Quem fala aqui é o cara dos recados. Este recado, em especial, não tem nenhum endereço certo, mas tem destinatário. Aliás, tem destinatários. Dois jovens que chegaram a idade avançada dos dezesseis anos.

Então, este recado é para vocês dois que estão engatando o namoro agora.

É bem possível que estejam começando a gostar um do outro de verdade.

É bem possível que estejam curtindo tudo um no outro: o tom macio da voz, a maneira como os olhos piscam, o carinho de passagem e até aquela crise súbita de ciúme bobo.

Vocês estão começando a descobrir em si mesmos os sentimentos do querer, do ciúme, da saudade, da insegurança e o mais bonito e valioso de todos os sentimentos, o sentimento do amor.

Agora, uma luz com contornos definidos ilumina o caminho de vocês, porque quando se ama só há um único caminho para os dois. O amor deixa os amantes mais sensíveis para com o mundo que os rodeia, tanto que sofrem ao saber que os detergentes causam dor e sofrimento aos germes.

Mas tomem esse recado a seus modos, pois lhes dou apenas algumas poucas palavras.

Desculpem se estou sendo inconveniente com minhas metáforas, pois sei que a maioria dos jovens torce o nariz para a poesia. Se acharem este recado meloso e sem graça, guarde-o no fundo de uma gaveta qualquer. Talvez um dia o encontrem e então sintam exatamente o que estou tentando dizer a vocês por meio desta crônica.

Permitam contar a vocês como era esse negócio de gostar lá no início dos anos 80.

Via de regra, começava com a troca de olhares em frente à pequena igreja da comunidade.

Se da troca de olhares saísse faíscas, passávamos para a troca de recadinhos e bilhetes perfumados, pelas mãos de uma amiga em comum ou de uma colega de escola.

Mais tarde, diálogos de flores e mensagens de fumaça, à maneira dos índios. Um beijo rápido, como um descuido, roubado em frente ao portão da casa do pai dela. Tremedeira danada nas pernas e a sensação de ter viajado à lua.

A mão, feito a rã saltadora de Mark Twain, tentando pular cima da mão esquiva dela. Essas coisas de namorados ingênuos. A briga durante a missa porque o olho desobediente piscou para a moça do banco do lado. Barba de vinte seis dias, irrigada com lágrimas, tristeza e tragédia. Tudo isso, aperitivo que antecedia o noivado.

Pois era assim a fase do namoro do meu tempo, mas já não é mais.

Por isso, vocês devem ter percebido que quem fala aqui é um cara pré-histórico em assuntos do coração.

Pouco importa, porém como era o namoro daquela época. O recado, portanto, é para vocês dois. Se amem e se aceitem. Se gostem e se respeitem. Faltou o respeito em um relacionamento, acabou tudo. Imaginem uma camisa tão encardida de manchas que nenhum chinês consegue destruí-las por completo. Não permitam que a água turve, porque demora muito a ficar novamente límpida.

Por fim, só quero dizer que só há uma forma de não sentir os pés no chão que é quando se está caminhando de mãos dadas com a pessoa amada. Ok

 

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