Corporação faz alerta para os sinistros, que se tornam cada vez mais comuns no município, principalmente nesta época do ano, em que o calor se sobressai e o tempo seco facilita a propagação do fogo

O ano de 2023 já inicia com um alerta do Corpo de Bombeiros Militar de Bento Gonçalves, que destaca a elevação de queimadas em áreas de matagal da região. Segundo a corporação, de novembro de 2020 a abril de 2021 aconteceram 84 registros desse tipo, enquanto no mesmo período, de 2021 a 2022, foram 238 incidentes. Essa estatística representa um aumento de 183% do sinistro, que causa estragos diretos e indiretos aos cidadãos.

Em 19 de dezembro do último ano, os bombeiros realizaram uma reunião em conjunto com o Pelotão Ambiental da Brigada Militar e Secretaria do Meio Ambiente. O foco da reunião era estabelecer ações necessárias para reduzir a estatística em vigente crescimento. Além da divulgação para conscientizar os bento-gonçalvenses, a corporação também irá compartilhar as ocorrências com os órgãos públicos, para que novas estratégias sejam criadas.

Segundo os bombeiros da Capital do Vinho, as estiagens também são um empecilho para as ações contra as queimadas, já que os baixos níveis de reservatórios prejudicam no combate às chamas. Esse tipo de sinistro também faz com que a água fique ainda mais escassa, pois cerca de 500 mil litros são utilizados anualmente para esse problema.

Queimadas em alta

O comandante do Corpo de Bombeiros de Bento Gonçalves, major Márcio Müller Batista, esclarece em entrevista ao Semanário, que o La Niña é um dos fatores que favorecem o fogo em matas. “Com o fenômeno, decorre redução do índice pluviométrico no período, elevação nas temperaturas e redução da umidade relativa do ar. Condições que favorecem o surgimento de focos e sua propagação”, define.

Ele também faz um alerta para as queimadas que iniciam por descuido dos cidadãos. “Cabe ressaltar a cultura da utilização do fogo na limpeza de terrenos e queima de lixo. Bem como, objetos jogados de veículos a margem de rodovias, principalmente bitucas de cigarro, que aliadas ao clima acabam por promover incêndios”, salienta. No caso de chamas propositais em vegetação, a multa pode chegar a R$ 1 mil por hectare queimado, de acordo com o artigo 41 da lei 9605/98.

Calor e clima seco beneficiam o alastramento de chamas em áreas de vegetação

Foto: Reprodução

Perigos do fogo

Segundo o comandante, Bento possui um agravante em relação as queimadas, por conta de sua topografia serrana. A formação geológica acelera a propagação de incêndios em vegetação, causando prejuízos econômicos, ao atingir plantações, e ambientais, ao danificar a fauna e a flora local. A terra também sofre com isso, pois as chamas fazem com que o solo perca a capacidade de reter umidade, ou seja, fica mais seco e deixa de absorver corretamente a água da chuva.

Além dessa particularidade da região, existem outros riscos que Batista define como diretos e indiretos quando essas situações ocorrem. “No caso de incêndios em rodovias ocorre a diminuição da visibilidade, podendo ocasionar acidentes. Em incêndios na vegetação existe o risco da propagação para residências, ocasionando riscos à vida e patrimônio alheios” alerta.

Somente a fumaça de uma queimada já traz riscos à saúde humana, como problemas respiratórios por inalar o gás tóxico, que com o tempo pode influenciar no desenvolvimento de bronquite, asma, infecções, entre outras doenças. Aqueles que ficam expostos, ainda podem sofrer com problemas no coração e sistema nervoso, náuseas, dores de cabeça, conjuntivite, alergias, intoxicações e, até mesmo, maior ocorrência de câncer.

Trabalho dos Bombeiros

A atuação do Corpo de Bombeiros inicia muito antes do combate às chamas, conforme explica o comandante. Os agentes realizam campanhas educativas em diversos ambientes para fomentar a prevenção de incêndios em vegetação. O foco é conscientizar a população para que ao menos uma parcela dos sinistros deixe de ocorrer.

Com a chegada do verão, a corporação atende cerca de três ocorrências de queimada por dia, conforme destaca Batista. “É importante mencionar que no ano de 2022 o Corpo de Bombeiros precisou usar 500 mil litros de água potável para combater incêndios, que em grande parte poderiam ter sido evitados”, reforça.