O vinho servido na taça é o último estágio do produto, entenda como as uvas são cuidadas até chegar lá

O vinho é o grande charme de Bento Gonçalves, aquele que faz com que pessoas do Brasil todo façam questão de vir até o município degustar a bebida dos deuses, feita com as mais diversas uvas. Entretanto, há todo um trabalho por trás das garrafas e até mesmo das frutas, para que elas se tornem perfeitas para o produto final. A viticultura é quem cuida das uvas desde que são apenas sementes minúsculas, um trabalho que dura o ano todo, porque há diversos ciclos a serem vencidos para que a fruta, em seu estágio final, esteja perfeita e saborosa.

Os produtores são os heróis da primeira etapa do vinho, aqueles que cuidam do solo, das folhas e de cada fruta que ao longo do tempo, vai crescendo e se fortalecendo. Rogério Marini é viticultor há 30 anos e explica qual estágio está a produção nesta época do ano. “Então, agora a gente faz a pré-poda, tira a parte velha da frente e deixa o galho bom, para depois quando faz a poda seca. O processo é feito todo manualmente, não existe máquina para isso, tudo na mão”, comenta. O dia a dia é puxado e a rotina cansativa, mas significativa. “Acorda de manhã, vai para as parreiras, volta e almoça, vai para as parreiras, e assim vai o dia todo”, relata Marini.

O processo da plantação até a colheita é demorado e trabalhoso, pois diversos cuidados são necessários para a safra da uva vir perfeita. “A pré-poda vai de maio a julho, e lá por 20 de julho a gente inicia a poda definitiva. Aí depois é feita a amarração, após tem o tratamento, em seguida a começa a desfolha, e posteriormente amarra as parreiras e aí vem a safra de uva, que é quando colhe. A gente começa a botar a mão com vontade quando inicia a poda definitiva e só termina lá pelo dia 30 de janeiro”, ressalta Marini.

Além do mais, ele acrescenta o que pode dar errado se os procedimentos corretos não forem devidamente feitos. “Se não respeitar, tudo fica fora, ela não brota direito, ou brota mal. Ou fica uma safra desparelha, um broto está mais adiantado, um está mais atrasado. Vai amadurecer antes e aí é só problema”, finaliza Marini.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Cedenir Postal, explica quais os cuidados iniciais antes da pré-poda e depois. “Tem que trocar os postes que estão podres, fazer as análises de solo, correção se necessário, tratamentos de inverno e já preparar para a poda. Em alguns casos uns produtores já começaram a poda, outros já começam a amarrar. E o mês que vem já começa a poda definitiva, final de julho e início de agosto”, orienta.

O presidente ainda conta como o sindicato auxilia estes produtores. “Nós temos um engenheiro agrônomo que atua junto do sindicato. Se precisar de orientações, nós encaminhamos a terra para análise de solo. Nós fazemos também os projetos se alguém tem que implantar um parreiral novo, reforma também, isso nós auxiliamos”, relata o presidente.

Além do Sindicato, outra instituição que auxilia estes trabalhadores é a Emater, que funciona em Bento Gonçalves desde 1956. São diversas as funções atribuídas a organização, desde cuidados de solo até o de pragas. Thompsson Didone, chefe do escritório, explica sobre o processo. “A gente atua na área de recomendações técnicas, também na questão do incentivo que existe hoje na prefeitura municipal de melhoria da fertilidade do solo, então encaminha as amostras de solos para UFRGS e para a UCS, e a Universidade faz a interpretação dos resultados, faz todas as recomendações. Também, na questão de doenças e tratamentos, para o agricultor que nos procura, nós fazemos a identificação e as recomendações de controle de pragas e doenças”, comenta.

Outra função que a instituição auxilia, é na parte de financiamentos, o chefe do escritório relata. “A Emater então, com relação à vitivinicultura, elabora projetos de crédito para os agricultores que querem acessar financiamento, seja na linha de Pronaf ou em outros tipos de investimento. Além disso, a Emater é a entidade que faz os projetos para o programa municipal de incentivo à produção de uvas de qualidade superior, então o agricultor que queira acessar este benefício faz o projeto conosco, nós vamos até a propriedade, faz as recomendações, elabora o projeto e põe em aprovação no conselho da agricultura”, finaliza Didone.

Foto: Renata Carvalho