reforma Previdenciária também, a UGT é favorável. Nós temos que ter uma previdência em que o princípio da equidade seja para todos, por exemplo, os militares, os servidores. Não pode existir no Brasil gente de primeira e segunda categoria. A própria Reforma Trabalhista: nós achávamos que precisaria haver um melhoramento, mas não da forma como foi feito. A Reforma Tributária é essencialmente necessária, para que todos paguem e paguem menos. O Brasil é um dos países com os maiores tributos do mundo. A UGT vê uma necessidade efetiva num momento de tantas mudanças. É necessário a sociedade estar discutindo, de forma paritária. Numa democracia, é preciso que todas as instituições sejam fortalecidas e no Brasil, de forma totalmente contrária, no momento em que nós estamos vivenciando é para acabar com o movimento sindical.

Semanário: E a questão do desemprego no país? A seu ver, qual é a situação?
Patah: Temos muitas preocupações. Os empregos gerados são precários, na informalidade e a utilização de certos instrumentos, como o trabalho intermitente, tem ocorrido, em alguns casos, como análogo à escravidão. São situações que nos deixam indignados com essa mudança, que não teve a sensibilidade do diálogo. O emprego é o maior patrimônio do trabalhador e uma das maiores preocupações da UGT. Imaginávamos que com a Reforma Trabalhista, teríamos instrumentos à disposição da sociedade para diminuir o impacto do desemprego e, infelizmente, isso não aconteceu. O Brasil tem que ter em sua capacidade a geração de postos de trabalho, em especial, nas áreas de tecnologia. Nós precisamos buscar e compreender essas mudanças para que possamos definir um caminho de geração de emprego com qualidade e alternativas às pessoas estudarem e serem cidadãs.
O aumento que ocorreu nos últimos meses de possibilidades de empregabilidade, são funções, que a meu ver, nem deveriam ser consideradas, pois são de subsistência. Muitos que estão desempregados não têm pão para colocar à sua mesa e se submetem a qualquer tipo de possibilidade para sobreviver.

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Semanário: O ex-presidente Lula foi considerado o representante dos trabalhadores. Hoje, existem novas figuras que possam ser representantes dessa classe?
Patah: Na realidade, o Lula teve a origem no movimento sindical, mas o seu governo foi para toda a sociedade. Na crise de 2008, por exemplo, muitas empresas foram buscar suporte financeiro em bancos oficiais. A meu ver, Lula foi o melhor presidente do nosso país. E não foi só dos sindicalistas, dos trabalhadores. Ele foi o governante dos brasileiros e brasileiras. Tivemos uma série de infelicidades, não há dúvidas e, hoje, na realidade, o movimento sindical tem buscado alternativas de ter uma pessoa para ocupar essa função tão importante, que possua alguns quesitos que considero fundamentais. Não podemos ter ninguém sentado na cadeira presidencial que tenha qualquer indicativo de ilicitudes. A corrupção acabou com o brasileiro. Fomos realmente roubados na educação, saúde e assim por diante. O próximo presidente da República precisa ter uma capacidade de gestão muito forte, que saiba instrumentalizar os recursos de forma ética e muito bem empregados na sociedade, que transite entre a direita, esquerda e o centro, dialogue e busque alternativas de um Brasil melhor. Dar ao nosso país a grandeza que ele merece.

Semanário: Então, acreditas que a corrupção é o principal ponto nocivo ao crescimento do país?
Patah: Com toda a certeza. Nós tivemos três anos totalmente perdidos. Não crescemos. Isso significa que a corrupção continuou nessa ausência de políticas econômicas e sociais. Chegamos a ter 14 milhões de desempregados. Pessoas esfomeadas, que não são consideradas cidadãs. Essas questões, a meu ver, são consideradas as mais graves. O próximo governo precisa focar na educação, na formação. Esses são os quesitos que irão transformar o nosso país. Muitas vezes nós sonhamos, mas não conseguimos estruturar porque não tivemos um ensino que nos capacitasse para isso. Sem uma formação de qualidade sempre seremos um país de terceiro mundo. E o Brasil é muito mais que isso.

Semanário: A corrupção acabou desgastando muitos partidos, tanto de esquerda, centro e direita. Em especial, o PT, por estar no poder há mais de uma década. Como você vê o desgaste do PT no cenário atual?
Patah: Na realidade, todos os políticos estão maculados. Eu vejo nas redes sociais que muitos deles e estão em eventos públicos, aviões e a sociedade tem chamado à atenção, o que é importante. Eu tenho certeza absoluta que não só o PT, mas muitos dos partidos foram envolvidos na questão da corrupção, dessa relação promíscua com as empresas, para ter recursos, a fim de serem eleitos. As reformas Política e do Estado são essenciais para impedir esse tipo de crime. É muito importante que nessas próximas eleições tenhamos esse foco de observância da sociedade.

Semanário: E a ascensão de Jair Bolsonaro?

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Patah: Eu vejo com preocupação, porque eu, em 1964, estudante na PUC, em São Paulo, senti a ausência da liberdade e sei o que a ditadura fez com o nosso país. O Bolsonaro representa muito o que foram aquelas pessoas naquele período e hoje, alguns cidadãos tem feito apologia de uma situação dessas. É muito grave. É fundamental que consigamos colocar com clareza qual é o conceito mais importante para que as pessoas possam ter alternativas de voto. Mas votar nos extremos e naqueles que pregam a violência, realmente me deixa muito preocupado, porque, no caso de Bolsonaro, tendo um indicativo com percentual bastante elevado, significa que uma parte da população não consegue perceber da forma que estou expressando a falta de liberdade que eu vivenciei naquele período.

Semanário: O que motivou sua vinda à Bento Gonçalves?
Patah: O Sindicato dos Comerciários de Bento Gonçalves é um dos mais importantes do Rio Grande do Sul, presidida pela amiga Orildes Lottici e que já havia me convidado para conhecer a cidade, o sindicato e a região. Vim prestigiar pessoas que prestam um serviço atuante na sociedade, em especial aqui em Bento Gonçalves, além de fortalecer os vínculos e ouvir as necessidades e posicionamentos de lideranças sindicais.