Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que entre 2020 e 2030, caso não sejam aplicadas novas práticas para incentivo de exercícios, cerca de 500 milhões de pessoas devem desenvolver doenças cardíacas e obesidade

Na última semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório com o status global sobre atividade física. Conforme os dados, entre 2020 e 2030, caso não sejam aplicadas novas práticas para incentivo de exercícios, cerca de 500 milhões de pessoas devem desenvolver doenças cardíacas, obesidade, entre outras, por conta do sedentarismo.

De acordo com o cardiologista, Giovanni Zattera Sganzerla, uma rotina regular de exercícios físicos já se provou benéfica em diversos aspectos da saúde. “Existem evidências que sugerem que um estilo de vida sedentário pode ter um impacto tão grande, ou até maior, para mortalidade que outros fatores de risco já conhecidos como tabagismo, hipertensão arterial ou diabetes”, explica.

O médico considera que além da redução da mortalidade geral, quem possui uma rotina estruturada de exercícios físicos tem menor risco de desenvolver diabetes, de ser acometido por um infarto ou por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) além de ter menor risco de desenvolver alguns tipos de câncer, como de mama, intestino, rim, pâncreas, entre outros.

Sobre os dados apresentados pela OMS, ele salienta que não são todos os fatores de risco cardiovasculares que podem ser modificados. “Mas o sedentarismo, com certeza, é um deles. Assim sendo, a ausência de uma rotina estruturada de exercícios físicos é algo a ser combatido em toda avaliação cardiológica, porém, não deve se restringir a estes profissionais”, recomenda


Para Sganzerla, os benefícios à saúde dos exercícios físicos são amplamente conhecidos. “Assim sendo, é dever de toda a sociedade garantir que essa informação chegue de maneira efetiva às pessoas, só assim poderemos modificar essa escalada de doenças relacionadas à inatividade física”, salienta.

O cardiologista salienta também que qualquer forma de exercício é melhor que a ausência deles, mas existe uma maneira conhecida para otimizar os resultados, do ponto de vista cardiovascular. “O ideal é uma associação de aeróbicos de intensidade moderada a intensa, como caminhadas, corridas, andar de bicicleta com exercícios que envolvam força muscular”, aconselha.

Tendo como objetivo reduzir o risco cardiovascular, o médico explica que são os exercícios aeróbicos que possuem o maior benefício. “Vale ressaltar que é necessário realizar uma avaliação e permanecer em acompanhamento com um profissional capacitado, a fim de estabelecer a frequência, a intensidade, a duração e o tipo de exercício que melhor se adapta a cada pessoa”, expõe.

Conforme Sganzerla, deve-se entender que em nenhuma idade o sedentarismo é aconselhável, por isso, é na infância que é preciso começar a desenvolver boa parte dos hábitos que vão permanecer por toda a vida. “Diversas sociedades internacionais de medicina sugerem que mesmo crianças menores de seis anos devem possuir uma rotina de atividades físicas de, pelo menos, três horas por dia, variando de atividades leves, moderadas e intensas. Os pais e demais cuidadores possuem papel fundamental no encorajamento e estímulo para que elas desenvolvam estes hábitos o mais cedo possível”, realça.

A recomendação de iniciar precocemente também é válida, pois auxilia no desenvolvimento psicomotor adequado das crianças. “É consenso que para um envelhecimento saudável a sua manutenção deve ocorrer ao longo de toda vida. A mensagem é que nunca é cedo demais, ou tarde demais, para começar a se mexer”, valoriza.

Exercícios para o combate à diabetes

O clínico geral e geriatra, André Moschetta, ressalta que o sedentarismo é um dos fatores para o desenvolvimento de diabetes, e que o sedentário é aquele que pratica exercícios em pouca ou nenhuma quantidade. “No Brasil, aproximadamente 50% das pessoas são consideradas sedentárias, sendo mais comum entre aqueles que costumam ficar muito tempo sentados, no trabalho, em casa, e pior dos cenários, em ambos. O diabetes é derivado da má regulação dos níveis de glicose e insulina no corpo, na maioria das vezes derivado de um mau funcionamento conjunto de órgãos e outras estruturas, principalmente pâncreas, fígado, tecido gorduroso, músculos e cérebro. Se há um modo de manter todos eles funcionando bem é através da atividade física”, analisa.

Ele recomenda a prática de caminhadas, hidroginástica, natação, esportes ou academia. “Ou simplesmente levar uma rotina mais ativa, usando mais escadas, ficando menos tempo sentado, são meios de manter os níveis de glicose normais no sangue”, sustenta.

Segundo Mochetta, o quadro é preocupante não só entre adultos, mas na infância também. “O que há alguns anos poderia ser chamado de diabetes do adulto, pois ocorria apenas em pessoas após os 20 anos, hoje tem ocorrido em crianças. Isso é um alerta de que algo está muito errado”, adverte.

O geriatra frisa que todas as pessoas querem se cuidar para não sofrer, mas é preciso pensar em até que ponto elas têm tido oportunidade e estímulos para tal. “Temos que mencionar o ambiente, a sociedade, nossa cultura como um todo. São necessárias medidas públicas que envolvam maior estímulo ao movimento físico. Escolas, empresas, instituições públicas, locais que reúnam grande número de pessoas, precisam implantar uma mentalidade de que quanto mais movimento físico, maior o benefício para todos. Há boas pesquisas científicas mostrando que a prática regular de atividade física diminui o absenteísmo, aumenta o bem-estar e a satisfação com a vida, melhora o desempenho mental e físico, somando a isso a prevenção e o tratamento de doenças, a sociedade toda se beneficiará muito”, respalda.

Conforme o médico, qualquer nível de atividade, desde a simples atitude de ficar menos tempo sentado, auxilia na prevenção de diabetes. Além disso, a vantagem do exercício é diretamente proporcional à sua quantidade e intensidade. “Quanto mais, melhor, desde que não se cometam exageros. Alguns estudos revelaram que praticando sete horas de exercício físico de intensidade moderada, aquele que faz a pessoa respirar um pouquinho mais que o normal e falar com mais dificuldade, há melhoras muito importantes da pressão arterial, do diabetes, do colesterol, dos triglicerídeos e outros”, expõe.

Moschetta diz que vale ressaltar que a prática regular de exercícios é benéfica para melhora do peso, do sono e do estresse. “A dose recomendada, em termos gerais, como orientação para todos, varia com a idade. Para o adulto médio é de somar duas horas e meia por semana de atividade física de intensidade moderada ou equivalentes, distribuídos no mínimo em três dias diferentes. Mas, não é preciso ser rígido a esse respeito, porque caminhar diariamente 30 minutos, ficar não mais que quatro horas sentado ou deitado durante o dia, já ajuda. O importante é se mexer. Para pessoas que possuem doença, ou sedentários a partir dos 30 anos, idealmente essa orientação deve ser discutida com seu médico de confiança”, evidencia.

Para o médico, desde antes de nascer, enquanto um bebê está na barriga da mãe, o sedentarismo já tem um efeito tóxico. “A chance de um sedentário adoecer é tão grande quanto a de alguém que fuma mais de dez cigarros por dia. Isso causa problemas em praticamente todas as partes do corpo, da pele aos ossos, do cérebro ao coração, à imunidade e ao envelhecimento precoce. Os benefícios dos exercícios são tantos que remédio nenhum substitui”, conclui.

Foto: Cleunice Pellenz